A lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) é uma praga de grande relevância na cultura do milho no Brasil. Sua presença tem causado significativos prejuízos à produção, principalmente devido à sua capacidade de atacar as plantas em seu estágio inicial, comprometendo o desenvolvimento e o rendimento da lavoura.
Embora com características próprias que facilitam sua identificação, e estratégias de controle que vêm sendo aprimoradas ao longo dos anos, a lagarta-rosca segue sendo um desafio constante para os produtores brasileiros.
Neste conteúdo, vamos explorar as principais características dessa praga e os danos que ela pode causar, além de apresentar as condições climáticas que favorecem sua incidência e as diferentes estratégias de controle adotadas, com foco no Manejo Integrado de Pragas.
O cenário da lagarta-rosca no Brasil
A agricultura brasileira tem enfrentado uma série de desafios com pragas, e a lagarta-rosca se destaca como uma das mais preocupantes no cultivo de milho. Essa praga ocorre principalmente em regiões de alta umidade, com uma maior incidência durante as safras de verão.
As perdas causadas pela lagarta-rosca no Brasil podem ser substanciais. Estudos apontam que o ataque dessa praga pode reduzir significativamente a produção de milho em áreas não tratadas. Esse cenário impõe um alerta constante aos produtores, que precisam identificar corretamente a praga na lavoura a fim de adotar medidas eficientes de controle e evitar prejuízos.
Como identificar a lagarta-rosca no campo?
A correta identificação da lagarta-rosca é essencial para que as medidas de controle sejam implementadas a tempo. Os adultos da espécie Agrotis ipsilon são mariposas de coloração escura, com asas anteriores marrom-acinzentadas e asas posteriores de cor mais clara.
Já as lagartas, responsáveis pelos danos diretos às plantas, possuem um corpo cilíndrico de cor acinzentada ou marrom, com manchas escuras distribuídas pelo corpo e aproximadamente 4 centímetros de comprimento quando totalmente desenvolvidas. Quando tocadas ou ao se sentirem ameaçadas, se enrolam, o que deu origem ao nome.
Geralmente encontrada em campos recém-plantados, a lagarta-rosca é conhecida por sua atividade noturna. Durante o dia, as lagartas permanecem enterradas no solo, dificultando a sua detecção imediata.
Danos causados pela lagarta-rosca na cultura do milho
Os danos causados pela lagarta-rosca são particularmente preocupantes no início do ciclo da cultura do milho. As lagartas cortam as plântulas na base ou logo abaixo da superfície do solo, o que resulta em perdas de plantas e falhas na emergência.
A redução da densidade das plantas em função dos ataques da lagarta-rosca compromete o estande da lavoura, diminuindo a capacidade produtiva.
Além disso, o crescimento irregular das plantas sobreviventes prejudica a uniformidade da colheita, impactando diretamente a qualidade dos grãos e, por consequência, os lucros do produtor.
Condições ambientais favoráveis à lagarta-rosca
As condições ambientais têm um papel crucial na incidência de pragas agrícolas e com a lagarta-rosca não é diferente. Locais com umidade alta favorecem o ciclo de vida da Agrotis ipsilon. A praga se torna mais ativa em épocas de chuva, especialmente em áreas com um histórico de infestação.
A lagarta-rosca é uma praga que vive parte de seu ciclo enterrada no solo, principalmente durante o dia. Por isso, solos soltos, ricos em matéria orgânica e com boa umidade são ambientes ideais para seu refúgio e atividade.
A presença de palha no solo, em sistemas de plantio direto, também pode servir como abrigo, oferecendo condições mais amenas e protegendo as lagartas de predadores e variações climáticas extremas.
Controle da lagarta-rosca no Manejo Integrado de Pragas (MIP)
O controle eficiente da lagarta-rosca no milho exige a adoção de diversas estratégias dentro do conceito de MIP, uma prática cada vez mais valorizada pelos agricultores.
O MIP busca otimizar o uso de defensivos agrícolas e combinar diferentes métodos de controle para minimizar a pressão de pragas e preservar o ambiente. Para um efetivo controle através do MIP, é extremamente necessário realizar adequadamente o monitoramento.
Monitoramento e identificação: uma etapa essencial
Uma das práticas mais importantes no combate à lagarta-rosca é o monitoramento constante da lavoura. A identificação precoce da praga permite que os produtores adotem as medidas de controle mais adequadas no momento certo, evitando que o problema se agrave. O monitoramento deve começar logo após a semeadura, com inspeções regulares no campo, principalmente em áreas com histórico de infestação.
O uso de armadilhas luminosas é uma das ferramentas que auxilia no monitoramento da população de mariposas adultas, permitindo que os produtores saibam o momento exato para intensificar as ações de controle. As armadilhas podem ser instaladas em pontos estratégicos da lavoura e seu uso é recomendado para acompanhar a flutuação populacional da praga ao longo do ciclo da cultura.
Além das armadilhas, a inspeção visual das plantas jovens é fundamental. Ao observar danos nas plântulas ou sinais de corte no caule, o produtor deve tomar medidas imediatas para evitar que a lagarta-rosca se espalhe e cause maiores prejuízos.
Controle cultural
Esse método consiste na adoção de práticas agrícolas que modificam o ambiente, tornando-o menos favorável à presença e à proliferação de pragas e é uma das primeiras medidas que o agricultor deve adotar para reduzir a incidência da lagarta-rosca. Entre as técnicas mais eficazes, estão a retirada de plantas hospedeiras e a rotação de culturas.
Retirar da área plantas potencialmente hospedeiras da praga ajuda a interromper seu ciclo de vida, reduzindo as populações de lagartas no solo. A eliminação dessas plantas pode ser feita por meio de capinas manuais ou aplicação de herbicidas seletivos.
Mantendo o campo limpo e livre de plantas hospedeiras, o produtor consegue reduzir significativamente as chances de infestações severas no início da safra de milho. No entanto, é preciso estar atento à diversidade de espécies que a lagarta-rosca pode se alimentar, como soja, trigo e algodão.
A rotação de culturas é outra técnica eficaz no controle cultural da lagarta-rosca. Alternar diferentes culturas em uma mesma área de plantio, especialmente com espécies que não são hospedeiras da praga, ajuda a interromper seu ciclo biológico.
Ao plantar culturas não suscetíveis à Agrotis ipsilon, como leguminosas ou outras plantas resistentes, o ambiente se torna menos propício para o desenvolvimento da lagarta-rosca.
Controle biológico
O controle biológico da lagarta-rosca tem ganhado relevância nos últimos anos. Os inimigos naturais, como vespas e moscas parasitoides, têm se mostrado eficazes no controle das populações de Agrotis ipsilon. Esses insetos atacam os ovos ou as lagartas, impedindo seu desenvolvimento e reduzindo o número de indivíduos no campo.
O uso de parasitoides tem sido uma estratégia cada vez mais adotada em programas de controle biológico, especialmente por ser uma prática sustentável e que auxilia na preservação do equilíbrio ecológico.
Além disso, a liberação controlada desses agentes biológicos no campo pode ser combinada com outras medidas de manejo, tornando o controle da lagarta-rosca ainda mais eficaz.
Controle químico
O controle químico é uma das ferramentas mais eficazes e amplamente utilizadas dentro do MIP no combate à lagarta-rosca.
Dentre as várias opções de controle químico, o tratamento de sementes tem se destacado como uma estratégia preventiva que proporciona benefícios significativos para o manejo da praga, principalmente nas fases iniciais da cultura do milho, quando a planta é mais vulnerável aos danos.
O tratamento de sementes como primeira linha de defesa
O tratamento de sementes consiste na aplicação de inseticidas diretamente nas sementes antes da semeadura. Essa prática oferece uma proteção inicial contra pragas de solo, como a lagarta-rosca, que atacam as plântulas logo após a germinação.
Quando as sementes são tratadas com produtos químicos específicos, a planta adquire uma proteção sistêmica nas primeiras semanas de desenvolvimento. Os inseticidas aplicados nas sementes são absorvidos pela planta à medida que ela cresce, criando uma barreira contra o ataque das lagartas-roscas que se alimentam das partes subterrâneas e da base da planta.
Isso é especialmente importante nas áreas onde a praga tem uma alta incidência e onde a pressão de ataque é maior.
Vantagens do tratamento de sementes
Uma das principais vantagens do tratamento de sementes é a ação preventiva e localizada dos inseticidas. Ao proteger as plantas logo no início de seu ciclo, essa técnica evita que ocorram problemas maiores em fases mais desenvolvidas.
Além disso, o tratamento de sementes é uma prática altamente eficiente em termos de custo-benefício. A quantidade de inseticida aplicada é baixa em comparação com outros métodos de controle, o que reduz os custos com defensivos e a mão de obra necessária para a aplicação no campo.
Por ser uma técnica simples e de fácil implementação, o tratamento de sementes é amplamente adotado pelos produtores, especialmente em grandes áreas de cultivo de milho.
Considerações importantes no uso de tratamento de sementes
Apesar de ser uma ferramenta eficaz no controle da lagarta-rosca, o tratamento de sementes deve ser utilizado de forma criteriosa, seguindo as recomendações técnicas para garantir sua eficácia e minimizar possíveis impactos ambientais.
É essencial escolher produtos específicos para o controle de pragas de solo e respeitar as doses recomendadas para que se obtenha a máxima efetividade de controle da praga.
Outra consideração importante é a rotação de ingredientes ativos, uma prática recomendada no MIP para evitar o desenvolvimento de resistência da praga aos produtos químicos.
A repetição contínua do mesmo inseticida ao longo das safras pode levar ao surgimento de populações resistentes de lagarta-rosca, tornando o controle químico menos eficaz. Por isso, é fundamental alternar produtos com diferentes modos de ação para garantir a longevidade do tratamento de sementes como uma ferramenta viável no manejo da praga.
Aplicações foliares: complementando o controle químico
Além do tratamento de sementes, o controle químico por meio de aplicações foliares é uma estratégia importante para combater a lagarta-rosca, especialmente em estágios mais avançados do ciclo da cultura ou quando há alta infestação.
A aplicação de inseticidas em pulverização a campo visa atingir diretamente as lagartas que já estão em atividade, protegendo a lavoura de danos mais severos. Essas aplicações são mais eficazes quando realizadas no início da infestação, garantindo maior controle e minimizando os danos.
Nessa forma de intervenção química, também valem as mesmas recomendações de boas práticas de uso dos produtos indicadas no tratamento de sementes.
Considerações finais
A lagarta-rosca, apesar de ser uma praga comum no cultivo do milho, pode causar grandes prejuízos à produtividade quando não controlada adequadamente.
Com as condições climáticas e de manejo favoráveis, a Agrotis ipsilon pode se proliferar de forma preocupante, exigindo que os produtores estejam sempre atentos e preparados para agir rapidamente. Dessa forma, o sucesso no combate à lagarta-rosca está diretamente ligado à adoção de estratégias integradas e ao acompanhamento rigoroso da lavoura.
A combinação de práticas culturais, químicas e biológicas dentro do MIP é a forma mais eficaz de reduzir sua incidência e mitigar os danos à lavoura. Além disso, o monitoramento contínuo da área e a identificação precoce da praga são essenciais para que as ações de controle sejam eficientes e bem-sucedidas.
Deixe um comentário