O cultivo dos citros é uma das atividades mais expressivas do agronegócio brasileiro, com o país ocupando uma posição de liderança global na produção e na exportação de suco de laranja. Estados como São Paulo e Minas Gerais se destacam na produção de citros, sendo a laranja a principal fruta cultivada.
Além da relevância econômica, o cultivo de citros tem grande importância social, gerando empregos em várias regiões do país. No entanto, a cultura enfrenta desafios significativos, principalmente relacionados ao controle de doenças, que podem comprometer a produtividade e a qualidade dos frutos.
Essas doenças, com diferentes fontes de inóculo — fúngicas, bacterianas e virais — exigem atenção e estratégias de manejo eficazes para reduzir perdas.
Neste artigo, será visto sobre as principais doenças que afetam os citros e como o manejo integrado pode ser uma solução para manter a sanidade dos pomares e a competitividade da citricultura brasileira.
O cenário das doenças dos citros no Brasil
O Brasil é o maior produtor mundial de citros, com destaque para a produção de laranjas, o que torna a citricultura uma das principais atividades agrícolas do país. No entanto, o setor enfrenta desafios contínuos com o surgimento e a disseminação de doenças que ameaçam a produtividade e a qualidade dos frutos.
O clima tropical e subtropical, característico das principais regiões produtoras, favorece o desenvolvimento de patógenos que atacam a cultura, criando um ambiente propício para a proliferação de doenças.
As doenças que afetam as plantas são geralmente causadas por três tipos principais de agentes patogênicos: fungos, bactérias e vírus. Esses organismos podem invadir diferentes partes da planta, como folhas, frutos, ramos e raízes, prejudicando seu desenvolvimento e reduzindo a produtividade.
As rigorosas exigências fitossanitárias impostas pelos países importadores também aumentam a necessidade de um controle eficiente dessas doenças. O avanço de pesquisas e tecnologias, além da adoção de práticas de manejo integrado, tem sido fundamental para mitigar esses impactos.
Ainda assim, o cenário requer atenção contínua e a implementação de estratégias de controle cada vez mais sustentáveis e eficazes, para que a citricultura brasileira mantenha sua posição de destaque global.
A seguir, serão apresentadas as principais doenças que afetam os citros, classificando-as conforme seu agente causal, para facilitar a compreensão de suas características.
Principais doenças fúngicas dos citros
Pinta preta
A pinta preta, ou mancha preta, é uma das doenças mais preocupantes para a citricultura brasileira, sendo causada pelo fungo Guignardia citricarpa.
Seus sintomas característicos incluem manchas negras de diversos tamanhos em folhas, ramos e frutos. A doença pode prejudicar a comercialização dos frutos in natura devido ao comprometimento da aparência, especialmente para o mercado externo, devido às rigorosas exigências fitossanitárias de alguns países e por sua classificação como doença quarentenária.
Além das manchas escuras, o fungo também ocasiona queda prematura dos frutos, que pode reduzir drasticamente a produção, principalmente de laranja doce. Os prejuízos comumente são maiores em pomares mais antigos e que possuem plantas com desequilíbrios nutricionais.
O fungo se desenvolve em condições de alta umidade e temperaturas elevadas, o que favorece sua disseminação, especialmente em regiões de clima tropical e subtropical.
Gomose
É causada por diferentes espécies do gênero Phytophthora, principamente Phytophthora citrophthora e P. nicotianae var. parasitica, que afetam o tronco das plantas cítricas e provocam lesões que exsudam uma goma característica.
O fungo é naturalmente encontrado no solo e sua contaminação nas plantas pode ocorrer por meio das raízes ou pela base do tronco, penetrando por ferimentos ou rachaduras naturais.
Em casos mais avançados, a doença pode levar ao apodrecimento do tronco, degradação das raízes e consequente morte das plantas.
O fungo pode ser disseminado por meio de implementos agrícolas, durante as operações de manejo, assim como pelo substrato de mudas, água de irrigação e pela chuva. O patógeno também pode ser transmitido por sementes e permanecer em estado latente nas mudas.
Podridão floral
Essa doença é causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides e afeta principalmente as flores dos citros, resultando em queda prematura e baixa frutificação. Devido ao sintoma de queda dos frutos, deixando apenas os cálices e pedúnculos presos aos ramos que lembram o desenho de estrelas, a podridão floral também é chamada de “estrelinha”.
Os sintomas manifestam-se com coloração alaranjada nas pétalas das flores e deixa os frutos jovens com aparência verde-oliva ou marrom-clara, enquanto no estigma e no estilete surgem manchas escuras.
O florescimento é o período mais crítico para a ocorrência desse patógeno, especialmente quando coincide com a estação chuvosa, que pode favorecer surtos de infecção.
O fungo é favorecido por alta umidade, pode sobreviver na parte aérea das plantas por longos períodos e sua disseminação é favorecida pelo vento e respingos de água da chuva ou da irrigação.
Doenças bacterianas nos citros
Cancro cítrico
O cancro cítrico é uma das doenças bacterianas mais devastadoras para os citros, causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis, e é motivo de grande preocupação entre os produtores.
Seus sintomas incluem lesões salientes, normalmente arredondadas e de aspecto corticoso nas folhas, nos ramos e nos frutos, acompanhadas por manchas amarelas ao redor das lesões. Essas lesões salientes são resultados da excessiva divisão celular do local infectado. Com o avanço da doença, as lesões tendem a coalescer, principalmente nos ramos.
Ao estar presente nos frutos, seus danos geram depreciação do produto e dificultam a comercialização. Outros prejuízos incluem a desfolha das plantas e queda prematura dos frutos.
O principal local de contaminação da planta pela bactéria ocorre nos estômatos, e por isso, normalmente, os sintomas iniciais são observados nas folhas, em ambas as faces.
A doença é disseminada principalmente pelo vento e pela chuva, o que torna seu controle difícil em áreas com alta densidade de plantio. Uma vez contaminada pela bactéria e em condições favoráveis de temperatura para o patógeno (média de 25 °C a 30 °C), a planta costuma apresentar os sintomas cerca de 5 a 7 dias após a infecção.
Greening
O greening, também conhecido como huanglongbing (HLB), é uma das doenças mais graves que afetam os citros, e sua ocorrência em diversas regiões produtivas tem aumentado nos últimos anos.
Causada pela bactéria Candidatus liberibacter, é transmitida por um psilídeo (Diaphorina citri) e ao colonizar os vasos do floema espalha-se por diversas partes da planta, podendo comprometer seriamente a produção.
Os sintomas incluem o amarelecimento das folhas, redução do tamanho e deformação dos frutos, além do abortamento de sementes. A doença provoca um declínio generalizado da planta, resultando em perdas de produtividade e qualidade dos frutos.
Como o greening é transmitido por um inseto vetor, a propagação da doença está fortemente relacionada com a multiplicação e o tamanho da população do psilídeo, além da utilização do próprio material vegetativo contaminado com a bactéria.
Principais viroses nos citros
Leprose
A leprose dos citros é causada pelo Citrus leprosis vírus (CiLV), é transmitida pelo ácaro Brevipalpus phoenicis e tem se tornado cada vez mais preocupante em regiões produtoras, devido ao aumento da população dos ácaros vetores.
Os sintomas podem ser observados em diferentes órgãos da planta, como ramos, folhas e frutos. Nas folhas, aparecem manchas claras com halo amarelado e centro necrosado.
Nos frutos verdes, surgem manchas verde-claras, cercadas por um anel amarelado que se destaca da cor do fruto; à medida que amadurecem, as manchas tornam-se pardas ou escuras, ligeiramente deprimidas e de tamanho variável, podendo apresentar pequenas rachaduras. Esses frutos, devido à sua aparência, tornam-se impróprios para o consumo “in natura”.
Nos ramos, a doença causa manchas marrom-claro que evoluem para pústulas salientes, levando à soltura da casca. Em casos graves, há queda de frutos e folhas.
O ácaro transmissor do vírus pode se espalhar entre as plantas no pomar ou para outros pomares por meio de mudas e borbulhas infectadas. Além disso, pode ser transportado em caixas utilizadas para a coleta de frutos.
O inseto transmite o vírus em todas as suas fases ativas de desenvolvimento (larva, ninfa e adulto) com igual eficiência. O vírus é do tipo circulativo, ou seja, além de se acumular no corpo do vetor, multiplica-se dentro dele, permanecendo no ácaro assim que adquirido.
Tristeza dos citros
A tristeza dos citros é uma virose causada pelo Citrus tristeza virus (CTV) e transmitida por pulgões, especialmente o pulgão-preto-dos-citros (Toxoptera citricida).
O vírus pode causar perdas severas em pomares, especialmente em variedades enxertadas sobre porta-enxertos suscetíveis. Nas folhas, o vírus provoca o clareamento das nervuras e, nos frutos, causa o engrossamento do mesocarpo. Além disso, o crescimento das plantas é paralisado, com produção de frutos pequenos e descoloridos.
Nem todas as variedades de citros são suscetíveis ao vírus, mas entre as espécies que mais são comprometidas estão os limoeiros galego e pomeleiros, o que contribui para a menor longevidade dessas espécies cítricas.
Além da transmissão do vírus pelo pulgão, a disseminação a longas distâncias ocorre por meio de material de propagação, com o vírus sendo transmitido de forma eficiente por meio da enxertia. Algumas outras espécies vegetais, como a cuscuta, também atuam como vetores, por serem parasitas do vírus.
Além de compreender as particularidades de cada doença, é essencial que o produtor adote práticas de Manejo Integrado de Doenças (MID) que possibilitam a sanidade dos pomares. O uso do MID permite combinar diferentes estratégias de controle, proporcionando uma intervenção mais eficiente e sustentável no combate aos patógenos.
MID nos citros
O MID oferece uma série de vantagens para o produtor, como a capacidade de controlar as enfermidades de maneira mais eficiente, ao combinar diferentes estratégias, como o monitoramento constante do pomar, e os controles cultural, biológico e químico.
Dessa forma, é possível minimizar os impactos das doenças, possibilitando maiores produtividades e longevidades das plantas. Além disso, o MID contribui para a sustentabilidade da produção ao integrar soluções mais seguras e precisas, adaptando-se às condições específicas de cada região e tipo de cultivo.
Monitoramento
O monitoramento frequente dos pomares é o primeiro passo no MID. A inspeção regular das plantas permite identificar precocemente a presença de patógenos e insetos vetores, o que facilita a tomada de decisões rápidas e eficientes para evitar a disseminação das doenças.
Técnicas como a amostragem visual de plantas e o uso de armadilhas para insetos em diversas partes da área de produção são ótimas ferramentas para o monitoramento eficaz.
Controle cultural
O controle cultural envolve práticas que melhoram as condições de cultivo e reduzem o risco de infecção por patógenos. Entre importantes medidas culturais possíveis de serem aplicadas no campo estão:
- escolha de áreas com boa drenagem,
- utilização de porta-enxertos resistentes ou tolerantes,
- higienização correta de ferramentas e maquinários utilizados em plantas doentes
- poda correta,
- erradicação de plantas doentes.
Essas ações ajudam a controlar diversas doenças, como a gomose e o cancro cítrico. Além disso, a adubação equilibrada e o manejo da irrigação são essenciais para manter a planta saudável e menos suscetível a doenças.
Controle biológico
O controle biológico é uma estratégia promissora e inovadora no manejo de doenças dos citros, baseando-se na utilização de organismos vivos para controlar patógenos e seus vetores de maneira natural.
Esse tipo de controle envolve a introdução, conservação ou estímulo de agentes biológicos benéficos, como predadores, parasitas ou microrganismos antagonistas, que atuam diretamente sobre as populações dos causadores de doenças, impedindo sua disseminação e seu desenvolvimento.
Além de ser uma alternativa ecologicamente equilibrada, é uma solução de longo prazo que pode ser integrada de maneira eficaz com outras práticas de manejo. Essa integração permite um controle mais preciso e sustentável das doenças, sem comprometer a saúde das plantas ou o ecossistema do pomar.
Por sua capacidade de atuar de forma seletiva e sem causar resistência nos patógenos, o controle biológico é uma ferramenta que vem ganhando cada vez mais espaço no manejo integrado, garantindo um ambiente produtivo mais saudável e equilibrado.
Controle químico
É uma importante ferramenta no controle de doenças dos citros, que deve ser aplicado de forma preventiva e estratégica para garantir sua máxima eficácia. Seu uso deve ocorrer preferencialmente antes que os patógenos causem danos severos às plantas, atuando como uma barreira protetora.
Para obter os melhores resultados, é crucial que o produtor siga todas as recomendações técnicas fornecidas pelos fabricantes dos produtos, respeitando as dosagens exatas, os intervalos de aplicação e os períodos de carência, priorizando a segurança tanto do consumidor quanto do meio ambiente.
Um ponto fundamental no controle químico é a rotação de moléculas com diferentes mecanismos de ação. Essa prática evita que patógenos resistentes aos produtos aplicados sejam selecionados, o que poderia comprometer a eficiência do tratamento ao longo do tempo. A rotação de moléculas preserva a eficácia dos defensivos químicos e contribui para a longevidade dessas ferramentas no manejo integrado.
Além disso, é essencial que o controle químico seja sempre integrado a outras práticas, como o monitoramento e o controle biológico, para que a proteção seja contínua e sustentável.
A importância de uma visão integrada para o sucesso da citricultura
O manejo das doenças nos citros exige uma estratégia abrangente e integrada para alcançar a saúde e a produtividade dos pomares. A diversidade de patógenos, como fungos, bactérias e vírus, demanda estratégias que combinem práticas culturais adequadas, monitoramento constante, controle biológico e a aplicação criteriosa de defensivos químicos.
Cada uma dessas ferramentas, quando utilizadas de maneira correta e coordenada, contribui para minimizar as perdas causadas por doenças e estimular a longevidade das plantações.
O MID se destaca como a melhor alternativa para um controle eficiente e sustentável, permitindo que o produtor proteja seu pomar, preserve o ambiente e mantenha a qualidade dos frutos. Assim, o produtor fortalece não apenas a saúde das plantas, mas também a competitividade da citricultura brasileira, fundamental para manter sua liderança no mercado global.
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