A citricultura brasileira, líder global em produção de suco e frutas frescas, viveu, na safra 2024/25, um período de aprendizado e resiliência. Apesar de consolidar-se como a segunda menor produção em 37 anos, os desafios enfrentados — secas históricas, pressão de pragas e exigências de mercado — revelaram caminhos estratégicos para fortalecer o setor.

Essa temporada destacou a importância de soluções inovadoras e conhecimento técnico para superar os principais desafios climáticos e fitossanitários que o setor enfrenta.

Neste artigo, veja a análise completa dos resultados, os desafios e as perspectivas da safra de citrus 2024/25 publicados pela Fundecitrus, destacando como fatores climáticos, pragas e inovações estão redefinindo o futuro da citricultura brasileira.

Panorama da safra de citrus 2024/25

A safra de citrus 2024/25 destacou-se como a segunda menor em 37 anos, com 230,87 milhões de caixas produzidas no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro. O clima não colaborou – choveu menos do que o esperado e os termômetros marcaram temperaturas acima do normal – nem as pragas e doenças, que fizeram com que os frutos amadurecessem mais rápido e perdessem qualidade. 

Regionalmente, o cinturão citrícola apresentou desempenho heterogêneo, com setor sudoeste liderando com produtividade de 897 caixas/hectare, seguido dos setores sul, norte, centro e noroeste. Dentre eles, o setor centro enfrentou a maior taxa de queda de frutos, de 20,5%, quase 3% percentuais a mais do que a média do cinturão agrícola, que foi de 17,8%.

Esse cenário reforça a importância de planos regionalizados para o manejo adequado de pragas e doenças nos pomares e evidencia oportunidades para replicar boas práticas e fortalecer a resiliência das plantações em áreas críticas.

Pomar de citrus com frutos caídos, um dos problemas da safra 2024/25.
A região centro do cinturão citrícola foi a que apresentou a queda mais acentuada de frutos na safra de citrus 2024/25.

Apesar da estabilidade na área plantada, a produção total da safra 2024/25 foi quase um quarto menor que a anterior, resultado da estiagem durante a fase crítica de floração. No entanto, as chuvas tardias trouxeram alívio parcial ao impulsionar a quarta florada, mitigando parte das perdas da temporada, que poderiam ser maiores.

Em termos qualitativos, o peso médio dos frutos ficou abaixo do projetado, enquanto variações no teor de Brix – indicador de sólidos solúveis – refletiram os efeitos do estresse hídrico na qualidade do suco.

Entre as variedades, a Valência e a Folha Murcha mostraram resiliência, com aumento de 2,4% na produção, equivalente a quase 76 milhões de caixas. Em contraste, as variedades Pêra Rio e Natal registraram um aumento modesto, enquanto as variedades precoces, como Hamlin, Westin e Rubi, mantiveram estabilidade.

Principais desafios enfrentados pelos citricultores

A safra 2024/25 expôs obstáculos críticos que demandaram adaptações e soluções inovadoras. Além da queda na produção em relação à temporada anterior, fatores, como mudanças climáticas e o avanço de pragas e doenças, pressionaram a rentabilidade e elevaram os custos operacionais.

O período entre maio e agosto de 2024 registrou 31% menos chuvas que o previsto, com temperaturas máximas até 4 °C acima da média, de acordo com dados da Climatempo Meteorologia. Em regiões como Bebedouro, o déficit pluviométrico chegou a 41%, comprometendo o desenvolvimento inicial dos frutos.

Mapa mostrando a relação da precipitação acumulada nos Estados brasileiros entre maio e agosto de 2024.
Precipitação acumulada entre maio e agosto de 2024 foi insuficiente para a safra de citrus 2024/25, reforçando a necessidade de cuidado com o solo e com as raízes das plantas. Fonte: INMET

Por isso, práticas como o cuidado com a saúde do solo e com as raízes das plantas podem ser muito positivas nessas situações, ao aumentar a tolerância das plantas às condições de estresse hídrico e proteger a produção dos pomares mesmo em situações climáticas adversas.

Paralelamente, o greening (HLB) persistiu como a principal ameaça, se posicionando como a causa primordial da queda de frutos na safra 2024/25, com 25 milhões de caixas perdidas devido à queda prematura dos frutos. Em seguida, o bicho-furão e as moscas-das-frutas contribuíram com 12 milhões de caixas perdidas. Outros desafios incluíram a pinta-preta, a leprose e o cancro-cítrico, que, juntos, levaram à perda de mais de 3 milhões de caixas.

Gráfico mostrando as principais causas da taxa média de queda de frutos na safra 2024/25 no cintrurão citrícola.
Principais causas que compuseram a taxa média de queda de frutos na safra de citrus 2024/25, que foi de 17,8%. Fonte: Fundecitrus

Apesar disso, a safra trouxe aprendizados valiosos: o manejo integrado de pragas, como o bicho-furão e as moscas-das-frutas, se mostrou essencial para reduzir impactos, e o monitoramento preventivo de doenças dos citrus, como a pinta-preta, a leprose e o cancro-cítrico, tiveram um papel essencial.

Na safra anterior, o bicho-furão e as moscas-das-frutas foram responsáveis por cerca de 5% da taxa de queda de frutos, equivalente à perda de 19 milhões de caixas. Já na safra 2024/25, foi observada a redução de quase um ponto percentual desse indicador, que levou à perda de somente 12 milhões de caixas. A mesma tendência de redução percentual nas causas da queda de frutos foi observada para as doenças dos citrus.

Embora o manejo de pragas e doenças e a colheita antecipada, em razão das condições climáticas adversas, tenham elevado custos operacionais, destaca-se a importância de uma  logística otimizada e uma gestão de recursos estratégica na safra 2024/25, reforçando a necessidade de sistemas de armazenamento eficientes e parcerias comerciais flexíveis, capazes de equilibrar a pressão sobre os preços.

As exportações na safra 2024/25, embora limitadas pela qualidade dos frutos, abriram espaço para investimentos em certificações e rastreabilidade. Nesse contexto, a adoção de práticas sustentáveis e tecnologias digitais ganharam a atenção dos citricultores brasileiros.

Inovações e sustentabilidade: avanços na safra 2024/25

A safra 2024/25 destacou a adoção de tecnologias digitais e práticas sustentáveis, que permitiram mitigar riscos e otimizar o manejo do citricultor. É o que discutiram Márcio Soares, gerente de pesquisa e desenvolvimento agrícola na Agroterenas, Anderson Zafra, consultor de citrus e Lívia Parise, RTV Syngenta Digital:

Nesse contexto, vale destacar o uso de bioinsumos, que têm ganhado cada vez mais espaço entre os citricultores, por se tratarem de soluções eficazes, sustentáveis e compatíveis com outras estratégias do MIP. Bioinsumos referem-se a produtos elaborados com base em elementos naturais, como microrganismos, extratos de plantas, podendo ser aplicadas para diversos fins, incluindo:

  • controle de pragas e doenças;
  • promoção do crescimento das plantas;
  • solubilização e fixação de nutrientes;
  • melhoria da qualidade biológica do solo;
  • melhor aproveitamento da água.

Até 2032, o CEPEA projeta um crescimento de até 14% no mercado de bioinsumos, sendo essa tendência já visualizada pelo aumento no registro de produtos biológicos no Brasil nos últimos anos.

Apesar dos desafios, a safra 2024/25 teve avanços notáveis, que mostraram que existem diversos caminhos para lidar com as adversidades climáticas, e soluções inovadoras, que estarão cada vez mais presentes no dia a dia do produtor brasileiro. O futuro da citricultura dependerá de ampliar essas práticas inovadoras, garantindo que a próxima década não seja apenas de recuperação, mas de transformação rumo a um modelo sustentável e resiliente.

A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.

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