A leprose dos citros é uma das doenças mais destrutivas e economicamente importantes para a citricultura no Brasil. A gravidade dessa doença não está apenas na queda de produção, mas também nos elevados custos de controle e na redução da vida útil dos pomares.

A citricultura brasileira enfrenta desafios crescentes devido à propagação da leprose em diversas regiões. Sua rápida disseminação e danos significativos exigem dos produtores um manejo eficiente, integrando diferentes métodos de controle e monitoramento contínuo da lavoura.

A combinação de fatores como o clima tropical do Brasil e a presença do ácaro vetor torna o cenário ainda mais desafiador. Com isso, o controle eficaz da leprose dos citros depende de uma estratégia integrada, utilizando práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e Manejo Integrado de Doenças (MID)

Neste artigo, abordaremos os principais sintomas da leprose dos citros, as características do vírus e do ácaro transmissor, além de discutir as estratégias de controle adotadas pelos produtores.

Leprose dos citros no Brasil: cenário e prejuízos

A citricultura brasileira desempenha um papel fundamental na economia do país, posicionando o Brasil como o maior produtor e exportador mundial de suco de laranja

No entanto, esse setor enfrenta desafios constantes devido à incidência de pragas e doenças que afetam a produtividade das lavouras. Entre esses desafios, a leprose dos citros se destaca como uma das maiores preocupações para os produtores.

A leprose dos citros tem sido relatada frequentemente nas principais regiões produtoras, com impacto severo especialmente nas áreas em que o manejo do ácaro vetor Brevipalpus phoenicis não é realizado de forma adequada. A doença pode provocar danos consideráveis nas plantas, comprometendo a colheita e obrigando os produtores a investirem fortemente em medidas de controle.

O maior prejuízo econômico causado pela leprose está relacionado à redução da produtividade e à perda de qualidade dos frutos. Em áreas com alta incidência, a doença pode comprometer grande parte da safra, resultando em frutos com baixo valor comercial. Além disso, a doença afeta o ciclo produtivo das plantas, obrigando o produtor a renovar pomares de forma prematura, o que gera custos adicionais significativos.

Diante desse cenário, a leprose dos citros se apresenta não apenas como uma ameaça sanitária, mas também como um desafio econômico significativo, que requer esforços conjuntos de produtores, técnicos e pesquisadores para encontrar soluções eficazes e sustentáveis para o controle da doença.

Sintomas da leprose dos citros nas plantas

O vírus da leprose dos citros se restringe às áreas em que o ácaro Brevipalpus phoenicis se alimenta, afetando apenas folhas, ramos e frutos diretamente envolvidos, sem se espalhar pelo restante da planta.

Nas folhas, surgem lesões arredondadas e lisas, visíveis tanto na face superior quanto na inferior, com coloração variando de verde-pálido a amarelo. Em alguns casos, podem apresentar anéis necróticos no centro. Quando a infestação é intensa, essas lesões podem causar a queda prematura das folhas.

Nos ramos jovens, as lesões começam com uma coloração amarelada e, com o tempo, evoluem para uma tonalidade marrom-avermelhada, tornando-se escamosas. Essas lesões podem ser confundidas com as causadas por cancro cítrico. Quando em grande número, levam à morte dos ponteiros e à seca dos ramos.

Nos frutos, as lesões são geralmente rasas e necróticas, distribuídas por toda a superfície. Em frutos ainda verdes, há um halo amarelado ao redor da lesão, que se torna mais escura e pouco deprimida à medida que o fruto amadurece. Em casos de infecção severa, especialmente quando as lesões estão próximas ao pedúnculo, os frutos podem cair prematuramente.

Além dos citros, o ácaro consegue se hospedar em diferentes plantas daninhas, como trapoeraba, guanxuma, picão-preto e mentrasto.

Características do vírus e do ácaro vetor

A leprose dos citros é causada por diferentes variantes do vírus Citrus leprosis vírus (CiLV), um patógeno que se multiplica dentro das células da planta infectada, causando lesões visíveis. O vírus não é sistêmico, ou seja, ele não se espalha por toda a planta, ficando restrito aos tecidos onde o ácaro transmissor está presente. Isso torna o controle do vetor essencial para a contenção da doença.

O ácaro Brevipalpus phoenicis, comumente chamado de ácaro-da-leprose, é o principal vetor do vírus CiLV e desempenha um papel crucial na disseminação da doença. Esse ácaro é um ectoparasita que se alimenta das células epidérmicas das plantas, transmitindo o vírus ao injetar sua saliva durante o processo de alimentação. 

O ácaro da leprose se contamina ao se alimentar de partes da planta infectadas com o vírus, nas fases de larva a adulto. O vírus CiLV-C pode ser transmitido de uma fase para outra durante o desenvolvimento do ácaro, exceto da fase adulta para os ovos, permanecendo em seu sistema circulatório por pelo menos duas semanas.

A transmissão do vírus para a planta ocorre após cerca de uma hora de alimentação pelo ácaro. Quanto mais tempo o ácaro se alimenta da planta infectada, maior é a eficiência na aquisição e transmissão do vírus.

O ácaro possui corpo achatado, setas sensoriais e quatro pares de pernas. As fêmeas possuem coloração alaranjada e manchas no dorso. É dificilmente visto a olho nu devido ao seu minúsculo tamanho de 0,3 mm de comprimento, em média. Esse inseto possui ciclo de vida rápido e alta capacidade reprodutiva, o que favorece sua dispersão rápida em condições favoráveis.

Os ovos são alaranjados, medindo aproximadamente 0,1 x 0,06 mm. Costumam ser encontrados em cavidades e locais abrigados, como lesões de verrugose nos frutos e nos ramos.

O ciclo de vida do Brevipalpus phoenicis é composto por pelas fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. Cada ciclo pode durar de 17 a 35 dias, dependendo das condições ambientais, como temperatura e umidade. Em períodos mais frios, o ciclo tende a ter uma maior duração.

A dispersão do ácaro ocorre principalmente pelo vento, por equipamentos de manejo no campo e pelo trânsito de trabalhadores. Portanto, a prevenção e o controle do vetor exigem medidas que envolvam desde o manejo adequado da lavoura até a inspeção constante de áreas adjacentes, evitando a entrada do ácaro.

Manejo Integrado de Doenças (MID) e Pragas (MIP) no controle da leprose dos citros

O controle da leprose dos citros exige uma estratégia integrada que combine o MID e o MIP. Ambas as estratégias pretendem reduzir os danos causados pela doença de forma sustentável, otimizando o uso de defensivos químicos e priorizando o monitoramento, a prevenção e a adoção de práticas culturais.

Monitoramento e identificação

O monitoramento regular dos pomares é uma das etapas mais importantes no controle da leprose dos citros. Por meio do monitoramento, os produtores podem identificar a presença do ácaro e os primeiros sinais de infecção pelo vírus, permitindo uma resposta rápida e eficaz.

O ideal é que as inspeções sejam realizadas semanalmente, principalmente em períodos de maior risco, como o início da primavera, quando as condições climáticas favorecem o aumento da população do ácaro. 

Além disso, é essencial utilizar ferramentas adequadas para identificar o ácaro, já que sua visualização é difícil a olho nu. Para isso, é recomendado o uso de lupas de aumento durante as inspeções.

No monitoramento, o produtor ou técnico deve priorizar a inspeção no ponteiro, nas laterais e na parte interna da planta, áreas onde geralmente há falhas na aplicação de acaricidas. É importante dar preferência aos frutos com mais de 3 cm de diâmetro, localizados no interior da planta, maduros, temporãos ou com sintomas de verrugose, que são os locais preferidos pelo ácaro para se alimentar e depositar ovos. 

Na ausência de frutos, deve-se inspecionar os ramos nos primeiros 30 cm a partir da ponta, focando em bifurcações, saliências e reentrâncias. Para detectar a presença do ácaro, o inspetor deve examinar toda a superfície do fruto ou do ramo, utilizando uma lupa com lente de dez aumentos.

Controle cultural

O controle cultural inclui práticas que visam criar condições desfavoráveis para o desenvolvimento do ácaro e, consequentemente, reduzir a disseminação do vírus. 

Entre as principais práticas, está a poda regular de ramos secos e doentes, que podem servir de abrigo para o ácaro. A remoção de folhas e frutos infectados também é fundamental para limitar a propagação da doença, assim como a retirada das plantas daninhas hospedeiras da área.

O plantio de mudas sadias adquiridas de viveiros certificados é uma importante forma de prevenção do ácaro ainda na fase de instalação do pomar. A adubação equilibrada é igualmente importante para manter a sanidade das plantas, garantindo que elas estejam menos suscetíveis ao ataque de patógenos.

Outras relevantes medidas incluem realizar o controle da verrugose e do minador dos citros, evitando lesões que possam servir de abrigo para o ácaro e garantir a retirada completa de todos os frutos durante a colheita, sem deixar remanescentes na planta. 

Além disso, é recomendado promover a limpeza e a desinfecção dos materiais utilizados na colheita para impedir a introdução do ácaro em áreas livres da doença e utilizar quebra-ventos com espécies que não sejam hospedeiras do ácaro.

Controle biológico

O controle biológico tem ganhado relevância na citricultura como uma alternativa sustentável ao controle de doenças. É uma técnica de manejo agrícola que utiliza organismos vivos, como predadores, parasitas ou patógenos, para controlar populações de pragas de forma natural. 

Essa estratégia busca manter o equilíbrio ecológico no ambiente, promovendo um cultivo mais saudável e sustentável.

No caso do ácaro, predadores naturais, como ácaros fitoseídeos, ou seja, ácaros predadores, têm mostrado eficiência no controle populacional. Esses predadores atacam as formas jovens e adultas do ácaro, mantendo sua população em níveis baixos.

Controle químico

O controle químico é uma das estratégias mais adotadas no combate à leprose dos citros, especialmente em situações de alta infestação. No entanto, o uso de defensivos químicos deve ser feito de forma criteriosa, integrando o manejo químico ao MID e ao MIP para obter o máximo de eficiência da tecnologia.

O controle com base no monitoramento é o procedimento mais indicado, com aplicações realizadas nos períodos de maior risco de infecção, antes que a população de ácaros alcance níveis críticos. 

Além disso, é fundamental que os produtores realizem a rotação de moléculas dos acaricidas para evitar a seleção de ácaros resistentes aos princípios ativos. A aplicação dos produtos também deve considerar as melhores tecnologias de aplicação para permitir um satisfatório alcance do produto por todas as partes da planta.

Sustentabilidade no manejo da leprose dos citros: a chave para pomares saudáveis

Buscar a saúde dos pomares cítricos frente ao desafio imposto pela leprose dos citros exige uma estratégia integrada e sustentável. O controle eficaz dessa doença passa pela combinação de técnicas de MID e MIP, no qual o monitoramento contínuo, as práticas culturais adequadas, o controle biológico e o uso criterioso de defensivos químicos formam um conjunto de ações indispensáveis.

Ao adotar estratégias de manejo baseadas em monitoramento, além de ações como a rotação de moléculas de acaricidas e a eliminação de possíveis focos de contaminação, os produtores podem reduzir significativamente os prejuízos causados pela doença. 

Além disso, investir em práticas sustentáveis, como o fortalecimento da sanidade das plantas e o incentivo ao controle biológico, contribui para a longevidade dos pomares e para a viabilidade econômica da citricultura a longo prazo.

O compromisso com o manejo integrado, aliado à constante vigilância, é a melhor forma de proteger as lavouras e assegurar que os pomares continuem sendo produtivos e saudáveis, mantendo o Brasil na liderança mundial da produção de citros.