Se já não bastassem os problemas de abastecimento que a cadeia de produção de grãos tem enfrentado no Brasil, com a quebra das produtividades de milho e soja por conta das adversidades climáticas que acometeram as lavouras neste último ciclo, a comercialização dos produtos brasileiros encontra também dificuldades na logística de grãos, sistema que depende de frotas de caminhão para deslocamento interno e estrutura em embarcações para exportação.
Com a conclusão da safra 2021/22 de soja e o avanço da colheita do milho safrinha, profissionais da cadeia se preocupam com a distribuição dos produtos, diante dos altos preços dos fretes, frente aos valores elevados do combustível, e do recuo da demanda externa pela desvalorização do real.
Os problemas relacionados ao transporte dos grãos não são exclusividade do ano de 2022, sendo o cenário atual fruto da desestabilização do setor logístico ao longo do tempo. Antevendo a possível crise da logística de grãos, o Governo Federal estuda, desde 2017, a construção da Ferrogrão, ferrovia que ligaria Sinop (MT), centro nacional da produção de soja e milho, às margens do Rio Tapajós, em Itaituba (PA), facilitando transporte e distribuição, com diminuição dos custos.
Atual cenário da logística de grãos no Brasil
Quinto maior país do planeta e de importância global no abastecimento de produtos agrícolas, o Brasil depende um quarto do seu PIB (Produto Interno Bruto) ao setor do agronegócio, que movimenta mais de um bilhão de toneladas em cargas anualmente, considerando produtos alimentícios, insumos, biocombustíveis, fertilizantes, defensivos e maquinários, segundo o ESALQ-LOG (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial).
A extensão territorial e as grandes distâncias que separam as regiões produtoras representam dificuldades para a logística de grãos. Ainda que a produtividade nas lavouras venha se mantendo em boa performance, com as tecnologias inovadoras e o amplo conhecimento dos produtores em manejar os cultivos e superar desafios climáticos e ataques de pragas e doenças, o transporte rodoviário que domina a cadeia significa um gargalo para o agronegócio brasileiro.
Altos custos, atrasos nas frotas, infraestrutura das estradas e rodovias, dificuldade de manutenção dos caminhões e problemas no sistema de armazenamento dos produtos são algumas das lacunas percebidas na logística de grãos da maneira como é sistematizada atualmente. As condições de deslocamento não só diminuem a competitividade do agronegócio nacional, frente a outras cadeias produtivas mais dinâmicas, como também leva a perdas de produção, subtraindo do mercado as altas marcas conquistadas nas fazendas.
Em 2022, sojicultores demonstraram toda sua eficiência em campo, alcançando uma produtividade média satisfatória, com resultados que surpreendem diante das inúmeras dificuldades enfrentadas por conta da crise hídrica que acometeu algumas regiões do país e da alta incidência de pragas e doenças que ameaçam a produção.
O mesmo se pode afirmar sobre os produtores de milho, que planejaram driblar os desafios nas lavouras com maestria e são responsáveis pelas expectativas de produtividade recorde para o milho safrinha.
Com os grãos colhidos, sobrará a dúvida: como distribuir?
Logística da soja: números do primeiro semestre
Os problemas climáticos que se estendem desde o último trimestre de 2021 e afetaram, em especial, o Mato Grosso do Sul e a região Sul do Brasil, levaram a uma quebra da safra 2021/22 de soja, que se encerrou com um recuo de 10,2% na produção, em comparação ao ciclo anterior.
Esse resultado, já esperado, influenciou as exportações de janeiro a junho de 2022, que experimentaram uma queda de 7,8% em relação ao mesmo período de 2021. O último Boletim Logístico da Conab mostra a proporção das exportações em cada um dos principais portos de escoamento de soja durante os primeiros seis meses deste ano:
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Porto de Santos: 39,9% das exportações nacionais (superior aos números de 2021), representando a maior movimentação do grão para o exterior.
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Portos do Arco do Norte: 38,7% das exportações nacionais (número também superior à movimentação no mesmo período de 2021).
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Porto de Paranaguá: 10,9% das exportações nacionais (uma redução nas atividades de exportação de soja).
As cargas de soja exportadas eram provenientes, em principal, das regiões de Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Minas Gerais, sendo o Estado do MT responsável pela produção da maior parte da soja brasileira destinada ao exterior.
Logística do milho: números do primeiro semestre
A quebra da safrinha de milho devido às condições climáticas nas principais regiões produtoras não impedirá o rompimento dos tetos de produtividade, segundo estimativas. Aumento da área plantada e manejo eficiente são fatores decisivos para o alcance de bons números para o milho segunda safra no Brasil.
A comercialização do grão acelerou no final de junho. As exportações de milho tiveram um aumento de 73% de volume do grão, comparando o primeiro semestre de 2021 ao de 2022, um número que reflete a entrada do safrinha no mercado (com avanço da colheita em 71,1% da área cultivada até 30/07) e a alta demanda internacional pelo milho brasileiro. O porto de Paranaguá movimentou uma carga correspondente a 27,5% do total exportado. O porto de Santos foi responsável por 31,1% da movimentação nacional e os portos do Arco Norte embarcaram 29%.
Nos primeiros seis meses de 2022, os principais Estados produtores que venderam milho para outros países foram Mato Grosso, Maranhão e Mato Grosso do Sul. A alta demanda externa e as estimativas de incremento de produtividade favorecem a comercialização do milho brasileiro, que tem sido bastante direcionado para a produção de biocombustíveis, apesar de o aumento da oferta ter causado a queda nos preços praticados.
Para manter a lucratividade da cadeia de milho, a distribuição dos produtos da safrinha precisa ser direcionada de maneira estratégica diante dos elevados preços do transporte evidenciados na próxima seção.
Custo dos fretes de grãos
O custo dos fretes do Mato Grosso para os portos segue em elevação, devido ao aumento e ao repasse do preço do diesel e da baixa disponibilidade de caminhões para realizar o transporte, em grande parte direcionados para transportar a elevada produção do milho safrinha. Há regiões do Estado que praticaram preços de até R$ 500/t com destino ao porto de Santos, com variação mensal que alcançou um teto até 40% superior entre maio e junho. A variação anual máxima verificada nos fretes alcançou valores 50% maiores do que o custo do transporte de soja em junho de 2021.
De Goiás a Santos a variação percentual anual do preço do frete chegou a atingir +79%. No Estado do Paraná, por outro lado, a baixa nas movimentações diante da quebra de safra de soja resultou em grande oferta de caminhões, para pouca carga, de maneira que os preços dos fretes caíram em maio. No entanto, a entrada do safrinha no mercado gerou aumento na movimentação, de modo que junho terminou com aumento dos valores do transporte de grãos no Estado, variação mensal de 14% até 67%.
Ferrogrão: quais os benefícios para o produtor?
O projeto da Ferrogrão está em fase de acórdão pelo TCU (Tribunal de Contas da União). A iniciativa visa a construção de uma linha férrea com 933 km de extensão, que liga os municípios de Sinop (MT) e Itaituba (PA).
O trecho é estratégico para a exportação de grãos, suportando todo o escoamento da produção da região Centro-Oeste, onde se concentra grande parte do total produzido em território nacional, pelo porto de Miritituba, no Arco Norte, criando uma nova rota para saída de milho e soja. Além disso, produtores de outros Estados poderão distribuir e receber produtos pela ferrovia, desafogando a logística em diversas regiões.
O projeto do corredor ferroviário tem um prazo de concessão de 69 anos. Sua construção possibilitará uma alta capacidade de transporte, com infraestrutura adequada para armazenar os produtos, e visa gerar competitividade no mercado pela facilitação da distribuição das mercadorias, processo que enfrenta grande dificuldade no modelo rodoviário vigente no Brasil.
Com essa novidade para a logística de grãos que promoverá benefícios para a cadeia produtiva a que se destina, o produtor alcançará diminuição de custos no transporte de mercadorias e facilitação da oferta de grãos no mercado. O barateamento dos fretes é um dos grandes objetivos a serem alcançados com a consolidação de um grande corredor logístico por meio da nova ferrovia. O produtor rural que exporta soja e milho, entre outros produtos, poderá ter a vantagem de redução entre 30% e 40% nos custos para envio das mercadorias.
Os saldos positivos se estendem também para outros setores, uma vez que diminuirá o fluxo de caminhões pesados na BR-163, aliviando o tráfego na região e reduzindo as emissões de CO2. A Ferrogrão cria, assim, a possibilidade de emitir títulos verdes por meio da produção de créditos de carbono.
A construção da Ferrogrão tem previsão de despender R$ 49,25 bilhões em gastos operacionais, com estimativa de gerar cerca de 385.800 mil novos empregos. Além de escoar a produção interna de grãos, pode também ser uma via para entrada e distribuição de insumos com menor custo.
Essa solução beneficiará a logística de grãos, como também tem grande potencial para ampliar a força do agronegócio brasileiro.
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