Para sustentar a importante posição do Brasil no cenário global de alimentos, é essencial o uso de tecnologias que permitem alcançar a produtividade e a qualidade das lavouras. Entre essas ferramentas, os inseticidas organofosforados desempenham um papel crucial no manejo de pragas que ameaçam a agricultura brasileira.
Esses compostos químicos têm sido amplamente empregados no país devido à sua eficiência no controle de uma variedade de pragas que atacam culturas como soja, milho, cana-de-açúcar e algodão. A importância dos organofosforados se torna ainda mais evidente diante da necessidade de proteger safras contra infestações que podem comprometer toneladas de alimentos, impactando diretamente a economia e a segurança alimentar.
Além disso, o uso dos organofosforados no Brasil reflete o compromisso dos produtores com o manejo integrado de pragas (MIP). Por isso, é de extrema relevância conhecer as principais informações a respeito dos inseticidas organofosforados, que serão abordados neste conteúdo.
História e relevância dos inseticidas organofosforados
Acredita-se que os pesticidas organofosforados surgiram na década de 1940, mas os principais compostos dessa classe foram amplamente introduzidos entre as décadas de 1960 e 1980. Mesmo com o desenvolvimento de novas classes de pesticidas e a implementação de metodologias alternativas para o controle de pragas, os organofosforados seguem mantendo sua relevância.
O sucesso dos organofosforados como inseticidas deve-se, em grande parte, à sua elevada atividade biológica aliada à relativa instabilidade na biosfera. Essa característica resulta em uma meia-vida de 2 a 10 dias em plantas, tornando-os eficazes para o controle de pragas sem causar impactos ambientais prolongados. Além disso, sua rápida degradação reduz os riscos de contaminação a longo prazo.
Nos últimos 30 anos, os organofosforados têm sido amplamente utilizados como alternativa aos compostos organoclorados, especialmente devido ao seu custo reduzido, síntese relativamente simples e baixa toxicidade para muitos organismos tratados.
Os organofosforados também apresentam vantagens em termos de biodegradabilidade e baixa persistência ambiental. Com uma ação residual limitada, cerca de 80% a 90% dos compostos são eliminados do ambiente em até 48 horas após o contato. Além de sua aplicação na agricultura, esses pesticidas têm importância significativa em usos industriais, domiciliares e ambientais, mostrando-se versáteis em diferentes contextos de proteção e manejo.
O avanço significativo dos inseticidas organofosforados na agricultura, bem como o aprofundamento do conhecimento científico sobre a relação estrutura-atividade desses compostos, teve início com a descoberta do paration por Schrader em 1944.
Esse foi o primeiro produto de uma nova classe de inseticidas revolucionários que continuam em uso até os dias de hoje. Embora o paration apresentasse toxicidade relativa elevada, o desenvolvimento de outros compostos menos tóxicos ocorreu com modificações estruturais mínimas.
Mais tarde, foram criados compostos com toxicidade ainda mais reduzida, como o malation, caracterizado pela presença de um grupo éster carboxílico, e o demeton-S. Ambos os compostos, ao incluir em sua estrutura o grupo tioéter, exibem alta atividade inseticida, consolidando-se como alternativas eficazes e amplamente utilizadas no controle de pragas agrícolas.
Mecanismos de ação dos organofosforados
Os organofosforados são amplamente utilizados como inseticidas devido à sua capacidade de inibir a enzima acetilcolinesterase, essencial no funcionamento dos sistemas nervosos de vertebrados e invertebrados. Esses compostos destacam-se por sua ação de contato e ingestão e atuam principalmente no sistema nervoso, especificamente na junção neuromuscular, onde interagem com a acetilcolinesterase.
Essa enzima tem a função vital de catalisar a hidrólise da acetilcolina em ácido acético e colina, processo que interrompe a transmissão dos impulsos nervosos nas sinapses dos neurônios colinérgicos do sistema nervoso central e periférico. A acetilcolina, um mediador químico crucial para a transmissão de impulsos nervosos em mamíferos e insetos, é essencial para a continuidade desse processo.
Quando a acetilcolinesterase é inibida pelos organofosforados, a acumulação de acetilcolina leva à paralisia muscular e, eventualmente, à morte dos insetos. As moléculas desses inseticidas possuem uma estrutura molecular com um grupamento fosfato que permite um encaixe na enzima acetilcolinesterase, paralisando-a.
Principais compostos organofosforados
Diversos ingredientes ativos do grupo dos organofosforados estão disponíveis no mercado hoje. Entre eles, podemos citar os compostos considerados sistêmicos, ou seja, que são translocados pela planta, como:
- acefato;
- dimetoato;
- dicrotofós;
- clorpirifós.
Entre os considerados organofosforados não sistêmicos, estão:
- malation;
- profenofós;
- dimetoato.
Esses compostos devem ser utilizados pelos produtores de maneira responsável e tecnicamente correta.
Recomendações técnicas no uso de organofosforados
O uso seguro e eficiente dos inseticidas organofosforados depende diretamente da observância rigorosa das recomendações técnicas fornecidas pelos fabricantes. Essas orientações são desenvolvidas com base em estudos científicos e testes que visam a eficácia do produto e a segurança dos aplicadores, do ambiente e do consumidor final.
Entre os aspectos mais relevantes está a aplicação na dose recomendada conforme a bula, fator essencial para evitar subdosagem, que pode levar ao desenvolvimento de resistência em pragas, ou sobredosagem, que pode causar impactos indesejados nos custos de produção.
Outro ponto crucial é respeitar os intervalos de aplicação, que permitem que o controle das pragas seja realizado de maneira sustentável, preservando a saúde das culturas sem exceder os limites de resíduos permitidos. Além disso, o uso correto dos equipamentos de aplicação e a calibração periódica são indispensáveis para permitir a distribuição uniforme do produto nas áreas tratadas.
A rotação de mecanismos de ação também é uma prática fundamental recomendada pelos fabricantes e especialistas. Essa abordagem consiste em alternar inseticidas de diferentes grupos químicos, com modos de ação distintos, para evitar selecionar pragas resistentes. Os organofosforados, quando utilizados de forma intercalada com outros tipos de inseticidas, permanecem eficazes por mais tempo, permitindo uma estratégia de manejo sustentável e eficiente.
Os cuidados com a proteção individual dos aplicadores também são imprescindíveis. O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como luvas, máscaras, óculos de proteção e roupas específicas, é uma exigência que reduz os riscos de exposição ao produto e mantém a saúde dos trabalhadores rurais.
Organofosforados no Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Embora altamente eficientes, os inseticidas organofosforados devem ser utilizados como parte de uma estratégia integrada no MIP. O manejo integrado combina diferentes táticas de controle, como práticas culturais, biológicas e químicas, para maximizar a eficácia e a sustentabilidade do controle de pragas.
No contexto do MIP, os organofosforados funcionam como uma ferramenta complementar, oferecendo uma ação rápida e eficiente contra pragas em situações de alta infestação. Sua eficácia é potencializada quando aliada a práticas como o monitoramento constante das populações de pragas, a rotação de culturas e o uso de inseticidas com diferentes modos de ação para prevenir o desenvolvimento de resistência.
Ao adotar um manejo integrado, os agricultores conseguem proteger suas lavouras de forma mais eficiente, reduzindo os danos causados pelas pragas e minimizando os impactos ambientais. O uso responsável e estratégico dos organofosforados, em conjunto com outras práticas, promove a produtividade agrícola e a sustentabilidade do sistema produtivo a longo prazo.
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