O cultivo de tomate é uma atividade agrícola bastante relevante no Brasil, com uma produção destinada ao mercado interno e externo. A planta, que pertence à família das solanáceas, originou-se nas regiões tropicais da América do Sul e tem no Brasil um dos ambientes mais adequados para seu desenvolvimento, graças ao clima diversificado e à ampla adaptação das variedades disponíveis.
A cultura do tomate se consolidou no Brasil graças a fatores como o solo fértil, a grande extensão territorial e o investimento em tecnologia agrícola. Com isso, a produção de tomate atende a diferentes segmentos do mercado, incluindo o consumo in natura, o processamento industrial e a exportação.
Apesar de sua expressiva relevância econômica, o cultivo do tomate enfrenta desafios complexos. A cultura é sensível a fatores como clima, manejo e controle de pragas e doenças. Para atingir a produtividade e a qualidade do tomate, os produtores precisam adotar práticas agrícolas modernas e sustentáveis, com foco em técnicas que promovam o manejo eficiente e o aumento da produtividade.
Este guia apresenta os principais aspectos do cultivo de tomate, abordando desde a escolha da variedade até o manejo pós-colheita.
Tipos de tomate
A escolha da variedade de tomate é crucial para o sucesso da produção, já que cada tipo possui características próprias que o tornam mais adequado para determinados usos, como consumo in natura, processamento industrial ou preparo de pratos gourmet.
No Brasil, podemos categorizar as variedades de tomate em cinco tipos principais.
- Tomate rasteiro
O tomate rasteiro é especialmente cultivado para a indústria de processamento, pois possui uma polpa densa, com poucos líquidos, o que facilita a fabricação de produtos como molhos, pastas, polpas e ketchups. A resistência ao transporte e a alta produtividade são características importantes dessas variedades.
- Tomate de mesa
O tomate de mesa, também conhecido como tomate salada, é destinado ao consumo fresco. Os frutos são geralmente maiores, suculentos e com casca mais macia, características que agradam ao consumidor pela textura e pelo sabor marcante.
- Tomate cereja
Conhecido pelo seu formato pequeno e redondo, e pelo sabor adocicado, o tomate cereja é amplamente utilizado em saladas, pratos decorativos e preparos gourmet. Esse tipo de tomate é apreciado tanto pela versatilidade quanto pelo apelo estético, sendo popular em restaurantes e bufês.
- Tomate italiano
O tomate italiano, conhecido também como tomate tipo longa vida, tem formato alongado e é amplamente utilizado em preparos culinários, como molhos e assados. Sua polpa é mais densa e possui menos sementes, o que torna o processamento mais prático.
- Tomate grape
Semelhante ao tomate cereja, mas com formato mais alongado, o tomate grape também possui sabor adocicado e é apreciado por sua versatilidade na culinária. Essa variedade é ideal para o consumo in natura e é cultivada principalmente para mercado gourmet.
Cada tipo de tomate possui necessidades específicas de manejo, como adubação, irrigação e cuidados pós-colheita, que são importantes para atender tanto as exigências de qualidade do mercado quanto as particularidades de cada sistema de cultivo. E incluído no manejo, está o conhecimento do ciclo de cultivo, essencial para alcançar a rentabilidade e viabilidade da atividade.
Ciclo de cultivo do tomate
O ciclo de cultivo do tomate envolve diversas fases, cada uma com necessidades específicas de manejo, clima, irrigação e nutrição. Em geral, o ciclo completo dura entre 90 e 130 dias, variando conforme a variedade e as condições ambientais.
A seguir, são descritas cada uma das etapas do ciclo do tomateiro e os cuidados recomendados.
1. Germinação e emergência
A fase de germinação e emergência começa logo após a semeadura e pode durar entre 7 e 15 dias, dependendo da temperatura e da umidade do solo. Para uma germinação ideal das sementes de tomate, a temperatura é um fator extremamente importante, pois influencia a atividade enzimática e o crescimento inicial da planta.
Além disso, o solo deve permanecer úmido, mas sem encharcamento, pois o excesso de água pode levar ao apodrecimento das sementes. Assim, recomenda-se uma irrigação leve e frequente, fornecendo uma umidade constante e adequada para as mudas.
2. Crescimento vegetativo
Após a emergência das mudas, o tomateiro entra em uma fase de crescimento vegetativo, caracterizada pela expansão de folhas, formação do caule e desenvolvimento das raízes.
O tomateiro precisa de luz solar direta para se desenvolver adequadamente. Nesse estádio, a nutrição também é fundamental, com destaque para o nitrogênio, que estimula o desenvolvimento das folhas e do caule, e para o fósforo, que fortalece o sistema radicular.
3. Florescimento e frutificação
O florescimento do tomateiro começa cerca de 45 dias após o plantio e é seguido pela frutificação, quando os primeiros frutos se formam. O manejo adequado nessa fase é essencial para a produtividade e a qualidade dos frutos.
Em cultivos protegidos, como estufas, o uso de abelhas ou ventiladores para facilitar a polinização contribui para que os frutos se desenvolvam de forma uniforme e saudável, possibilitando tamanho e formato ideais, características importantes para a comercialização.
Durante o florescimento e a frutificação, aumenta a necessidade de potássio, nutriente essencial para a formação e a qualidade dos frutos. A irrigação também é crucial e deve ser constante e bem regulada, evitando tanto a seca quanto o encharcamento, que podem causar rachaduras e deformidades nos tomates.
A irrigação por gotejamento é a técnica mais recomendada, pois direciona a água diretamente às raízes, mantém o solo com umidade adequada e reduz o risco de doenças fúngicas.
4. Maturação e colheita
A fase final do ciclo é a maturação dos frutos, e o ponto de colheita deve ser ajustado conforme o tipo de tomate e o destino do produto, pois cada mercado pode ter exigências diferentes.
Para o consumo in natura, a colheita ocorre quando os tomates estão com coloração avermelhada, indicando o amadurecimento completo e um sabor ideal para o consumidor. No entanto, para o mercado industrial, a colheita costuma ser feita um pouco antes do amadurecimento completo, o que assegura que os frutos mantenham sua integridade e qualidade durante o processamento, fornecendo um produto final de maior valor.
Durante todo o ciclo de cultivo, alguns cuidados são essenciais para produzir um tomate de qualidade. Entre eles estão a presença de pragas, doenças e plantas daninhas.
Pragas no cultivo do tomate
O tomateiro é suscetível a diversas pragas que podem comprometer a produção. Entre as mais comuns estão:
- traça-do-tomateiro (Tuta absoluta): essa praga causa perfurações nas folhas e nos frutos, prejudicando o desenvolvimento da planta. O controle biológico com inimigos naturais e a aplicação de inseticidas específicos são eficazes.
- mosca-branca (Bemisia tabaci): essa espécie suga a seiva e pode transmitir viroses à planta. Práticas como a rotação de culturas e o uso de coberturas vegetais auxiliam na redução de sua infestação.
- pulgão (Myzus persicae): responsável por causar deformações nas folhas e transmissão de viroses, o pulgão pode ser controlado por meio de inseticidas químicos e controle biológico com espécies predadoras.
Doenças no cultivo do tomate
As doenças também representam um grande desafio para o cultivo de tomate, podendo reduzir drasticamente a produção. As mais recorrentes incluem:
- requeima (Phytophthora infestans): essa doença fúngica ocorre principalmente em condições de alta umidade e temperaturas moderadas, causando manchas escuras nas folhas e nos frutos.
- murcha-bacteriana (Ralstonia solanacearum): causada por uma bactéria que provoca o murchamento e a morte da planta, essa doença é frequente em solos com alta umidade.
- viroses: viroses como o ToMV (Tomato Mosaic Virus) são transmitidas por insetos vetores e causam mosaico nas folhas, deformação dos frutos e redução na produtividade.
Plantas daninhas no cultivo do tomate
As plantas daninhas representam uma ameaça significativa ao cultivo do tomate, competindo por recursos vitais como luz, água e nutrientes. Além disso, podem servir de abrigo para pragas e doenças, aumentando os riscos para a cultura.
Entre as espécies de plantas daninhas mais comuns nas lavouras de tomate estão:
- capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
- caruru (Amaranthus spp.);
- beldroega (Portulaca oleracea).
Essas plantas invasoras têm alta capacidade de adaptação e crescimento rápido, o que exige monitoramento constante e estratégias eficazes de controle.
Combinar diferentes técnicas de manejo, como o controle cultural, biológico, mecânico e químico em uma estratégia de manejo integrado, baseado no monitoramento constante, é a maneira mais eficaz de minimizar a competição das plantas daninhas, das pragas e das doenças. Essa ferramenta permite um desenvolvimento saudável do tomateiro e uma produção de alta qualidade.
Além desses desafios, o produtor deve estar considerar as práticas de adubação, irrigação e, em alguns casos, tutoramento.
Adubação do tomateiro
A adubação é um dos aspectos mais importantes para a produtividade do tomate. O manejo nutricional do tomateiro deve ser feito com base na análise do solo e nas necessidades específicas da cultura. A adubação se divide principalmente em:
- adubação de plantio: realizada antes do plantio, visa fornecer fósforo e outros nutrientes essenciais para o estabelecimento das plantas.
- adubação de cobertura: realizada durante o ciclo de cultivo, visa fornecer principalmente nitrogênio e potássio, essenciais para o crescimento e a frutificação.
O equilíbrio entre os nutrientes é fundamental para evitar problemas como deficiência nutricional ou excesso de salinidade no solo, que podem impactar a produtividade e a qualidade dos frutos.
Irrigação do tomateiro
A irrigação no cultivo de tomate é crucial para atender às necessidades específicas da planta em cada fase de desenvolvimento. A quantidade e a frequência da irrigação devem ser ajustadas com base no estádio de crescimento, tipo de solo e clima, pois um manejo adequado da água permite um crescimento saudável, aumenta a produtividade e evita problemas como rachaduras e deformidades nos frutos. O monitoramento constante das condições do solo e das plantas é essencial para alcançar bons resultados.
Entre os sistemas de irrigação, a irrigação por gotejamento é a mais recomendada para o tomate, pois fornece água diretamente à zona radicular, economizando recursos e reduzindo a umidade nas folhas e frutos. Essa prática não só economiza água, mas também diminui o risco de doenças fúngicas.
As exigências de água variam conforme o ciclo do tomateiro. Na fase de germinação, o solo deve permanecer úmido para possibilitar uma germinação uniforme. Durante o crescimento vegetativo, a planta precisa de volumes moderados de água para fortalecer raízes e caule.
No entanto, a fase mais crítica é a de floração e frutificação, onde o déficit hídrico pode causar abortamento de flores e rachaduras ou deformações nos frutos, enquanto o excesso de água pode predispor a planta a doenças.
Tutoramento do tomateiro
O tutoramento do tomateiro é uma prática essencial no cultivo dessa cultura, especialmente para variedades de crescimento indeterminado, que apresentam desenvolvimento contínuo do caule e demandam suporte para crescimento vertical.
O tutoramento proporciona uma série de benefícios para o tomateiro, melhorando a exposição à luz solar, facilitando a circulação de ar entre as plantas e reduzindo o contato dos frutos com o solo, o que ajuda a prevenir doenças e aumenta a qualidade da colheita. Essa técnica é particularmente recomendada em cultivos intensivos e protegidos, como em estufas, onde o espaço precisa ser otimizado e o controle sanitário é rigoroso.
Existem diferentes métodos de tutoramento, como o tutoramento em vara, que consiste em amarrar o caule principal da planta a uma estaca de madeira ou bambu, e o sistema de espaldeira, em que fios de arame ou cordas são instalados ao longo das fileiras para sustentar as plantas verticalmente.
Outro método comum é o tutoramento com fitilhos, onde cordas são amarradas à base do tomateiro e suspensas em estruturas superiores, permitindo que a planta seja guiada conforme cresce.
Cada técnica pode ser adaptada ao tipo de cultivo e à variedade de tomate, mas todas têm em comum o objetivo de manter a planta ereta e os frutos bem distribuídos. Com o tutoramento adequado, é possível melhorar a eficiência de manejo, facilitar a colheita e promover uma maior produtividade e qualidade do tomate.
Ao final do ciclo de produção, existem outros importantes cuidados que o produtor deve estar atento para entregar um produto de qualidade ao mercado consumidor.
Comercialização e cuidados pós-colheita do tomate
A fase de comercialização e os cuidados pós-colheita são etapas fundamentais para assegurar a qualidade do tomate e agregar valor ao produto até o ponto de venda. Após a colheita, os tomates devem ser manuseados cuidadosamente para evitar danos físicos, como amassamento e rachaduras, que comprometem a aparência e a durabilidade dos frutos.
Frutos danificados podem ser descartados ou vendidos a preços mais baixos, afetando a rentabilidade da produção. A classificação por tamanho, cor e qualidade também é uma prática importante, permitindo a segmentação dos tomates conforme as exigências de cada mercado.
Para o armazenamento adequado, os tomates devem ser mantidos em locais frescos e ventilados, com temperatura controlada entre 10 °C e 12 °C, em média. Esse cuidado prolonga a vida útil do produto e evita perdas causadas pelo amadurecimento excessivo ou pelo surgimento de doenças pós-colheita.
No caso de tomates destinados ao mercado de consumo in natura, o acondicionamento em caixas de transporte resistentes e o uso de embalagens apropriadas são essenciais para que o produto chegue em boas condições aos pontos de venda. Já no mercado industrial, no qual os frutos são processados em molhos, pastas e sucos, o manuseio pós-colheita e o armazenamento podem ser mais simples, mas ainda assim exigem cuidados para manter a qualidade.
A comercialização dos tomates pode ser feita em canais diversificados, incluindo mercados de atacado, supermercados, feiras e indústria de processamento. No mercado in natura, aspectos como aparência, firmeza e coloração uniforme são altamente valorizados pelos consumidores, o que demanda um controle rigoroso da qualidade ao longo de toda a cadeia produtiva.
Para os produtores que fornecem à indústria de processamento, a negociação de contratos de venda antecipada pode ser uma boa opção para o comércio da produção e a estabilização dos preços.
Investir em práticas de pós-colheita e canais de comercialização adequados beneficia o produtor ao agregar valor ao tomate e atender às expectativas do consumidor final. Com cuidados específicos no manuseio, armazenamento e transporte, é possível minimizar perdas, melhorar a qualidade do produto oferecido e, consequentemente, ampliar o potencial de retorno financeiro e fortalecer a reputação no mercado.
Perspectivas para o cultivo de tomate no Brasil
O cultivo de tomate no Brasil possui um grande potencial, especialmente com os avanços tecnológicos e o aumento da demanda por alimentos de alta qualidade. A modernização nas técnicas de irrigação, manejo de pragas e adubação têm possibilitado produções mais eficientes e rentáveis.
Os produtores que investem em práticas de cultivo modernas e sustentáveis conseguem não apenas atender as exigências do mercado interno, mas também ampliar suas oportunidades de exportação. Em um cenário de consumo cada vez mais consciente e focado na sustentabilidade, o tomate brasileiro tem um espaço promissor, desde que a produção esteja alinhada com as boas práticas agrícolas e as exigências de qualidade.
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