No cenário agrícola brasileiro, a proteção das lavouras contra doenças fúngicas é essencial para alcançar produtividade e qualidade. Nesse contexto, os fungicidas protetores desempenham um papel fundamental e sua utilização tem se consolidado como uma prática eficaz no manejo fitossanitário.
Historicamente, o Brasil tem enfrentado desafios significativos relacionados a doenças fúngicas em diversas culturas, como soja, milho e trigo. A introdução e adoção dos fungicidas protetores permitiram aos produtores uma ferramenta adicional no combate a essas enfermidades, reduzindo perdas e melhorando a eficiência produtiva.
A crescente demanda por alimentos e a necessidade de práticas agrícolas mais sustentáveis impulsionaram a pesquisa e o desenvolvimento de fungicidas protetores no país. Essa evolução tem permitido aos agricultores brasileiros acesso a soluções seguras e eficazes no manejo de doenças fúngicas.
Diante da sua grande relevância e utilização na atividade agropecuária, torna-se necessário conhecer as principais características e benefícios dos fungicidas protetores aplicados no campo.
Mecanismos de ação dos fungicidas protetores
Os fungicidas protetores atuam externamente, formando uma barreira química que impede a germinação e penetração dos esporos fúngicos. Ao serem aplicados na superfície das plantas, eles inibem processos essenciais ao desenvolvimento dos fungos, como a respiração celular e a síntese de proteínas.
É importante ressaltar que, devido à sua natureza não sistêmica, os fungicidas protetores não controlam infecções já estabelecidas. Portanto, sua aplicação deve ser realizada preventivamente, antes da ocorrência de condições favoráveis ao desenvolvimento de doenças. Além disso, é extremamente relevante selecionar corretamente o fungicida protetor, pois existem diversos grupos dentro dessa classificação.
Principais grupos de fungicidas protetores
Os fungicidas protetores podem ser classificados em dois grandes grupos: inorgânicos e orgânicos.
Fazem parte dos compostos considerados inorgânicos:
- cúpricos: derivados do cobre, como a calda bordalesa e o oxicloreto de cobre, são amplamente utilizados devido ao seu amplo espectro de ação e eficácia no controle de diversas doenças fúngicas. Também possuem efetividade contra bactérias.
- sulfurados: à base de enxofre, são eficazes no controle de oídios e outras doenças. Sua principal forma de controle ocorre pela inibição da respiração dos fungos.
Integram o grupo dos orgânicos:
- ditiocarbamatos: incluem compostos como mancozebe e tiram, conhecidos por sua eficácia. São amplamente utilizados na agricultura e atuam inibindo enzimas essenciais ao metabolismo dos fungos.
- cloronitrilas: possuem amplo espectro de ação e são utilizados no controle de diversas doenças foliares. Entre os diversos compostos desse grupo, está o clorotalonil, que possui baixa degradação e paralisa diversos processos bioquímicos dos fungos.
A eficácia dessas tecnologias é resultado das importantes características que esses produtos possuem e oferecem aos cultivos.
Características dos fungicidas protetores
Muitos fungicidas classificados como protetores possuem mecanismos de ação múltiplos e atuam como inibidores de reações bioquímicas nos patógenos, comprometendo diversos processos vitais para o seu desenvolvimento. Essa característica multissítio reduz significativamente o risco de surgimento de resistência por parte dos fungos, tornando esses produtos essenciais para o manejo fitossanitário.
Para alcançar eficiência completa no campo, esses fungicidas dependem de condições específicas. Uma delas é a capacidade de reagir em meio aquoso, sem que sejam hidrolisados pela planta hospedeira ou lixiviados com a ocorrência da primeira chuva. Essa estabilidade é fundamental para a formação de uma barreira protetora duradoura contra os patógenos.
A condição climática também é outro ponto muito importante. Para que o efeito seja realmente alcançado na cultura, é preciso estar atento às previsões meteorológicas, pois o produto precisa de um certo tempo para agir na folha.
Uma chuva logo após a aplicação pode reduzir drasticamente o efeito do fungicida por lavar o produto antes de sua completa e efetiva ação na superfície foliar. De maneira geral, fungicidas protetores precisam de mais horas sem chuva após a aplicação do que os fungicidas sistêmicos.
Outro ponto importante é que os fungicidas protetores precisam formar suspensões homogêneas em água para facilitar a aplicação. Contudo, devem apresentar um equilíbrio na molhabilidade: ser suficientemente aderentes para resistir à ação da chuva, mas não a ponto de serem completamente eliminados com facilidade pela água de pulverização ou precipitações leves. Esse equilíbrio assegura uma proteção prolongada e eficaz contra doenças fúngicas.
Outro aspecto relevante é o espalhamento uniforme na superfície das plantas. O produto deve se distribuir adequadamente, cobrindo toda a área a ser protegida, mas sem formar camadas excessivamente finas, que poderiam comprometer sua eficácia. Mas além dessa precaução, outros detalhes também devem ser observados.
Cuidados na aplicação de fungicidas protetores
A aplicação de fungicidas protetores exige atenção a diversos fatores técnicos para atingir sua eficácia e evitar perdas. Seguir boas práticas de aplicação é fundamental para maximizar os benefícios desse tipo de produto e preservar sua funcionalidade no manejo integrado de doenças.
Cobertura uniforme
Visando uma barreira eficaz, é indispensável que o produto seja distribuído de maneira homogênea em toda a superfície foliar. A falta de cobertura pode criar “janelas” que permitem a infecção do fungo. Utilizar técnicas adequadas de pulverização, como a calibração correta dos bicos, e fazer a escolha do equipamento apropriado são medidas que asseguram a deposição uniforme do fungicida.
Além disso, é importante estar atento aos filtros limpos, bicos desentupidos e calibrados para o tamanho de gota adequado à cultura. Pulverizadores mal ajustados podem causar desperdício de produto e cobertura insuficiente.
Condições climáticas durante a aplicação
Evitar a aplicação em dias de ventos fortes, temperaturas extremas ou com previsão de chuva iminente. Ventos podem causar deriva do produto, prejudicando a cobertura uniforme, enquanto chuvas logo após a aplicação podem lavar o fungicida, comprometendo sua eficácia. É recomendável também observar a umidade relativa do ar, evitando aplicações em condições muito secas, que podem causar evaporação rápida da calda.
Volume de calda e qualidade da água
O volume de calda deve ser adequado ao porte da cultura e ao estádio de desenvolvimento das plantas. Para culturas de grande porte ou com alta densidade de folhas, volumes maiores são necessários para garantir a cobertura completa. Além disso, a água utilizada na calda deve estar limpa e com pH ajustado, evitando interações químicas que possam reduzir a eficácia do produto.
Compatibilidade com outros produtos
Antes de misturar o fungicida protetor com outros defensivos agrícolas, é importante verificar a compatibilidade química e física dos produtos. Misturas inadequadas podem causar a formação de grumos, entupimento dos bicos de pulverização ou redução da eficiência de um ou mais produtos.
Proteção pessoal e manejo seguro
É essencial que o operador utilize Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) durante o manuseio e aplicação do fungicida. Seguir as instruções de segurança do fabricante e as orientações da bula do produto evita riscos de intoxicação e contribui para a segurança do aplicador e do ambiente.
Armazenamento e descarte
Os fungicidas devem ser armazenados em local seco, ventilado e protegido da luz solar direta, além de manter a embalagem original fechada. O descarte correto das embalagens vazias deve seguir as recomendações dos órgãos de regulamentação, evitando contaminações ambientais.
Adotar esses cuidados é imprescindível para assegurar que os fungicidas protetores desempenhem sua função de maneira eficiente, contribuindo para o manejo eficaz das doenças agrícolas e para a sustentabilidade da produção.
Potencializando a ação dos fungicidas protetores
Para potencializar os resultados dos fungicidas protetores, é essencial que seu uso esteja integrado a outras práticas de manejo na lavoura, promovendo um ambiente menos favorável ao desenvolvimento de doenças.
Entre as medidas complementares ao manejo de doenças, destaca-se a rotação de culturas com plantas não hospedeiras e o ajuste no espaçamento entre linhas de plantio. Esses fatores contribuem para a ventilação adequada da lavoura, dificultando o ambiente úmido necessário para a proliferação de fungos.
Além disso, o controle eficiente de plantas daninhas é crucial, pois essas podem atuar como hospedeiras alternativas para patógenos, mantendo o ciclo das doenças ativo. A adubação equilibrada também desempenha um papel importante na saúde das plantas e na resistência contra doenças. Nutrientes como o potássio, por exemplo, ajudam a fortalecer as estruturas vegetais e tornam as plantas menos suscetíveis a infecções.
Ao combinar o uso preventivo de fungicidas protetores com boas práticas agrícolas, o agricultor aumenta a eficiência do manejo fitossanitário, reduzindo perdas e maximizando a produtividade da lavoura.
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