A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes para a economia agrícola do Brasil, desempenhando um papel crucial na produção de açúcar e etanol, além de ser fonte de energia renovável por meio da biomassa. 

Com cerca de 9 milhões de hectares cultivados, o Brasil é o maior produtor mundial de cana, abastecendo os mercados interno e externo. No entanto, o sucesso dessa cadeia produtiva depende de práticas agrícolas eficientes e de um controle rigoroso de pragas e doenças que ameaçam a lavoura. 

Entre as pragas que mais impactam o setor, a cigarrinha-das-folhas (Mahanarva posticata) se destaca pelos prejuízos que pode causar à produtividade e à qualidade da cana.

A cigarrinha-das-folhas é uma das principais pragas da cultura da cana-de-açúcar no Brasil. Sua incidência tem preocupado produtores devido aos danos expressivos que causa nas lavouras, impactando diretamente a produtividade e a qualidade da cana. 

Este artigo detalha as características da Mahanarva posticata e os principais danos que causa, além das estratégias de controle que têm sido adotadas pelos produtores, incluindo o Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Cenário da cigarrinha-das-folhas na cana-de-açúcar no Brasil

A cultura da cana-de-açúcar é uma das mais importantes do Brasil, representando não apenas uma fonte significativa de açúcar, mas também de etanol, um biocombustível que posiciona o país como um dos maiores produtores globais. 

No entanto, com a expansão das áreas de cultivo, surgem novos desafios fitossanitários. Entre eles, destaca-se a crescente incidência da cigarrinha-das-folhas, praga que se estabeleceu como uma das mais nocivas nos canaviais brasileiros.

A Mahanarva posticata é amplamente encontrada em regiões tropicais e subtropicais, especialmente em áreas com condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento, como umidade e temperaturas elevadas. 

Nas últimas décadas, a praga tem sido cada vez mais presente nos canaviais do Centro-Sul do Brasil, a principal área produtora de cana-de-açúcar do país.

Como identificar a praga?

O gênero Mahanarva possui atualmente 46 espécies descritas. Na cana-de-açúcar, as espécies mais comuns são a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbiolata) e a cigarrinha-das-folhas (Mahanarva posticata), que causam danos significativos.

Os insetos adultos da cigarrinha-das-folhas possuem uma coloração predominantemente marrom-escura. A infestação é facilmente identificada pela presença de uma espuma esbranquiçada, semelhante à espuma de sabão, que envolve as ninfas e funciona como uma barreira protetora

As cigarrinhas são frequentemente apontadas por entomologistas como um dos grupos de insetos que mais prejudica a cultura da cana, causando perdas significativas na produção. 

Além da cana, a Mahanarva posticata também pode se hospedar em outras culturas, como sorgo, milho, arroz e diversas pastagens, ampliando seu impacto no agronegócio.

Seus aparelhos bucais, adaptados para sucção, apresentam uma organização especializada, sendo estreitamente ligados às glândulas salivares. Essas estruturas são adequadas para penetrar nos tecidos vegetais, permitindo que o inseto extraia a seiva da planta. 

As glândulas salivares são formadas por pares, cujos ductos se juntam em um ducto salivar central, que se abre na cavidade pré-oral, facilitando a liberação da saliva durante a alimentação.

Danos causados pela cigarrinha-das-folhas na cana-de-açúcar

Os indivíduos adultos da cigarrinha Mahanarva posticata provocam sérios danos às plantas ao se alimentarem da seiva, resultando no típico aspecto de “folhas queimadas” observado frequentemente em plantações de cana-de-açúcar. 

A extensão do sintoma de folhas queimadas é dependente do tamanho da população de insetos que se alimentam da cana e do estádio fisiológico da planta. As manchas necróticas que causam esse aspecto podem inclusive coalescer com o avanço da infestação.

Esse efeito ocorre porque, ao sugar a seiva das folhas, o inseto injeta uma saliva tóxica que altera a estrutura molecular das folhas. Essa alteração facilita a extração de nutrientes pelo inseto e danifica os vasos condutores da planta, levando à perda de glicose, reduzindo a taxa fotossintética, atrasando a maturação da cana e comprometendo o desenvolvimento da cultura afetada.

Outros sintomas característicos da presença da cigarrinha nos canaviais são estrias amareladas no limbo foliar, além do definhamento dos colmos e da perda de peso e açúcar, que comprometem a qualidade e a quantidade da produção.

As ninfas também podem ser danosas ao canavial, pois perfuram e contaminam as raízes, prejudicando a absorção de água e de nutrientes e forçando a planta a produzir novas raízes. Esse ataque resulta em desnutrição e desidratação da planta, especialmente durante o período chuvoso, quando a incidência das cigarrinhas é mais elevada.

Tais danos, causados pela Mahanarva posticata, podem comprometer significativamente a produtividade da cana-de-açúcar. Para mitigar esses prejuízos, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é fundamental, combinando diferentes práticas para reduzir a infestação de cigarrinhas de forma sustentável.

MIP no controle da cigarrinha-das-folhas

O MIP é uma estratégia que combina diferentes métodos de controle de forma integrada, para garantir a sustentabilidade da lavoura e minimizar os danos nas lavouras. No caso da cigarrinha-das-folhas, o MIP abrange práticas preventivas, culturais, biológicas e químicas para um controle mais eficaz e equilibrado. 

Entre as diversas vantagens do MIP, estão:

  • redução de custos: essa estratégia otimiza o uso de insumos e, consequentemente, diminui os custos ao longo do tempo.
  • eficiência no controle: com monitoramento constante, o MIP permite a aplicação precisa das medidas de controle, no momento e no local certos, garantindo melhores resultados no combate às pragas.
  • preservação da biodiversidade: o uso integrado de práticas biológicas e culturais ajuda a manter o equilíbrio do ecossistema local, promovendo a diversidade de espécies e o controle natural de pragas.
  • melhoria da qualidade do solo: a adoção de práticas culturais, como rotação de culturas e manejo do solo, contribui para a saúde do solo, aumentando sua fertilidade e capacidade de retenção de água.
  • resiliência da lavoura: por meio de uma gestão mais equilibrada e sustentável, o MIP torna as plantações mais resistentes a surtos de pragas e condições climáticas adversas.

A seguir falaremos da relevância do monitoramento para o MIP e os diferentes tipos de controle que o produtor tem à disposição.

A importância do monitoramento e da identificação precoce

Um dos pilares para o controle eficaz da cigarrinha-das-folhas é o monitoramento constante das lavouras. A identificação precoce da praga permite que as medidas de controle sejam aplicadas antes que a infestação alcance níveis críticos.

O monitoramento deve ser realizado de forma sistemática, com inspeções regulares nas áreas de cultivo. Além disso, o mapeamento das áreas de maior incidência permite uma aplicação mais precisa das estratégias de manejo.

O treinamento de trabalhadores para identificar os sinais da cigarrinha também é fundamental, garantindo que qualquer foco de infestação seja rapidamente controlado. A adoção de tecnologias, como drones e sistemas de sensoriamento remoto, também pode auxiliar no monitoramento, oferecendo uma visão mais ampla e precisa da lavoura.

Controle cultural

O controle cultural é uma das primeiras linhas de defesa contra a cigarrinha-das-folhas. Ele envolve práticas agrícolas que dificultam o desenvolvimento da praga, como a escolha de cultivares de cana mais tolerantes e o manejo adequado do solo. 

Manter o canavial livre de plantas daninhas e resíduos orgânicos que possam servir de abrigo para as ninfas é fundamental.

Outro ponto importante no controle cultural é a adoção de práticas que favoreçam o equilíbrio do ecossistema, como a rotação de culturas e a manutenção de áreas de refúgio para inimigos naturais da praga.

Controle biológico

O controle biológico da cigarrinha-das-folhas tem ganhado cada vez mais espaço entre os produtores. 

O uso de parasitoides, inimigos naturais da praga, é uma alternativa sustentável que contribui para a redução da população de Mahanarva posticata sem causar danos ao meio ambiente.

Entre os parasitoides mais comuns no controle biológico, estão pequenas vespas que atacam os ovos da cigarrinha, impedindo o desenvolvimento das ninfas. Outra estratégia eficiente é o uso de fungos entomopatogênicos que infectam e eliminam os adultos da cigarrinha, contribuindo para a redução da população da praga.

O controle biológico, quando bem implementado, pode ser uma ferramenta eficaz no controle da cigarrinha-das-folhas, especialmente em conjunto com outras estratégias de manejo.

Controle químico

O controle químico desempenha um papel crucial no manejo da cigarrinha-das-folhas, especialmente em situações em que o nível de infestação ameaça comprometer a produtividade da cana-de-açúcar. 

No entanto, sua aplicação deve ser realizada com extremo cuidado e, para isso, é indispensável seguir as recomendações técnicas com precisão.

  • Doses adequadas: a utilização de defensivos em doses corretas é fundamental para garantir a eficácia do controle. Aplicar uma dose menor do que a indicada pode não eliminar satisfatoriamente a praga, enquanto o uso excessivo pode provocar fitotoxicidade nas plantas.
  • Intervalos de aplicação: respeitar os intervalos recomendados entre as aplicações é essencial para que o produto mantenha sua eficácia durante todo o ciclo da praga. Aplicações muito frequentes podem favorecer a seleção de indivíduos resistentes, enquanto intervalos muito longos podem permitir o ressurgimento da cigarrinha em populações significativas.
  • Rotação de moléculas: a rotação de inseticidas com diferentes mecanismos de ação é uma estratégia-chave para evitar que a seleção de organismos resistentes ocorra. A alternância entre moléculas também ajuda a manter o controle eficiente a longo prazo.
  • Tecnologias de aplicação: utilizar tecnologias de aplicação avançadas, como bicos de pulverização adequados, sistemas de calibração e monitoramento das condições ambientais (como vento e temperatura), contribui para uma aplicação mais precisa e eficiente. Isso não só garante que o produto atinja diretamente as pragas, como também evita o desperdício e a deriva para áreas não-alvo.

Seguir essas práticas assegura que o controle químico da cigarrinha-das-folhas seja eficaz, seguro e sustentável, proporcionando resultados consistentes e minimizando riscos para o produtor.

Controle sustentável da cigarrinha é chave para a produtividade

O controle da cigarrinha-das-folhas na cana-de-açúcar é um desafio crescente para os produtores brasileiros. A praga, que se beneficia de condições climáticas favoráveis e da falta de manejo adequado, pode causar prejuízos significativos na produtividade e na qualidade da cana. 

No entanto, com a adoção de estratégias integradas de controle, como o controle cultural, o uso de defensivos químicos de forma criteriosa e o controle biológico com parasitoides, é possível mitigar os danos da Mahanarva posticata de maneira eficaz e sustentável.

O monitoramento constante e a identificação precoce são essenciais para evitar que a cigarrinha atinja níveis populacionais que comprometam a lavoura. 

Além disso, o Manejo Integrado de Pragas se mostra como a estratégia mais sustentável para garantir a longevidade das plantações de cana-de-açúcar no Brasil, permitindo que o país continue a liderar a produção de açúcar e etanol no cenário global.