A safra brasileira de cana-de-açúcar 2024/25 chega ao fim marcada por adversidades climáticas e ajustes de mercado.
Depois de uma temporada 2023/24 histórica, os produtores enfrentaram um cenário desafiador, especialmente na Região Centro-Sul, que responde por mais de 90% da produção nacional. A combinação de estiagem, ondas de calor e queimadas em áreas produtivas comprometeu a produtividade e reduziu o volume total colhido em relação ao ciclo anterior.
Embora a área colhida tenha registrado aumento, a produtividade sofreu uma queda expressiva em diversas áreas, impactando a produção total de cana. Neste artigo, vamos analisar o desempenho da safra de cana 2024/25, as principais influências climáticas e fitossanitárias, além de analisar as projeções para o futuro da cultura: o que esperar da safra de cana 2025/26? Confira!
Produção e produtividade: como foi a safra de cana 2024/25?
A safra de cana 2024/25 começou com grandes expectativas, especialmente após o desempenho recorde da safra 2023/24. No entanto, o ciclo 2024/25 foi profundamente afetado por condições climáticas desafiadoras, que impactaram diretamente tanto a produtividade quanto a produção total.
Para entender o desempenho dessa safra, é necessário olhar para os fatores que influenciaram o ciclo e compará-los com o ciclo anterior.
O contexto climático e os desafios enfrentados
O ano de 2024 foi marcado por uma combinação de baixa pluviometria e altas temperaturas, especialmente nas regiões Centro-Sul e Sudeste, que são responsáveis pela maior parte da produção de cana no Brasil. Essas condições climáticas não foram favoráveis para o desenvolvimento ideal da planta.

A Região Centro-Sul, que representa 91% da produção nacional, foi severamente impactada por essas ondas de calor e falta de chuvas. A escassez de água prejudicou a fotossíntese e a maturação da cana, resultando em uma redução no Índice de Açúcar Total Recuperável (ATR). Esse fator é crucial, pois o ATR é um indicador da qualidade da cana e sua queda refletiu diretamente na menor quantidade de açúcar produzido por tonelada de cana.
Além disso, outro fator crítico foi a incidência de queimadas nos canaviais, especialmente em São Paulo, que afetaram diretamente o desempenho das lavouras. As queimadas históricas prejudicaram a qualidade da cana, reduziram a capacidade de brotação e geraram grandes perdas nas áreas afetadas – e as consequências devem se estender a longo prazo.
Os impactos foram causados principalmente por incêndios não controlados, que atingiram canaviais em diferentes fases de desenvolvimento. Esses incêndios, muitas vezes provocados por condições climáticas extremas, como ondas de calor e seca, causaram perdas significativas nas lavouras, especialmente em áreas onde a cana já estava em fase de maturação.
Comparando com a safra anterior: produção total e produtividade da safra de cana 2024/25
De acordo com o 4º levantamento da Conab, o Brasil colheu 676,9 milhões de toneladas de cana na safra 2024/25, representando uma queda de 5,1% em relação à safra anterior, que alcançou 713 milhões de toneladas. Esse declínio reflete as condições climáticas e também a readequação do mix de produção, com um foco maior na produção de açúcar em detrimento do etanol, devido à valorização do preço do adoçante no mercado internacional.

Embora a área colhida tenha aumentado em 5,2%, totalizando 8,77 milhões de hectares, a produtividade média nacional foi de 77,2 t/ha, uma queda de 9,8% em relação à safra 2023/24, quando a produtividade média foi de 85,6 t/ha. Essa diminuição na produtividade foi um dos principais efeitos das condições climáticas adversas, que impactaram o desenvolvimento das lavouras, especialmente em Estados produtores chave, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
Desempenho regional e qualidade da matéria-prima
A análise por Estados revela cenários distintos: enquanto São Paulo, maior produtor nacional, registrou 353,5 milhões de toneladas (-7,8%), Goiás apresentou crescimento de 2,6% (78,6 milhões de t), demonstrando resiliência às intempéries. Em contraste, Sergipe sofreu queda acentuada de 19,2% na produção, reflexo da severa estiagem no Nordeste.
Apesar da redução no volume, a qualidade da cana colhida apresentou melhoria, com o Açúcar Total Recuperável (ATR) médio atingindo 137,36 kg/t (+2,1% ante 2023/24), conforme dados da Conab. Esse incremento na concentração de açúcar por tonelada foi particularmente relevante em Alagoas (+8,3% no ATR) e Pernambuco (+8,9%), compensando parcialmente as perdas de produtividade.
A colheita mecanizada alcançou 92,4% da área nacional, com destaque para São Paulo (98,2%) e Mato Grosso (100%), reduzindo perdas e aumentando a eficiência operacional. Paralelamente, o etanol de milho emergiu como um importante complemento à produção tradicional, com crescimento de 32,4% (7,84 bilhões de litros), especialmente no Centro-Oeste, onde responde por 23% do etanol total produzido na região.
Açúcar e etanol: volume produzido, participação no mercado interno e exportações na safra de cana 2024/25

A produção de açúcar sofreu uma queda de 3,4%, totalizando 44,1 milhões de toneladas na safra 2024/25, após um ciclo 2023/24 recorde. A menor produção foi refletida pelo mix de produção que favoreceu o açúcar devido à alta dos preços internacionais. O Brasil manteve sua posição de maior produtor e exportador mundial de açúcar, com volumes estáveis, mas com uma diminuição de receita devido à queda de preços no mercado global.
A produção total de etanol caiu 1,1%, alcançando 29,35 bilhões de litros. Essa redução foi impulsionada pela diminuição na disponibilidade de cana, que afetou tanto o etanol anidro quanto o hidratado. A produção de etanol hidratado teve leve crescimento, devido à alta demanda interna, enquanto o etanol anidro, usado como aditivo na gasolina, viu sua produção diminuir devido à migração da cana para a produção de açúcar.
Sobre o mix de produção, a proporção de açúcar na produção total de cana seguiu alta em 2024/25, com o aumento dos preços no mercado externo impulsionando as usinas a direcionar mais matéria-prima para o adoçante. Já o etanol, apesar de sua importância para a matriz energética, viu sua produção restringida devido à alta competitividade dos preços do açúcar e à menor disponibilidade de cana.
Em relação às exportações, o Brasil continua sendo o maior exportador de açúcar, com 35,1 milhões de toneladas exportadas.
No entanto, a receita com açúcar caiu 8,2%, um reflexo das menores cotações internacionais. As exportações de etanol, por outro lado, caíram 31%, com 1,75 bilhão de litros embarcados no ciclo, impactado pela menor produção e pelo mercado interno aquecido.
Cenário de preços e comercialização: comportamento dos preços, relação entre etanol e gasolina, demanda global e oportunidades para o Brasil

Em 2024/25, os preços do açúcar apresentaram alta no mercado externo, motivada pela escassez de oferta global e pela forte demanda de principais consumidores, como Índia e China. Contudo, a redução na produção e o aumento nas exportações de açúcar não compensaram completamente o impacto negativo nos preços.
Como dissemos, de acordo com o relatório da Conab, a receita com a exportação de açúcar caiu 8,2%, devido à queda nos preços internacionais, que ficaram 12,86% abaixo do ano anterior. Embora o volume exportado tenha se mantido estável, os preços menores impactaram a receita do setor.
O mercado de etanol foi beneficiado pela alta dos preços da gasolina, já que o etanol é utilizado como aditivo para reduzir o impacto causado pelo aumento do preço do combustível no preço final ao consumidor.
A política de substituição de gasolina por etanol no Brasil tende a manter a demanda aquecida, especialmente durante os períodos de entressafra de cana. A produção de etanol de milho, que vem ganhando importância, também ajudou a sustentar a oferta de etanol, complementando a produção de cana.
Nesse cenário, é importante considerar que o Brasil segue com grandes oportunidades no mercado global de etanol, especialmente com o aumento da produção de etanol de milho, que pode suprir a demanda interna e exportar volumes adicionais para mercados, como os Estados Unidos e a União Europeia.
A expansão das usinas de etanol baseadas no milho é uma tendência crescente que fortalece a posição do Brasil no mercado de biocombustíveis, especialmente em um contexto de crescente demanda global por alternativas energéticas mais sustentáveis.
Perspectivas para a safra de cana 2025/26: expectativa de área plantada, tendências de mercado e influência climática
Para a safra de cana 2025/26, as expectativas são de uma recuperação gradual, tanto na área plantada quanto na produtividade, mas ainda com algumas sequelas das queimadas de 2024.
Segundo dados da Datagro, espera-se que o Centro-Sul processe 612 milhões de toneladas de cana, representando uma queda de 1,4% em relação à safra anterior, que registrou 621 milhões de toneladas. Essa redução é atribuída aos impactos de incêndios e seca que afetaram cerca de 450 mil hectares de canaviais.
Já para o USDA, a projeção para a safra de cana 2025/26 é de uma produção total de 671 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no Brasil, com a Região Centro-Sul respondendo por 618 milhões de toneladas e a Região Norte-Nordeste estimada em 53 milhões de toneladas. Apesar das adversidades climáticas em 2024, que afetaram o desenvolvimento das lavouras, o Brasil segue como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e açúcar.
O setor sucroenergético projeta expansão na área cultivada, com a previsão de novos investimentos em tecnologias agrícolas que visem aumentar a eficiência da produção e reduzir as perdas por estresse climático.
A safra de cana-de-açúcar 2024/25 foi um ciclo desafiador, com resultados abaixo das expectativas, refletindo as dificuldades enfrentadas pelos produtores. Mas, apesar dos desafios, o Brasil mantém sua posição como líder mundial na produção e na exportação de açúcar, com boas perspectivas para o futuro.
Para o ciclo 2025/26, as expectativas são positivas, com projeções de recuperação na produtividade, impulsionadas por chuvas mais regulares e pelo aumento da adoção de tecnologias de manejo.
O setor continua investindo em inovação e práticas agrícolas mais eficientes, com o objetivo de melhorar a resiliência da cultura ao clima e maximizar a sustentabilidade das lavouras. Os produtores de cana têm a oportunidade de se ajustar às novas exigências do mercado, aproveitando as tendências positivas tanto no mercado de açúcar quanto no de etanol, garantindo uma produção mais eficiente e competitiva nos próximos ciclos.
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