A tensão entre as duas maiores economias do mundo segue escalando – e, mais do que nunca, o agronegócio está no centro do tabuleiro geopolítico. Desde os novos anúncios tarifários por parte dos Estados Unidos e respostas da China, o mercado global de commodities já começou a reagir.
Mas a pergunta que ecoa entre produtores, exportadores e analistas brasileiros é clara: como isso afeta o agro do Brasil?
Uma nova rodada de tarifas e incertezas
No dia 2 de abril, o governo dos EUA anunciou novas tarifas que afetam mais de 180 países, inclusive o Brasil. A justificativa oficial é proteger a indústria nacional de impactos indiretos vindos da guerra comercial com a China (que recebeu a tarifa mais alta, de 34%)
Em 4 de abril, Pequim respondeu rapidamente, ampliando suas tarifas sobre produtos agrícolas norte-americanos também em 34%. A soja dos EUA, que já sofria com a concorrência sul-americana e até então tinha 10% de taxa, passou a enfrentar uma carga tarifária total de 44%, enquanto milho, trigo, algodão e carnes também foram fortemente atingidos.
Em resposta às tarifas retaliatórias de 34% da China, o presidente Donald Trump aumentou as tarifas recíprocas de 34% sobre a China para 84%, a partir de 9 de abril de 2025.
Em resposta, o governo chinês emitiu uma série de novas contramedidas, aumentando sua tarifa retaliatória sobre produtos originários dos EUA de 34% para 84%, a partir de 10 de abril de 2025.
No dia 10 de abril, em resposta às tarifas retaliatórias de 84% da China, o presidente Trump aumentou as tarifas recíprocas sobre a China de 84% para 125%.
No dia 11 de abril, o governo chinês fez o mesmo: aumentou suas tarifas retaliatórias sobre produtos de origem americana de 84% para 125%, com efeito a partir de 12 de abril de 2025.
No aviso, a China afirmou ainda que, nesses níveis, as exportações dos EUA para a China são efetivamente não comercializáveis e, se os EUA prosseguirem com novos aumentos de tarifas, a China não responderá mais.
Esses movimentos reacendem os embates comerciais que marcaram o governo Trump, mas agora sob uma nova roupagem – mais ampla, mais complexa e com efeitos colaterais que atingem até aliados.
Reação imediata do mercado: prêmios e volatilidade
Com os EUA temporariamente em desvantagem competitiva, os prêmios da soja brasileira já começaram a subir, especialmente nos portos do Arco Norte e Sudeste.
A expectativa de um segundo semestre com forte demanda chinesa pode impulsionar ainda mais os preços internos, beneficiando produtores que ainda não comercializaram boa parte da safra.
Contudo, o cenário exige cautela: as bolsas internacionais despencaram com o anúncio das tarifas, o petróleo recuou e os fundos de investimento migraram para ativos mais seguros.
Resultado? Um ambiente de alta volatilidade e incerteza cambial, que pode tanto favorecer a rentabilidade do exportador quanto dificultar o planejamento de custos de produção.
Oportunidades para o Brasil: mais que soja
Se por um lado os Estados Unidos perdem espaço, por outro o Brasil ganha margem para ampliar seu protagonismo no comércio de:
- Milho: com os estoques globais apertados e a segunda safra brasileira em andamento, o país pode ser alternativa natural a clientes, como México, Japão e Coreia do Sul.
- Algodão: a Ásia, principal consumidora, busca diversificação e já considera o Brasil como fornecedor estratégico, especialmente para países, como Bangladesh, Vietnã e Paquistão.
- Carnes: a carne suína e de frango brasileira pode se beneficiar da limitação do acesso dos EUA ao mercado asiático, incluindo a China.
- Café, trigo e arroz: embora menos impactados diretamente, esses produtos podem sofrer valorização por efeito indireto na formação de preços globais.
Mas há riscos: inflação global e retração do consumo
Nem tudo são prós. A guerra comercial 2.0 ocorre em um momento delicado para a economia global.
As sanções e tarifas já começaram a alimentar expectativas de inflação mais alta, crescimento mais lento e, no limite, uma possível estagflação. Esse ambiente pode gerar retração no consumo de alimentos e comprometer a demanda futura por commodities – inclusive as brasileiras.
Além disso, há o fator logístico. O Brasil caminha para uma safra cheia: segundo o 7º Levantamento da Conab, a produção total de grãos deve chegar a 330,3 milhões de toneladas em 2024/25, com aumento de 10,9% em relação ao ciclo anterior.
Esse crescimento exige atenção redobrada na armazenagem, no escoamento e na capacidade dos portos de absorver o aumento da demanda internacional.
E o produtor, o que deve fazer agora?
- Acompanhar o câmbio e os prêmios de exportação com atenção – oportunidades podem surgir com pouca antecedência.
- Diversificar canais de comercialização – cooperativas, tradings e contratos antecipados ganham importância em cenários de incerteza.
- Revisar custos de produção com base na nova paridade internacional – insumos importados podem ficar mais caros.
- Manter o radar ligado para políticas comerciais e acordos bilaterais – o ambiente pode mudar rapidamente, inclusive em benefício da América do Sul.
Panorama final: entre riscos e oportunidades
A intensificação da guerra comercial 2.0 entre Estados Unidos e China representa mais do que uma disputa por tarifas: é um redesenho das rotas globais de abastecimento.
Para o agro brasileiro, o cenário exige atenção estratégica, pois combina fatores de risco – como inflação global, volatilidade cambial e gargalos logísticos – com potenciais ganhos expressivos na exportação de grãos, fibras e proteínas.
O produtor rural que estiver bem informado, conectado às dinâmicas do mercado internacional e preparado para ajustar sua estratégia comercial terá a chance de transformar incerteza em vantagem competitiva.
Neste novo tabuleiro global, o Brasil pode deixar de ser um player reativo para se consolidar como protagonista no comércio agrícola mundial.
Mais do que nunca, acompanhar os desdobramentos dessa disputa e agir com agilidade será fundamental para garantir rentabilidade e estabilidade diante de um mundo cada vez mais interligado – e imprevisível.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
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