A cana-de-açúcar está entre as principais culturas agrícolas brasileiras. No entanto, essa cadeia produtiva enfrenta grandes desafios na produção, entre eles, a ocorrência de pragas no campo.

A broca-gigante (Telchin licus) é uma das pragas mais prejudiciais à cultura da cana-de-açúcar no Brasil. Sua presença em áreas de cultivo tem gerado grandes preocupações entre produtores e pesquisadores devido aos danos severos que essa praga causa nas lavouras. 

Com condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento, a Telchin licus representa um desafio constante para a sustentabilidade e a produtividade do setor sucroalcooleiro.

Neste artigo, abordaremos as principais características para a identificação dessa praga e os danos causados à cana, além de apresentar as estratégias de controle adotadas, incluindo o Manejo Integrado de Pragas (MIP). 

O cenário da broca-gigante nos canaviais brasileiros

A cultura da cana-de-açúcar é um dos pilares da economia agrícola no Brasil, destacando-se na produção de açúcar, etanol e bioenergia. No entanto, o cultivo enfrenta ameaças como a broca-gigante, uma praga que tem se espalhado por várias regiões produtoras. 

A Telchin licus encontra condições favoráveis para o seu desenvolvimento principalmente em ambientes de alta umidade e temperaturas elevadas, fatores comuns em diversas áreas do país.

A extensão dos danos varia conforme as condições ambientais e o manejo adotado pelos produtores, afetando áreas significativas de cultivo. 

Em situações mais graves de danos no campo, as perdas podem ser expressivas, comprometendo não apenas o volume de cana disponível, mas também a produção de açúcar e etanol, o que resulta em impactos econômicos relevantes para o setor.

Características da broca-gigante e como identificá-la

A Telchin licus, também conhecida como broca-gigante, é uma espécie de mariposa cujas larvas são as responsáveis pelos danos à cana-de-açúcar. A identificação dessa praga começa pelo reconhecimento de suas principais fases de desenvolvimento: ovo, larva, pupa e adulto.

Os ovos da broca-gigante da cana possuem uma estrutura poliédrica, medindo cerca de 4 mm de comprimento e apresentando uma forma semelhante à de uma carambola, com cinco arestas salientes. Sua coloração pode variar entre verde e marrom. 

Quando as lagartas eclodem, elas penetram no solo e começam a perfurar a base da planta, criando uma galeria ascendente dentro do colmo. Durante seu desenvolvimento, essas lagartas podem destruir os dois ou três primeiros entrenós da cana e, em casos mais graves, formam galerias que chegam a atingir 1 metro de comprimento.

Ao final de seu desenvolvimento, a lagarta escava um orifício na base do colmo, que servirá como saída para o adulto, e constrói um casulo feito com fibras da cana, no qual se transforma em pupa. Quando os adultos emergem, eles copulam e as fêmeas depositam novos ovos, reiniciando o ciclo de vida da praga.

Os adultos de Telchin licus são mariposas de porte médio, medindo cerca de 3,5 cm de comprimento, com uma envergadura de 9 cm e asas escuras. Cada uma das asas anteriores possui uma faixa transversal branca, além de uma fileira de manchas brancas na região apical. As asas posteriores têm uma faixa branca em diagonal que se alarga próximo à margem interna e uma fileira de sete manchas avermelhadas na borda externa.

Os principais danos à cana-de-açúcar, contudo, são causados pelas larvas. Elas têm coloração branca, com uma mancha castanha de formato irregular localizada no pronoto, podendo alcançar até 8 cm de comprimento e 1,2 cm de largura. 

Esses insetos são responsáveis pela maior parte das perdas nas lavouras, devido à destruição dos colmos durante seu ciclo de vida.

Danos causados pela broca-gigante na cana-de-açúcar

Os danos provocados pela broca-gigante se concentram principalmente na fase larval, quando as larvas penetram nos colmos da cana-de-açúcar, criando túneis que destroem os tecidos internos da planta. 

Essa ação gera uma série de problemas que afetam a produtividade e a qualidade do produto final.

  • Perda de peso da planta: os danos mecânicos causados pela alimentação das larvas reduzem o peso dos colmos, resultando em uma diminuição direta na quantidade de matéria-prima disponível para a produção de açúcar e etanol.
  • Redução na qualidade da cana: as lesões internas nas hastes comprometem a qualidade da cana colhida, influenciando negativamente o teor de açúcar e o rendimento industrial.
  • Aumento da vulnerabilidade a doenças: as perfurações abertas pelas larvas da broca-gigante são portas de entrada para outros microrganismos patogênicos, como fungos e bactérias, que podem causar infecções secundárias, aumentando ainda mais os prejuízos.
  • Dificuldades na colheita: as plantas infestadas apresentam hastes quebradiças e ocas, o que pode dificultar a colheita mecânica, aumentando o custo operacional para os produtores.

Os impactos econômicos dessas perdas podem ser consideráveis, especialmente em áreas onde o manejo da praga não é realizado de forma eficiente. A falta de controle da Telchin licus pode levar a uma redução significativa na produtividade, dependendo do nível de infestação. 

Dessa forma, torna-se imprescindível conhecer as formas de controle do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para evitar tais danos no canavial.

Manejo Integrado de Pragas (MIP) no controle da broca-gigante

O controle da broca-gigante na cana-de-açúcar exige uma estratégia integrada, que combine diferentes métodos para reduzir a população da praga e minimizar os danos à lavoura. 

O MIP é um manejo amplamente recomendado, pois busca a utilização equilibrada do monitoramento e dos métodos culturais, biológicos e químicos, promovendo a sustentabilidade e a eficiência do controle.

  • Monitoramento

O monitoramento constante das lavouras é essencial para a detecção precoce da broca-gigante e para a implementação de medidas de controle eficazes. A identificação rápida dessa praga permite que os produtores tomem decisões informadas sobre o manejo, impedindo a propagação da infestação.

A inspeção regular das plantas é imprescindível para verificar sinais de perfurações nos colmos e a presença de larvas, garantindo um diagnóstico preciso da infestação. 

Com os dados coletados no monitoramento, é possível fazer uma análise de risco, permitindo que o produtor avalie o nível de infestação e determine a necessidade de intervenção com os diferentes tipos de controle disponíveis.

  • Controle cultural

O controle cultural envolve a adoção de práticas agrícolas que dificultam o desenvolvimento da praga e reduzem sua proliferação. 

Uma dessas práticas é a rotação de culturas, que consiste na alternância entre diferentes tipos de cultivo, interrompendo o ciclo de vida da Telchin licus, já que essa praga é altamente específica à cana-de-açúcar. 

Outra estratégia eficaz é a escolha de cultivares de cana mais tolerantes à broca-gigante, o que diminui a vulnerabilidade das plantas aos danos causados pela praga, contribuindo para o manejo mais eficiente da infestação.

  • Controle biológico

O controle biológico da broca-gigante tem ganhado relevância nos últimos anos, principalmente com o uso de parasitoides, que são inimigos naturais da praga. 

Os parasitoides, por exemplo, têm sido utilizados com sucesso no controle das larvas da Telchin licus, reduzindo a população da praga de forma natural e sustentável.

Além dos parasitoides, outros agentes biológicos, como bactérias e fungos entomopatogênicos, também podem ser introduzidos no campo para controlar a broca-gigante, diminuindo a população da praga no canavial.

Ao longo dos últimos anos, diversas pesquisas têm sido conduzidas com foco no controle biológico da broca-gigante. Estudos voltados para o desenvolvimento de métodos de criação de Telchin licus em laboratório, assim como a identificação e avaliação da eficiência de inimigos naturais, são fundamentais para promover o crescimento sustentável da cadeia produtiva da cana-de-açúcar.

  • Controle químico

O controle químico da broca-gigante (Telchin licus) é uma ferramenta importante no manejo da praga, especialmente em situações de alta infestação, quando outros métodos de controle, como o biológico e o cultural, não são suficientes para conter os danos. 

No entanto, é fundamental que o uso de inseticidas seja realizado de forma criteriosa, seguindo rigorosamente as recomendações técnicas e respeitando as boas práticas agrícolas.

Os inseticidas recomendados para o controle da broca-gigante são aplicados de forma direcionada, visando principalmente as fases iniciais de desenvolvimento das larvas, quando são mais vulneráveis. 

Essa aplicação deve ser feita no momento adequado, geralmente após o monitoramento cuidadoso das lavouras, para garantir a maior eficácia e reduzir o desperdício de produtos. O manejo químico também deve considerar a rotação de princípios ativos para evitar a seleção de populações resistentes da praga.

A escolha dos produtos também deve levar em consideração o período de carência, evitando resíduos nos colmos da cana que possam afetar a qualidade final do produto para a produção de açúcar, etanol ou bioenergia. O uso responsável e orientado de inseticidas não apenas protege a lavoura, mas também preserva o ecossistema agrícola, favorecendo a longevidade produtiva do canavial.

Desafios e soluções no controle da broca-gigante na cana-de-açúcar

A broca-gigante (Telchin licus) é uma praga de grande relevância para a cultura da cana-de-açúcar no Brasil e seu controle eficaz requer um manejo integrado que combine monitoramento e diferentes formas de controle. 

O conhecimento detalhado sobre as fases do ciclo de desenvolvimento da praga, assim como a identificação precoce dos danos, é essencial para minimizar as perdas e garantir a sustentabilidade do setor sucroalcooleiro.

Com a adoção de práticas de manejo adequadas, os produtores podem reduzir significativamente o impacto da broca-gigante nas lavouras, promovendo a sanidade do canavial e a competitividade da produção de açúcar e etanol no mercado global.