O uso de fungicidas na agricultura brasileira é uma prática essencial para o manejo eficiente de doenças fúngicas que afetam diversas culturas, como soja, milho, trigo, algodão e café. Esses produtos desempenham um papel estratégico na proteção das lavouras contra fungos, promovendo maior produtividade e qualidade nas safras.
No cenário agrícola do país, em que as condições climáticas favorecem frequentemente a proliferação de fungos, o uso correto de fungicidas é determinante para manter a saúde das plantas e a sustentabilidade econômica das lavouras.
Nos últimos anos, os fungicidas evoluíram significativamente, trazendo para o mercado produtos com modos de ação diversificados e mais específicos. Essa diversificação é importante para evitar a resistência dos fungos, possibilitando que o controle seja eficaz em diferentes condições e fases de desenvolvimento das doenças.
Cada modo de ação dos fungicidas atua em determinado processo vital dos fungos. Conhecer esses mecanismos é essencial para produtores e agrônomos, pois isso auxilia na tomada de decisões sobre a rotação e a combinação de produtos.
Classificação dos modos de ação dos fungicidas
O Comitê de Ação à Resistência a Fungicidas (Fungicide Resistance Action Committee – FRAC) classifica o mecanismo ou modo de ação dos fungicidas com base nos modos bioquímicos de ação que afetam os patógenos nas vias de biossíntese das plantas.
Nessa classificação, os fungicidas são organizados em “famílias” ou “classes” que compartilham modos de ação e estruturas químicas semelhantes. Os grupos de modo de ação (A, B, C, D, E, F, G, H, I, M, P) indicam o processo bioquímico específico que o fungicida inibe.
A seguir, conheça os principais modos de ação dos fungicidas, que permitem a eficiência no controle de fungos em diferentes culturas.
A: Metabolismo de ácidos nucleicos
Um dos modos de ação dos fungicidas é a interrupção do metabolismo de ácidos nucléicos nos fungos. Os fungicidas que atuam dessa forma interferem na síntese de DNA e RNA dos patógenos, prejudicando a replicação das células fúngicas.
Sem a capacidade de produzir seus próprios ácidos nucleicos, os fungos não conseguem se multiplicar e acabam morrendo. Esse tipo de mecanismo é especialmente importante em situações em que há uma rápida disseminação da doença na lavoura, pois age diretamente na proliferação dos patógenos.
B: Citoesqueleto e proteínas motoras
Os fungicidas que afetam o citoesqueleto e as proteínas motoras dos fungos impedem o crescimento e a estruturação celular dos patógenos, além de prejudicar a divisão e multiplicação celular.
Quando os fungicidas interferem nessa estrutura, a célula fúngica perde sua integridade e não consegue se manter ativa. Esse mecanismo de ação é eficaz contra fungos que dependem do citoesqueleto para invadir e colonizar as plantas, representando uma ferramenta valiosa para o controle de doenças em fases iniciais.
C: Respiração
Os fungicidas com ação sobre o processo de respiração dos fungos inibem a produção de energia nas células dos patógenos. Esses produtos bloqueiam etapas específicas da respiração celular, privando o fungo de energia essencial para suas atividades biológicas, a substância chamada ATP (adenosina trifosfato).
Sem energia, o patógeno é incapaz de se reproduzir e se disseminar na planta. Esse modo de ação é bastante utilizado para o controle de diversas doenças fúngicas, sendo eficaz em várias culturas e em diferentes condições ambientais.
D: Síntese de aminoácidos e proteínas
A síntese de aminoácidos e proteínas é outro alvo dos fungicidas, que atuam impedindo a produção de componentes essenciais para o funcionamento das células fúngicas. Esses fungicidas interrompem o processo de formação de proteínas, bloqueando a capacidade do fungo de crescer e se reproduzir.
Esse mecanismo de ação é importante para o manejo integrado de doenças, pois atua de forma seletiva, evitando que o fungo complete seu ciclo de vida sem prejudicar as plantas.
E: Transdução de sinais
A transdução de sinais é um processo pelo qual as células fúngicas detectam e respondem a estímulos externos, como a presença de nutrientes ou condições ambientais desfavoráveis. Fungicidas que interferem nesse processo impedem que o fungo detecte e responda ao ambiente, dificultando sua adaptação e sobrevivência.
F: Síntese ou transporte de lipídeos e integridade da membrana
Os fungicidas que agem sobre a síntese ou transporte de lipídeos afetam a estrutura da membrana celular dos fungos, comprometendo sua capacidade de proteger e nutrir a célula. Esses produtos impedem a formação de lipídeos essenciais para a integridade da membrana, tornando-a frágil e vulnerável.
Como resultado, o fungo é incapaz de sobreviver e se disseminar pela planta. Esse mecanismo é bastante efetivo para controlar doenças que atacam as partes aéreas das plantas, como folhas e hastes.
G: Biossíntese de esteróis em membrana
Os esteróis são componentes essenciais da membrana celular dos fungos, proporcionando estabilidade e funcionalidade às células. Fungicidas que interferem na biossíntese de esteróis comprometem a formação da membrana, levando à morte celular.
Esse modo de ação é bastante utilizado no controle de doenças foliares e em culturas suscetíveis a fungos de membrana sensíveis, sendo uma opção de tratamento eficaz para uma ampla gama de culturas.
H: Biossíntese da parede celular
A parede celular dos fungos é uma estrutura protetora essencial para a sobrevivência do patógeno. Fungicidas que inibem a biossíntese da parede celular bloqueiam a formação dessa estrutura, tornando o fungo vulnerável a condições externas e ao ataque de agentes naturais. Esse tipo de fungicida é altamente específico, uma vez que atua diretamente na estrutura celular do patógeno.
I: Biossíntese de melanina na parede celular
A melanina é um componente fundamental na parede celular dos fungos, proporcionando resistência e proteção contra condições adversas. Fungicidas que atuam na biossíntese de melanina impedem que o fungo forme essa barreira protetora, tornando-o mais vulnerável a fatores externos e aumentando a eficácia do controle da doença.
Essa interrupção na produção de melanina enfraquece a estrutura do fungo, dificultando seu desenvolvimento e sua capacidade de infectar as plantas.
M: Produtos multissítios (que atuam em diversos locais)
Os fungicidas multissítios agem em múltiplos pontos dos processos bioquímicos dos fungos, dificultando o desenvolvimento de resistência e proporcionando um controle mais amplo das doenças fúngicas. Ao atuar em diversos locais dentro da célula do patógeno, esses produtos comprometem várias funções essenciais do fungo, como a respiração, a síntese de proteínas e a integridade da membrana celular.
Devido ao seu espectro de ação mais abrangente, os fungicidas multissítios são amplamente utilizados para prevenir o desenvolvimento de resistência e são recomendados para aplicação em situações de alta pressão de patógenos.
P: Indução de defesa da planta hospedeira
Alguns fungicidas possuem a capacidade de estimular as defesas naturais da planta contra a invasão de patógenos. Esse modo de ação, conhecido como indução de defesa, não atua diretamente sobre o fungo, mas ativa mecanismos de defesa internos da planta, como a produção de proteínas antifúngicas e compostos antioxidantes.
Dessa forma, a planta se torna mais resistente e apta a combater infecções antes mesmo que o fungo consiga se estabelecer. Esse mecanismo é especialmente eficaz em programas de manejo integrado de doenças, pois promove uma abordagem mais sustentável e preventiva.
Todos esses mecanismos de ação, embora atuem em locais diferentes no patógeno, exigem que importantes cuidados sejam tomados para permitir que seu efeito seja satisfatório no campo.
A importância do uso correto dos fungicidas
Para alcançar os melhores resultados no controle de doenças fúngicas, é fundamental que os fungicidas sejam aplicados conforme as recomendações técnicas dos fabricantes e com as orientações de engenheiros agrônomos.
A escolha do modo de ação adequado para cada situação, a dose correta e o momento ideal de aplicação são fatores cruciais para o sucesso do tratamento. Além disso, a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação é uma prática recomendada para evitar a seleção de fungos resistentes aos princípios ativos. Por isso, seguir as instruções técnicas e as boas práticas de aplicação é essencial para alcançar a eficácia e a sustentabilidade no uso desses produtos.
Outro aspecto importante para a eficácia do tratamento com fungicidas são as condições meteorológicas no momento da aplicação. Temperatura, umidade e velocidade do vento influenciam diretamente a absorção e a distribuição do produto nas plantas. Assim, escolher o momento certo de aplicação, considerando o clima, é essencial para otimizar o desempenho do fungicida e proteger de forma eficaz as culturas.
Mais uma importante ferramenta é o Manejo Integrado de Doenças (MID). Essa estratégia inclui, entre diversas práticas, a rotação de culturas e a escolha de cultivares adaptadas, que também contribuem para a longevidade das ferramentas de controle e para a proteção das lavouras.
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