A classificação dos inseticidas no Brasil segue diretrizes científicas e regulatórias que permitem um controle eficiente das pragas agrícolas e a segurança no uso desses produtos. Esses defensivos desempenham um papel crucial na agricultura moderna, protegendo as lavouras contra insetos que podem comprometer a produtividade e a qualidade dos alimentos. 

Para isso, os inseticidas são organizados de acordo com características como o modo de ação, a composição química e os efeitos específicos sobre os organismos-alvo. Entre os critérios mais utilizados para classificar os inseticidas, o modo de ação é um dos principais. 

Ele se refere ao mecanismo pelo qual o produto interfere nos processos biológicos dos insetos, levando à sua eliminação. Essa abordagem é fundamental para o Manejo Integrada de Pragas (MIP), uma vez que possibilita o uso estratégico de diferentes classes químicas, reduzindo o risco de resistência dos insetos.

Neste conteúdo, exploraremos os diferentes grupos de inseticidas classificados conforme seu modo de ação. Esse conhecimento é essencial para produtores e técnicos agrícolas planejarem o manejo de pragas de forma eficiente, sustentável e dentro das regulamentações vigentes.

Inseticidas que atuam no sistema nervoso

Os inseticidas que atuam no sistema nervoso dos insetos representam uma das classes mais amplamente utilizadas no manejo de pragas. Eles interferem diretamente nas transmissões neurológicas, provocando a paralisação e, consequentemente, a morte dos insetos. Entre os subgrupos mais relevantes estão:

Inibidores da acetilcolinesterase

Esses inseticidas bloqueiam a enzima acetilcolinesterase, essencial para a transmissão de impulsos nervosos. Sem a ação dessa enzima, os sinais nervosos não conseguem ser interrompidos, causando hiperatividade, espasmos e, por fim, a morte do inseto. Exemplos comuns dessa classe incluem os organofosforados e os carbamatos.

Agonistas de receptores nicotínicos da acetilcolina

Produtos dessa categoria ativam de forma contínua os receptores nicotínicos nos neurônios dos insetos, resultando em sobrecarga do sistema nervoso. Neonicotinoides, como o imidacloprido, são exemplos conhecidos e amplamente empregados na agricultura.

Moduladores dos canais de sódio

Os moduladores dos canais de sódio, como os piretroides (deltametrina e cipermetrina, por exemplo), atuam mantendo os canais abertos ou fechados por tempo prolongado, interferindo na condução de impulsos nervosos. Essa ação leva à paralisia e morte do inseto.

Antagonistas de canais de cloro mediados por GABA

Esse grupo age bloqueando os canais de cloro associados ao neurotransmissor GABA, essencial para a regulação do sistema nervoso central dos insetos. Sem essa regulação, ocorre uma hiperatividade letal. Inseticidas como fenilpirazois e ciclodienos pertencem a essa categoria.

Moduladores de receptores de rianodina

Inseticidas dessa classe interferem no armazenamento e na liberação de cálcio no interior das células musculares dos insetos. Com a regulação muscular comprometida, os insetos morrem. As diamidas são exemplos comuns desse grupo.

Inseticidas reguladores de crescimento

Os reguladores de crescimento têm como foco impedir o desenvolvimento normal dos insetos, atuando em processos fundamentais como a muda e a metamorfose.

Inibidores da biossíntese de quitina

Esses inseticidas bloqueiam a formação de quitina, componente essencial para a constituição do exoesqueleto dos insetos. Sem essa estrutura, os insetos não conseguem completar suas mudanças de estágio, resultando em mortalidade. As benzoifenilureias são produtos dessa classe.

Mímicos do hormônio juvenil

Essa classe imita os efeitos do hormônio juvenil dos insetos, mantendo-os em estágios imaturos. Isso impede a reprodução e a continuidade do ciclo de vida. Metopreno e piriproxifeno são exemplos dessa categoria.

Inseticidas que atuam no sistema digestivo

Os inseticidas que afetam o sistema digestivo dos insetos geralmente se baseiam em compostos microbianos ou bioativos que comprometem a integridade do trato digestivo. Esse mecanismo também é eficaz para insetos que se alimentam de tecidos vegetais tratados com esses defensivos.

Disruptores microbianos da membrana do mesêntero

Produtos como o Bacillus thuringiensis (Bt) produzem toxinas que se ligam às células da membrana do mesêntero dos insetos, impedindo a absorção do alimento, causando perfurações e consequente ruptura do órgão. Esse processo leva à interrupção da digestão e à morte do inseto, sendo amplamente utilizado no manejo de lagartas.

Inseticidas inibidores da respiração celular

Os inseticidas que interferem na respiração celular afetam processos metabólicos essenciais nos insetos. Essas substâncias atuam principalmente na cadeia de transporte de elétrons ou na síntese de ATP, inviabilizando a produção de energia.

Inibidores do transporte de elétrons da mitocôndria

Esses produtos bloqueiam a transferência de elétrons dentro das mitocôndrias, órgão responsável pela geração de energia nas células dos insetos, por meio da inibição da enzima NADH oxido-redutase. Sem energia, os insetos não conseguem sobreviver. Entre os ingredientes ativos dessa classe estão a rotenona e o fenazaquin.

Inibidores da ATP sintetase mitocondrial

Esse grupo impede a formação de ATP, molécula responsável pelo fornecimento de energia. Ao comprometer esse processo, o inseto é incapaz de realizar funções vitais, resultando em morte. Os grupos químicos organoestânico e diafentiuron são exemplos desse mecanismo de ação.

O conhecimento dos mecanismos de ação e a alternância desses produtos é essencial para um bom uso dessas tecnologias no campo.

Rotação dos modos de ação: estratégia eficaz para o controle de pragas

A rotação dos modos de ação é uma das práticas mais recomendadas para o manejo sustentável de pragas agrícolas. Essa estratégia consiste em alternar o uso de inseticidas com diferentes modos de ação, evitando que populações de insetos resistentes sejam selecionadas.

Benefícios da rotação dos modos de ação

A implementação de uma rotação adequada traz uma série de benefícios para os produtores e para a sustentabilidade da agricultura:

  • prevenção da resistência de pragas: a alternância entre modos de ação reduz a exposição contínua das pragas a um mesmo mecanismo, limitando as chances de seleção de organismos resistentes. 
  • maior durabilidade das tecnologias no campo: com a resistência sob controle, os inseticidas disponíveis no mercado mantêm sua eficácia ao longo dos anos, prolongando o uso de tecnologias inovadoras 
  • controle mais eficiente e duradouro: o uso estratégico de inseticidas com diferentes modos de ação permite que as pragas sejam atingidas por múltiplos mecanismos, o que aumenta a taxa de mortalidade e melhora os resultados do manejo.
  • redução do custo de produção a longo prazo: embora a rotação exija planejamento e conhecimento técnico, ela pode gerar economia significativa ao evitar perdas de produção causadas por falhas no controle e reduzir a necessidade de aplicações desnecessárias de produtos.

Como implementar a rotação de mecanismos de ação

A rotação de modos de ação requer planejamento técnico e conhecimento sobre as pragas-alvo e os produtos disponíveis. Algumas orientações para a aplicação eficaz dessa prática são:

  • planejamento do MIP: é fundamental integrar a rotação de mecanismos de ação com outras práticas, como o uso de controle biológico, rotação de culturas e monitoramento constante das populações de pragas.
  • alternância entre safras e ciclos: a rotação deve ser planejada para abranger diferentes estádios do ciclo da cultura, para atingir a maior diversidade possível de pragas em diferentes fases de desenvolvimento.
  • treinamento e capacitação: produtores e trabalhadores devem ser treinados para reconhecer a importância da rotação e aplicar os inseticidas corretamente, respeitando as doses e os intervalos recomendados.

O conhecimento dos modos de ação e a prática de rotação não é apenas uma ferramenta técnica, é também uma prática indispensável para a sustentabilidade da agricultura. Ao evitar a resistência de pragas e prolongar a vida útil das tecnologias, essa estratégia protege os investimentos dos produtores e contribui para a segurança alimentar do país.