A soja é uma das culturas mais importantes para a economia brasileira, gerando empregos, receita e contribuindo para a balança comercial. No entanto, a produtividade e a qualidade da soja são constantemente ameaçadas por pragas e doenças que podem comprometer o rendimento das lavouras. 

O controle de pragas na cultura da soja é um desafio constante para os produtores, que precisam estar atentos às condições climáticas, ao manejo da lavoura e ao uso adequado de defensivos agrícolas.

Entre a vasta e importante diversidade de pragas, algumas vem se tornando mais frequentes, como os ácaros que, se não controlados corretamente, podem causar consideráveis prejuízos. Eles se destacam pelo rápido ciclo de vida, pela capacidade de reprodução em massa e pelo comprometimento da fotossíntese.

A seguir, abordaremos as principais espécies de ácaros que afetam a cultura da soja no Brasil, os danos que elas causam, as condições que favorecem sua ocorrência e as estratégias mais eficazes de controle.

Incidência de ácaros na cultura da soja 

Condições climáticas favoráveis, como altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, criam um ambiente propício para o desenvolvimento desses organismos. Os ácaros podem reduzir a produtividade da soja em diferentes níveis, dependendo da intensidade da infestação e das condições de manejo adotadas.

No Brasil, a incidência de ácaros em lavouras de soja tem aumentado significativamente nas últimas décadas, principalmente devido à intensificação do cultivo, uso inadequado de defensivos agrícolas e mudanças climáticas.

Diversas regiões brasileiras podem ser afetadas, principalmente em épocas do ano em que as condições ambientais favorecem a proliferação das espécies de ácaros que atacam a cultura. Além disso, o monitoramento insuficiente e a detecção tardia das infestações dificultam o controle, permitindo que os ácaros causem danos significativos antes que sejam tomadas medidas eficazes.

Principais espécies de ácaros na soja

Ácaro-verde (Mononychellus planki)

O ácaro-verde é uma das espécies mais prejudiciais para a cultura da soja. Esse ácaro é pequeno, de cor esverdeada e geralmente se localiza na parte inferior das folhas. O ácaro rompe as células dos folíolos da soja e se alimenta do líquido celular que acaba sendo extravasado no rompimento dessas células.

Esse hábito alimentar causa manchas amareladas e bronzeamento das folhas, o que pode levar à queda precoce e, consequentemente, à redução da área foliar responsável pela fotossíntese.

Ácaro-rajado (Tetranychus urticae)

O ácaro-rajado é outra espécie comum em lavouras de soja. Caracterizado por sua coloração avermelhada ou esverdeada, com manchas escuras no dorso, esse ácaro é conhecido por sua alta capacidade de reprodução, o que torna o controle ainda mais desafiador.

Ele também se alimenta da seiva das folhas, deixando um aspecto prateado ou acinzentado na planta, que pode culminar na perda total da folhagem em casos extremos.

Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus)

O ácaro-branco é uma praga de difícil detecção a olho nu, devido ao seu tamanho extremamente reduzido e à sua coloração clara.

Esse ácaro ataca principalmente as extremidades da planta, como brotos novos, causando deformações e encurtamento dos entrenós. Isso resulta em uma planta atrofiada, com menor desenvolvimento e produtividade reduzida.

Ácaros vermelhos (Tetranychus desertorum, Tetranychus gigas e Tetranychus ludeni)

Os ácaros vermelhos, incluindo várias espécies do gênero Tetranychus, são reconhecidos por sua coloração avermelhada e pela teia fina que produzem, que pode cobrir as folhas e caules das plantas infestadas.

Esses ácaros provocam danos semelhantes aos do ácaro-rajado, mas são ainda mais agressivos sob condições de calor extremo e baixa umidade.

Danos causados pelos ácaros na soja

Os danos causados pelos ácaros na soja variam conforme a intensidade da infestação e o estádio de desenvolvimento da cultura.

Inicialmente, os ácaros provocam manchas esbranquiçadas ou amareladas nas folhas, resultantes da sucção da seiva. Com o avanço da infestação, as folhas tornam-se amareladas, secam e caem prematuramente. Isso compromete o processo de fotossíntese, essencial para o crescimento e o enchimento dos grãos, resultando em menor produtividade.

Além dos danos diretos, os ácaros também podem facilitar a entrada de vírus e bactérias, que podem se estabelecer com maior facilidade em plantas já enfraquecidas. Ademais, o estresse causado pela infestação de ácaros reduz a capacidade de defesa natural da planta, tornando-a mais suscetível a uma ampla gama de doenças. 

Em casos extremos, as infestações severas podem levar à perda total da safra, representando um prejuízo considerável para o produtor. Assim, o manejo adequado dos ácaros não só previne os danos diretos à lavoura, mas também é fundamental para evitar a propagação de organismos que podem se instalar na planta a partir das injúrias nas folhas.  

Condições favoráveis para a ocorrência de ácaros

Os ácaros prosperam em condições de clima quente e seco, comuns em várias regiões produtoras de soja no Brasil, especialmente durante o verão.

Altas temperaturas aceleram o ciclo de vida desses organismos, que podem completar uma geração em menos de uma semana, dependendo da espécie e das condições ambientais. Baixa umidade relativa do ar também favorece a reprodução dos ácaros, já que a ausência de umidade dificulta a proliferação de fungos entomopatogênicos que poderiam atuar como agentes de controle natural.

A monocultura e a ausência de práticas de rotação de culturas também contribuem para o aumento da incidência de ácaros, pois criam um ambiente contínuo para o desenvolvimento dessas pragas. 

Outro fator crítico é o manejo inadequado da vegetação às margens das lavouras, como a falta de controle das plantas espontâneas nas bordas dos campos, que podem servir de hospedeiras para os ácaros. Essas áreas não manejadas funcionam como refúgios para as pragas, facilitando a reinfestação das lavouras cultivadas e dificultando o controle efetivo dos ácaros na cultura principal.

O aumento da incidência de ácaros na soja nas últimas safras tem sido significativamente relacionado às condições climáticas, cabendo destacar o impacto do fenômeno El Niño nos últimos anos. Em anos com a presença desse fenômeno, é comum ocorrerem períodos prolongados de calor intenso e baixa umidade, criando um ambiente altamente favorável para a proliferação de ácaros nas lavouras de soja.

 Além disso, o estresse hídrico causado pela escassez de chuvas, enfraquece as plantas de soja, tornando-as mais suscetíveis ao ataque dos ácaros. Como resultado, os produtores enfrentam desafios adicionais no manejo dessas pragas durante esses períodos, exigindo uma atenção redobrada no monitoramento e no controle integrado para evitar perdas significativas na produtividade.

Métodos de controle dos ácaros na soja

O controle dos ácaros na soja requer uma estratégia integrada que combine diferentes métodos para garantir resultados eficazes e sustentáveis.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é chave nesta estratégia, podendo ser feito com base em diversas ferramentas, como os métodos culturais, biológicos e químicos, sempre após o frequente monitoramento e a identificação. 

Manejo Integrado de Pragas (MIP)

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma estratégia sustentável que combina diversas práticas de controle, visando minimizar o impacto ambiental e proporcionar uma proteção eficiente do potencial produtivo da cultura.

Práticas dentro do MIP buscam manter as populações de ácaros abaixo do nível de dano econômico, preservando inimigos naturais e os momentos corretos de intervenções. Para assegurar a correta tomada de decisão, de acordo com níveis de controle, o monitoramento deve ser constante. 

A importância do monitoramento e da identificação de ácaros

A identificação correta das espécies de ácaros presentes na lavoura é fundamental para o sucesso no controle. O monitoramento regular, com inspeções visuais das folhas, ajuda a detectar infestações em estágio inicial, permitindo intervenções mais eficazes. 

Ferramentas como lupas de aumento podem ser úteis na identificação dos diferentes tipos de ácaros. A identificação da presença de ácaros na área auxilia na tomada de decisão sobre a necessidade e o momento do produtor tomar as medidas corretivas para que a infestação não se torne severa. 

Essa prática, além de reduzir possíveis prejuízos ao produtor, contribui para a redução de custos com insumos e preservação do agroecossistema como um todo. 

Além disso, o monitoramento contínuo da lavoura permite que o produtor avalie a eficácia das estratégias de controle adotadas e faça ajustes conforme necessário. A utilização de ferramentas tecnológicas, como drones e sistemas de análise de imagens, pode complementar o monitoramento manual, oferecendo dados precisos e em tempo real sobre o estado da lavoura.

Controle cultural

O controle cultural visa criar condições desfavoráveis para o desenvolvimento dos ácaros por meio do manejo adequado da lavoura. Entre as principais estratégias, está a rotação de culturas, que quebra o ciclo de vida dos ácaros ao alternar espécies vegetais.

A adubação balanceada e o manejo correto da irrigação também são cruciais, pois plantas bem nutridas e com boa disponibilidade hídrica são menos suscetíveis ao estresse, tornando-se mais resistentes ao ataque. Importante considerar que a manutenção da cobertura vegetal e o plantio direto também ajudam a controlar a população de ácaros, pois preservam a umidade do solo e promovem o equilíbrio ecológico da área cultivada.

Além disso, a escolha de variedades de soja mais adaptadas às condições climáticas locais pode reduzir o risco de infestação, já que plantas vigorosas tendem a suportar melhor as pragas, de maneira geral. Essas práticas culturais devem ser aplicadas sempre que possível e realizadas de maneira conjunta com as demais técnicas de controle. 

Controle biológico

O controle biológico dos ácaros é uma opção sustentável, e envolve o uso de inimigos naturais, como ácaros predadores, insetos predadores e fungos entomopatogênicos. Esses agentes biológicos são uma alternativa eficaz que pode complementar outras práticas de controle. 

O uso de ácaros predadores tem mostrado resultados satisfatórios no controle de populações de ácaros-rajados e ácaros-verdes. Entre os agentes biológicos mais utilizados podemos citar o Phytoseiulus persimilis, que se alimenta de espécies como o ácaro-rajado, e os fungos entomopatogênicos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, que ajudam no controle de ácaros e outras pragas. 

Controle químico

O controle químico dos ácaros na soja é a prática mais comum utilizada pelos produtores, por sua capacidade de reduzir rapidamente as populações dessas pragas, especialmente em situações de alta infestação. Embora a aplicação ocorra geralmente no início da infestação, visando maximizar a eficácia e reduzir o número de pulverizações necessárias, deve-se realizar com cautela para evitar a seleção de populações resistentes. 

É importante utilizar produtos específicos para ácaros, conhecidos como acaricidas, e seguir as recomendações de dosagem, intervalos, período e condições ambientais de aplicação indicadas pelos fabricantes.

A aplicação de acaricidas ocorre preferencialmente nos estágios iniciais da infestação, quando a população de ácaros ainda está baixa, para garantir maior eficácia no controle e minimizar o risco de danos severos à lavoura.

A rotação de acaricidas com diferentes modos de ação também é crucial para evitar a resistência. Outro aspecto a ser considerado é que o uso inadequado desses produtos pode eliminar os predadores naturais dos ácaros, podendo agravar o problema a longo prazo.

Os ácaros são uma ameaça significativa à cultura da soja no Brasil, com potencial para causar grandes prejuízos econômicos, se não controlados corretamente. A adoção de um controle integrado que combina monitoramento regular e os diferentes métodos de controle do MIP, incluindo o uso criterioso de acaricidas, é fundamental para proteger a lavoura e garantir a sustentabilidade da produção de soja no país.

O conhecimento das principais espécies, dos danos que causam e das condições favoráveis ao seu desenvolvimento é essencial para o manejo eficaz dessas pragas. A colaboração entre produtores, técnicos agrícolas e pesquisadores também tem um papel crucial na disseminação de informações e na adoção de novas tecnologias para manter a eficácia das estratégias de combate aos ácaros.

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