A cultura da soja é uma das mais importantes do agronegócio brasileiro, impulsionando a economia nacional e gerando renda para milhares de produtores em todo o país. No entanto, a produtividade dessa cultura enfrenta desafios constantes, como a ocorrência da doença conhecida como mofo-branco, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum

Também chamada de podridão de esclerotínia, essa doença pode ser extremamente danosa na soja, com impacto significativo nas produtividades e rentabilidades das lavouras. 

O texto a seguir oferece um panorama sobre o mofo-branco no Brasil, abordando os sintomas característicos nas plantas e as estratégias de controle adotadas pelos produtores brasileiros. 

Contextualização do mofo-branco no Brasil

O mofo-branco é uma doença fúngica amplamente conhecida entre os sojicultores brasileiros, principalmente em regiões com clima favorável ao desenvolvimento do patógeno. Nas últimas décadas, a incidência dessa doença tem aumentado significativamente, representando uma ameaça constante à produtividade das lavouras de soja no país. 

As perdas causadas pelo mofo-branco podem ser muito variáveis, dependendo das condições climáticas da safra, das práticas de manejo adotadas, das espécies vegetais cultivadas e do histórico da área.

Em algumas regiões, a intensificação do cultivo da soja em sucessão a outras culturas hospedeiras, como o feijão e o girassol, tem aumentado a pressão de inóculo nas áreas de cultivo. Esse contexto reforça a necessidade de um manejo integrado de doenças para controlar o mofo-branco e minimizar os prejuízos.

Sintomas do mofo-branco na soja

Apesar dos sintomas do mofo-branco na soja poderem ocorrer tanto no estágio vegetativo quanto no reprodutivo, a fase de floração é o momento mais crítico e suscetível da planta à contaminação pelo fungo.

Comumente, a contaminação pelo mofo-branco se inicia nas flores, e a presença do patógeno nas fases de floração e formação das vagens pode comprometer diretamente a formação e enchimento dos grãos. A produtividade é diminuída e as sementes infectadas são menores e enrugadas.

O fungo se dissemina e se desenvolve principalmente em condições de alta umidade e temperaturas amenas, entre 15 °C e 21 °C, em média. Os principais sintomas incluem:

  1. Manchas aquosas: as primeiras manifestações surgem como manchas encharcadas em diferentes órgãos da planta, em hastes, folhas ou vagens. Essas lesões são inicialmente pequenas, mas se expandem rapidamente, tornando-se marrons e encharcadas.
  2. Mofo-branco: à medida que a doença avança, as lesões desenvolvem um crescimento característico de micélio branco, com um aspecto que lembra uma pluma de algodão cobrindo as partes afetadas da planta. Esse micélio é um sinal claro da presença do fungo Sclerotinia sclerotiorum.
  3. Murchamento e tombamento das plantas: as plantas já bastante infectadas apresentam murchamento, seguido por necrose das hastes. Isso resulta no tombamento e na morte das plantas, o que pode comprometer significativamente a colheita e o rendimento.

Além desses sintomas característicos, em fase mais avançada de desenvolvimento da doença, também é possível observar a presença dos escleródios, que são estruturas de resistência do fungo que se formam no interior de hastes e vagens. Essas regiões com massas escuras e rígidas são responsáveis pela sobrevivência do patógeno no solo e nos restos culturais.

Ciclo de vida do patógeno e formas de contaminação

O fungo Sclerotinia sclerotiorum depende de condições ambientais específicas para completar seu desenvolvimento. O ciclo começa com a germinação dos escleródios, que podem permanecer viáveis no solo por vários anos, aguardando condições ideais para germinação. A germinação dos escleródios ocorre na presença de alta umidade e temperaturas moderadas, resultando na formação dos apotécios, as estruturas que liberam os ascósporos no ar.

Esses ascósporos são disseminados majoritariamente pelo vento e atingem partes sensíveis das plantas, como flores e hastes. A infecção ocorre principalmente através das flores, onde o fungo encontra condições propícias para se desenvolver.

Após a infecção, o fungo invade os demais tecidos da planta, causando os sintomas característicos. A doença se espalha rapidamente em condições de alta umidade, especialmente em áreas com cobertura densa de vegetação.

Condições climáticas favoráveis

O mofo-branco é uma doença altamente influenciada pelas condições climáticas. As temperaturas amenas, aliadas à alta umidade relativa do ar e à presença de chuvas frequentes, são ideais para o desenvolvimento do fungo. Em regiões onde essas condições são comuns, a doença se torna uma ameaça constante, exigindo atenção redobrada dos produtores.

A umidade excessiva no dossel da cultura é um dos fatores mais críticos para a infecção. Plantios muito adensados, com espaçamento reduzido entrelinhas, aumentam a retenção de umidade, criando um microclima propício para o desenvolvimento do mofo-branco.

Danos causados pelo mofo-branco

Os danos do mofo-branco nas lavouras de soja podem ser bastante agressivos. Em casos severos, a doença pode causar perdas de mais da metade da produção, comprometendo a rentabilidade da safra. Além da redução direta no rendimento, o mofo-branco afeta a qualidade dos grãos, que podem apresentar escleródios e micélios do fungo, inviabilizando a comercialização.

Os prejuízos financeiros não se limitam à safra afetada. A presença de escleródios no solo aumenta a pressão de inóculo para as safras subsequentes, sendo necessário estar atento ao manejo da doença nos anos seguintes.

Além disso, o mofo-branco pode comprometer a viabilidade de futuras culturas, uma vez que o patógeno pode se hospedar em diferentes espécies vegetais, como feijão, girassol e algodão. Esse cenário exige do produtor uma atenção especial no planejamento agrícola, que deve fazer uso das diferentes estratégias do Manejo Integrado de Doenças (MID)

MID para controle de mofo-branco na soja

Essa estratégia é essencial para o controle eficaz do mofo-branco na soja, pois combina diversos métodos que atuam de forma conjunta para minimizar os impactos da doença. 

Ao integrar práticas culturais, químicas e biológicas, o MID visa promover um ambiente menos favorável ao desenvolvimento do fungo Sclerotinia sclerotiorum e reduzir a dependência a um único método de controle.

Sempre fazendo uso do monitoramento contínuo da área, o MID não só é capaz de controlar o mofo-branco de maneira mais eficiente, como também de conservar os recursos naturais e promover o equilíbrio do agroecossistema, possibilitando rentabilidade e longevidade na cultura da soja.

Monitoramento e identificação precoce

O monitoramento constante da lavoura é uma prática indispensável no manejo do mofo-branco. A identificação precoce dos sintomas e a detecção de escleródios na área cultivada permitem que o produtor adote medidas de controle de forma satisfatória, evitando a disseminação da doença.

O monitoramento por inspeção visual das plantas deve ser intensificado durante o período reprodutivo da soja e quando as condições climáticas são mais favoráveis ao desenvolvimento do fungo. Além disso, o histórico da área deve ser considerado no planejamento do manejo, priorizando áreas com maior risco de incidência. 

A importância do controle químico preventivo 

No contexto do manejo do mofo-branco, o controle químico preventivo desempenha um papel fundamental, especialmente em regiões onde a doença é recorrente. Nesses casos, a aplicação de fungicidas deve ser realizada de forma preventiva, ou seja, antes do surgimento dos sintomas visíveis.  

Essa técnica é importante porque, uma vez que o mofo-branco infecta a planta, o controle curativo se torna muito difícil e menos eficaz. Portanto, a prevenção é a forma ideal de manejo, minimizando posteriormente a necessidade de intervenções mais intensivas e caras. No entanto, para um controle mais completo do mofo-branco, é importante considerar e fazer uso das demais ferramentas de controle do MID.

Métodos de controle do mofo-branco

O controle efetivo do mofo-branco requer uma análise integrada, combinando diferentes métodos, para reduzir a incidência do patógeno e minimizar os danos. Entre as principais estratégias adotadas pelos produtores, destacam-se os controles cultural, biológico e químico.

Controle cultural 

O fungo S. sclerotiorum é capaz de se hospedar em diferentes espécies vegetais. Dessa forma, o produtor deve estar atento em implementar uma rotação de culturas com espécies não hospedeiras, como milho e sorgo, e a utilização de plantas de cobertura também não hospedeiras do fungo, como gramíneas de inverno, para reduzir a população de escleródios no solo.

Importante destacar, também, que diversas plantas daninhas podem ser hospedeiras desse fungo, como o picão-preto e do caruru. Isso exige ainda mais atenção do produtor, pois essas plantas voluntárias, que muitas vezes não estão dentro da lavoura, mas às margens do cultivo, podem ser uma grande fonte de inóculo para a doença na safra de soja. 

Além disso, o manejo da densidade de plantio da soja e o aumento do espaçamento entrelinhas são práticas que ajudam a melhorar a ventilação no dossel da planta, reduzindo a umidade e, consequentemente, a infecção pelo fungo.

Considerando a umidade nas plantas, o manejo da irrigação também pode ser outra ação complementar ao controle de S. sclerotiorum. Irrigações excessivas podem facilitar o desenvolvimento do patógeno, se ele já estiver presente na área. 

Outra importante escolha a ser feita é a optar por cultivares de soja que tenham uma arquitetura de planta que desfavoreça o ambiente propício para o patógeno. Cultivares que fecham as entrelinhas muito rapidamente podem criar um microclima favorável para o desenvolvimento do fungo em estágios ainda iniciais da soja.

A prática do plantio direto com manutenção da palhada também pode ser uma grande aliada no controle de S. sclerotiorum. A palhada sobre o solo forma um importante impedimento físico, dificultando a disseminação do fungo presente no solo para as partes aéreas das plantas, uma vez que a maior parte da contaminação ocorre com a disseminação dos ascósporos pelo vento.  

Controle biológico

O controle biológico tem ganhado destaque como uma alternativa sustentável para o manejo do mofo-branco.

Fungos chamados de antagonistas, como Trichoderma spp., Coniothyrium minitans e Clonostachys rosea, têm sido utilizados para reduzir a população de escleródios no solo. Esses agentes biológicos, quando aplicados em áreas contaminadas pelo fungo causador do mofo-branco, são eficazes em diminuir a capacidade de sobrevivência do patógeno.

O uso contínuo de agentes biológicos pode contribuir para o equilíbrio natural do agroecossistema, promovendo a saúde do solo e a biodiversidade. No contexto do MID, o controle biológico complementa as práticas culturais e químicas, aumentando a eficácia do manejo do mofo-branco na soja, garantindo maior durabilidade dos métodos de controle e preservando a produtividade das lavouras a longo prazo.

Controle químico

O uso de fungicidas é uma ferramenta importante no manejo do mofo-branco, especialmente em áreas com histórico da doença. A aplicação de fungicidas deve ser realizada de forma estratégica, priorizando o uso preventivo durante o estágio de florescimento da soja, que é o período mais crítico para a infecção. 

Um ponto fundamental no controle químico é a rotação de moléculas com diferentes modos de ação, uma prática essencial para evitar o desenvolvimento de resistência do patógeno aos fungicidas. Alternar produtos com diferentes mecanismos de ação ajuda a preservar a eficácia dos tratamentos ao longo das safras.

A dose recomendada de fungicidas deve ser seguida rigorosamente conforme as orientações técnicas, pois sub dosagens podem não controlar eficazmente a doença, enquanto doses excessivas podem gerar custos desnecessários. 

O intervalo de aplicação é outro fator de importante atenção, que deve ser ajustado conforme as condições climáticas e o nível de infestação, garantindo que o controle seja mantido ao longo do ciclo da soja.

Além da escolha do produto e da dose correta, a tecnologia de aplicação é um componente essencial para o sucesso do controle químico. O uso de pulverizadores bem calibrados, com pontas de pulverização adequadas e ajustes precisos de pressão e vazão, assegura uma cobertura uniforme das plantas, especialmente nas flores e hastes, que são os pontos mais suscetíveis à infecção pelo mofo-branco. 

A aplicação em horários com menor incidência de vento e altas temperaturas também é recomendada para evitar perdas por deriva e evaporação, garantindo que o produto atinja efetivamente o alvo. 

O mofo-branco na soja é uma doença que exige atenção redobrada dos produtores devido ao seu potencial de dano e à dificuldade de controle. As estratégias de manejo devem ser integradas e baseadas no conhecimento aprofundado do ciclo de vida do patógeno, das condições climáticas favoráveis e das práticas culturais adequadas.

O manejo integrado, que combina controle cultural, químico e biológico, é a ferramenta mais eficaz para reduzir a incidência do mofo-branco e garantir a sustentabilidade da produção de soja. Além disso, o monitoramento constante e a identificação precoce da doença são passos essenciais para evitar grandes prejuízos.

O uso correto dos fungicidas, com foco no controle preventivo e na rotação de moléculas, é crucial para atingir um controle satisfatório do fungo e preservar a eficácia dos produtos químicos disponíveis. Com uma gestão eficiente e informada, é possível minimizar os impactos do mofo-branco e assegurar a produtividade das lavouras de soja.

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