O glifosato é um dos herbicidas mais utilizados no Brasil e no mundo. Desenvolvido inicialmente na década de 1970, ele se tornou uma peça-chave no controle de plantas daninhas, especialmente em culturas agrícolas como soja, milho e algodão. Sua popularidade está associada à eficácia no combate a diversas espécies de plantas invasoras, contribuindo para o aumento da produtividade agrícola.

No Brasil, território em que a agricultura ocupa um papel central na economia, o uso do glifosato é indispensável. O país, como um dos maiores exportadores de grãos, enfrenta desafios constantes no manejo de plantas daninhas que competem por recursos como luz, água e nutrientes. 

Nesse cenário, o glifosato é considerado um aliado crucial para manter a competitividade e alcançar safras de alta qualidade. Conhecer suas características químicas, modo de ação e boas práticas no campo é fundamental para o uso sustentável dessa tecnologia.

A história do glifosato

A história do glifosato começa na década de 1950, quando o químico suíço Henri Martin sintetizou o composto pela primeira vez. No entanto, foi apenas em 1970 que  um cientista da Monsanto, identificou seu potencial herbicida, descobrindo que o glifosato era capaz de inibir uma enzima essencial no metabolismo das plantas.

Lançado comercialmente em 1974 sob o nome Roundup, o glifosato rapidamente ganhou destaque no mercado agrícola devido à sua eficácia, versatilidade e perfil de segurança. Ele se tornou um dos herbicidas mais utilizados no mundo, ajudando agricultores a controlar ervas daninhas de maneira eficiente e econômica.

Nos anos 1990, o desenvolvimento de culturas geneticamente modificadas resistentes ao glifosato – como soja, milho e algodão – impulsionou ainda mais sua adoção. Essas culturas permitiram que os agricultores aplicassem o herbicida diretamente nas plantações, eliminando ervas daninhas sem prejudicar as culturas principais, o que simplificou o manejo e aumentou a produtividade.

O glifosato também desempenhou um papel fundamental no avanço e na popularização do sistema de plantio direto. Por sua ação eficaz no controle de plantas daninhas, o glifosato permite que os resíduos das culturas anteriores permaneçam na superfície do solo, formando uma camada de proteção que reduz a erosão, melhora a retenção de umidade e aumenta a matéria orgânica. Essa tecnologia facilitou a adoção do plantio direto em larga escala, tornando-o uma prática viável e eficiente para os agricultores.

Ao longo das décadas, o glifosato passou por aprimoramentos e análises regulatórias rigorosas em diversos países. Embora tenha enfrentado debates públicos, ele permanece como uma ferramenta essencial para a agricultura, especialmente em regiões como o Brasil, em que o plantio direto e o manejo integrado de plantas daninhas dependem dessa tecnologia.

Composição química do glifosato

O glifosato, quimicamente conhecido como N-(fosfonometil)glicina, tem fórmula molecular (C₃H₈NO₅P), com destaque para a presença de fósforo, um elemento essencial para a ação herbicida. Diferente de outros compostos químicos usados na agricultura, o glifosato não é seletivo, o que significa que ele atua sobre uma ampla gama de plantas, sendo eficiente contra ervas daninhas de folhas largas e gramíneas.

Sua formulação pode variar de acordo com o fabricante, mas geralmente contém sais do glifosato, que podem ser de isopropilamina, amônio ou potássio, além de surfactantes que auxiliam na penetração do produto nas folhas das plantas. Esses aditivos são projetados para maximizar a eficiência do herbicida, permitindo que ele seja absorvido rapidamente e translocado para as partes internas da planta.

A simplicidade química do glifosato é um dos fatores que explicam sua ampla aceitação no mercado. Ele possui baixa toxicidade em comparação com outros herbicidas e, quando usado corretamente, apresenta baixo risco de acumulação no solo e na água. Isso o torna uma ferramenta valiosa para a agricultura sustentável.

Como o glifosato age na planta?

O mecanismo de ação do glifosato é baseado na inibição de uma enzima essencial no metabolismo das plantas, chamada EPSP sintetase. Essa enzima desempenha um papel crucial na via do ácido chiquímico, responsável pela produção de aminoácidos aromáticos necessários para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Ao bloquear a ação dessa enzima, o glifosato interrompe a síntese de proteínas essenciais, levando à morte gradual da planta. 

A absorção do glifosato ocorre em duas etapas: uma fase inicial de penetração rápida por meio da cutícula, seguida por uma etapa de absorção mais lenta. O transporte do herbicida pela cutícula ocorre principalmente por difusão, processo influenciado pelo gradiente de concentração entre a área na qual o produto foi depositado e o interior da planta.

Após a absorção, o glifosato é geralmente translocado de forma rápida pelas plantas. Sua principal via de transporte é o sistema simplástico, embora também ocorra um movimento apoplástico significativo. 

O glifosato segue a mesma rota dos produtos da fotossíntese, como os açúcares, deslocando-se das folhas fotossinteticamente ativas para as regiões da planta que utilizam esses açúcares. Esse processo estabelece uma relação típica de fonte e dreno dentro da planta. 

Seu transporte sistêmico, permite que ele alcance até mesmo as partes mais difíceis de tratar, proporcionando um controle eficaz e duradouro de plantas daninhas.

Como sua absorção é foliar, a recomendação de uso é para controle de plantas daninhas em pós-emergência. Seu uso como pré-emergente não é recomendado, pois suas moléculas ficam fortemente adsorvidas aos coloides do solo, não sendo capaz de agir nas plantas. 

A eficácia da absorção do herbicida pode ser comprometida quando as plantas estão cobertas por poeira. Nesse cenário, as partículas do herbicida tendem a se adsorver às partículas de poeira, dificultando seu contato direto com a cutícula foliar

Além disso, na ausência de aditivos, o glifosato é absorvido de forma mais lenta pelas folhas das plantas daninhas, sendo essencial garantir um período médio de 6 horas sem chuva após a aplicação para que o controle seja eficaz.

Sintomas do glifosato nas plantas 

Após a aplicação do glifosato, os sintomas mais comuns incluem clorose foliar, seguida de necrose. Outros sinais observados nas folhas incluem enrugamento ou malformações, especialmente nas áreas de rebrotamento, além de necrose nos meristemas, rizomas e estolões de plantas perenes. 

Diferentemente de muitos herbicidas de contato, os sintomas causados pelo glifosato se desenvolvem de forma lenta, com a morte das plantas ocorrendo após vários dias ou até semanas. Esse período prolongado de ação está relacionado à alta estabilidade in vivo do glifosato, uma característica fundamental que contribui para seus efeitos fitotóxicos irreversíveis. Nas plantas, o glifosato apresenta uma estabilidade significativa, com pouca degradação detectada mesmo após um longo período.

Fatores que impactam a eficiência do glifosato em plantas daninhas

A eficácia do glifosato no controle de plantas daninhas pode variar significativamente devido a uma série de fatores. Compreender esses aspectos é fundamental para maximizar os resultados e alcançar um manejo eficiente.

  • Espécie-alvo

Diferentes espécies de plantas daninhas apresentam variações na sensibilidade ao glifosato. Algumas espécies podem ser mais suscetíveis, enquanto outras, especialmente plantas daninhas com características específicas, como cutículas espessas ou sistemas radiculares profundos, podem apresentar maior resistência. A identificação correta da espécie é essencial para ajustar a estratégia de manejo e considerar combinações com outros herbicidas, quando necessário.

  • Estádio de desenvolvimento da planta daninha

O estádio de crescimento da planta daninha interfere significativamente na eficiência do glifosato. Plantas jovens e em pleno crescimento geralmente são mais suscetíveis, pois possuem tecidos mais ativos e menos barreiras estruturais para a penetração do herbicida. Por outro lado, plantas em estádios mais avançados, com cutículas mais espessas ou estruturas reprodutivas já formadas, podem demandar maiores doses ou estratégias complementares para um controle eficaz.

  • Dosagem do herbicida

A dose de glifosato utilizada também é determinante para o sucesso do controle. Doses insuficientes podem não ser capazes de atingir os níveis de absorção e translocação necessários para eliminar a planta daninha, aumentando o risco de sobrevivência e até o desenvolvimento de resistência. 

Por outro lado, a superdosagem pode resultar em desperdício de produto e impactos econômicos. O ajuste da dose deve considerar a espécie-alvo, o estádio de desenvolvimento e as condições específicas da área de aplicação.

  • Condições climáticas durante a aplicação

O ambiente no momento da aplicação do glifosato influencia diretamente sua eficácia. Fatores como temperatura, umidade relativa e velocidade do vento são especialmente importantes. Altas temperaturas e baixa umidade podem reduzir a absorção do herbicida, pois aceleram a evaporação antes que ele penetre na planta. Em contrapartida, temperaturas muito baixas podem desacelerar o metabolismo das plantas daninhas, reduzindo a translocação do produto. 

Além disso, ventos fortes podem causar deriva, diminuindo a cobertura uniforme e potencialmente contaminando áreas adjacentes. A aplicação ideal ocorre em condições de temperatura amena, umidade relativa moderada a alta e ventos leves.

Considerar esses fatores em conjunto para planejar uma boa aplicação é essencial para potencializar os efeitos do glifosato. Seguir boas práticas agrícolas, incluindo o uso de equipamentos bem calibrados e o manejo integrado, permite maior eficácia e sustentabilidade no manejo das plantas daninhas.

Glifosato no Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD)

O uso do glifosato deve ser integrado a outras práticas de manejo de plantas daninhas, visando a sustentabilidade e a manutenção de sua eficácia ao longo do tempo. Embora o glifosato seja uma ferramenta poderosa no controle de ervas daninhas, seu uso exclusivo e repetido pode levar a seleção de espécies resistentes, comprometendo a eficiência da tecnologia.

O MIPD combina diferentes estratégias para controlar invasoras de forma sustentável e reduzir a pressão de seleção de espécies resistentes. Entre essas estratégias estão a rotação de culturas, o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, a adoção de práticas culturais como a densidade adequada de plantio e a cobertura do solo, além de métodos mecânicos, como a capina ou a roçada seletiva.

Inserir o glifosato nesse contexto permite aproveitar ao máximo suas características, como a ação sistêmica e a ampla gama de controle, enquanto se evita sua aplicação de forma indiscriminada. Além disso, práticas como a calibração adequada de pulverizadores, o respeito às doses recomendadas e a escolha do momento ideal de aplicação são fundamentais para maximizar sua eficiência.

O uso responsável do glifosato em um programa de MIPD permite que essa tecnologia continue disponível e eficaz para futuras gerações de agricultores, consolidando-se como parte essencial de uma agricultura produtiva e sustentável.