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Os últimos 40 anos são reconhecidos pelos grandes investimentos e avanços na agricultura brasileira, a fim de posicionar o país com competitividade no mercado internacional. Um grande destaque é o salto de produtividade do algodão em caroço, que apresenta uma diferença de 835,65% na quantidade produzida por hectare entre as safras 1982/83 e 2022/23, segundo a Série Histórica da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Tal comparação permite mensurar a melhoria da eficiência de produção, com significativos avanços na qualidade e na valorização do preço do algodão brasileiro.
Foi assim que o Brasil deixou de estar entre os grandes importadores para ocupar o lugar de segundo maior exportador mundial de algodão, sendo responsável por 18% do total de exportações globais no biênio 2022/23, conforme relatório da USDA (United States Department of Agriculture). Isso não seria possível sem que produtores, indústria, instituições públicas e privadas se adaptassem às dinâmicas de preço do algodão, colocando o setor entre os players comerciais.
Como quarto maior produtor de algodão do mundo, o Brasil não apenas avançou em quantidade, mas também em qualidade. Afinal, de nada valeria entregar altos volumes de um produto desvalorizado e indesejado no mercado. Dessa forma, o país passou a participar de e influenciar a precificação e a venda do produto em contexto mundial. Nacionalmente, isso representa mais uma frente dentro do agronegócio impulsionando a economia e o desenvolvimento social, a partir de:
- melhor distribuição de renda;
- geração de empregos;
- aumento da qualidade de vida;
- expansão do poder de player comercial.
Para isso, o cotonicultor brasileiro precisou se especializar nos métodos de cultivo, no beneficiamento, no aprimoramento da qualidade e nas aplicações comerciais e industriais da matéria-prima, a fim de se adequar a como o algodão é vendido, assim como melhorar sua eficiência e sua rentabilidade, o que reflete também em benefícios para a economia nacional e local.
Como o algodão é vendido? Beneficiamento, uso industrial e reaproveitamento de resíduos
O produto primário da cotonicultura, que sai diretamente das lavouras, é o algodão em caroço, cujo valor é muito inferior ao algodão em pluma, resultante do processo de beneficiamento (separação entre o caroço e a fibra). Do beneficiamento, são gerados:
- a pluma;
- o caroço;
- a fibrilha;
- e o línter.
Processo de beneficiamento do algodão, em indústria em São Paulo.
Todos são comercializáveis para a fabricação de subprodutos. Aliás, quanto mais se reaproveitar todas as partes do algodão, maior a rentabilidade, uma vez que o cálculo do preço do algodão não se aplica somente à pluma. Assim, a eficiência está também relacionada à capacidade de produzir uma matéria-prima de qualidade suficiente – em grandes volumes e sem danos causados por pragas ou doenças – para ser direcionada a diferentes setores agroindustriais.
A pluma, a fibrilha e o línter são compostos pela fibra, sendo a pluma a principal. Composta por fibras longas, é destinada à indústria têxtil e é responsável por vestir em torno de 40% da população mundial, de acordo com dados publicados em 2020 pela Sou de Algodão – uma iniciativa da Abrapa (Associação Brasileira de Produtores de Algodão).
A fibrilha é um tipo de fibra curta separada por equipamentos industriais desenvolvidos especificamente para tal função, após o processo de separação do caroço. Sua principal aplicação é na tecelagem, para a produção de tapetes, panos e produtos afins. Já o línter é composto por fibras ainda mais curtas, que ficam praticamente grudadas ao caroço, e contém muita celulose, de maneira que é destinado à fabricação de algodão hidrófilo, tecidos, filtros, pavios, estofamentos e – pasmem – cédulas de dinheiro brasileiro.
O caroço também pode ser comercializado como semente para plantio, ração animal, ou por meio de seus derivados (biodiesel, óleo refinado, óleo cru), podendo participar da indústria de alimentos e cosméticos, ampliando as possibilidades de negociação pelo cotonicultor que entrega uma matéria-prima de alta qualidade.
Além disso, há ainda as substâncias que são consideradas resíduos durante o processo de beneficiamento do algodão em caroço e usadas para a produção de adubo orgânico, tais como:
- Cascas: camada que envolve o caroço de algodão.
- Carimã: fibras imaturas ou mortas, resultantes de capulhos cujo desenvolvimento foi comprometido em virtude do ataque de pragas ou doenças, ou ainda de outros fatores.
- Piolho: fibras de algodão de vários tamanhos entrelaçadas e misturadas com caroços, fragmentos de cascas e outros resíduos.
- Pó de canal: fragmentos de fibras e de outras impurezas acumuladas na máquina de beneficiamento.
As possibilidades de venda do algodão são muitas, e o produtor que se informa sobre o mercado, os usos e os preços do algodão consegue aumentar sua rentabilidade negociando com diferentes setores e firmando parcerias com aqueles que mais valorizam seu produto.
Em um cenário em que a pluma vem perdendo espaço na indústria têxtil para as fibras sintéticas, por conta dos custos, da competitividade e do poder de compra do consumidor final, saber ampliar as formas como o algodão é vendido pode ser muito vantajoso. Dentro dessa estratégia, ficar de olho nos preços é essencial.
Sobre a formação dos preços do algodão e a dinâmica do mercado
A abertura comercial do mercado internacional para o algodão brasileiro ocorreu em 1990. Na época, as negociações eram basicamente para a pluma, mas a inserção do Brasil nesse meio foi plenamente integrada às movimentações dos principais fornecedores – como EUA –, de maneira que a expansão do mercado relacionado à cotonicultura atingiu também o Brasil, ampliando, como vimos, as possibilidades de aplicação industrial do algodão.
Tal afirmação também é válida para os preços. A formação dos preços do algodão não respondem somente às políticas agrícolas internas, mas também às variáveis do mercado externo. Só assim é possível manter – e avançar – no ranking de exportadores mundiais.
Dessa forma, o preço do algodão é calculado sob variáveis dos mercados nacional e internacional, tais como:
- taxas de câmbio;
- demanda das indústrias;
- poder de compra do consumidor;
- estoque de passagem;
- renda;
- taxas de juros.
A partir do momento que o algodão brasileiro se consolidou no mercado internacional, deixando de servir somente às demandas por fibras têxteis da população do país, as primeiras quatro variáveis da lista passaram a ter grande influência na dinâmica de formação dos preços do produto agrícola, principalmente da pluma, comercializada em maior quantidade.
Internamente, os preços do algodão seguem a tendência da região Sudeste, onde se concentra o maior número de relações comerciais, mercado usado como base para os principais indicadores que guiam as negociações, que, atualmente, têm como referência o Cepea/Esalq. Externamente, as cotações têm como base índices como o Cotlook A e B, da Inglaterra, e a Bolsa de Nova Iorque no Mercado Futuro, dos Estados Unidos.
Como é calculado o preço do algodão no mercado interno?
A metodologia de cálculo de preço do algodão do Cepea/Esalq é feito com base em negociações à pronta entrega no mercado físico, por meio de levantamentos diários de dados fornecidos por produtores, cooperativas, indústrias, comerciantes, trading companies e corretores, que concedem as informações por livre consentimento e sob aprovação dos pesquisadores. O objetivo do indicador, que existe desde 1996, é criar um histórico e oferecer projeções importantes para a tomada de decisão sobre os contratos futuros.
Segundo o site do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo), a metodologia de preços do algodão considera e entrega dados sobre os seguintes fatores:
- fretes internos (transporte do produto das regiões produtores para as regiões industriais);
- médias das negociações;
- registros de contratos antecipados;
- indicadores de preços de 15 regiões produtoras;
- preços de exportação da pluma nos principais portos;
- cotações médias do caroço;
- dinâmica do mercado de produtos têxteis.
Considerando as variáveis, é feita uma média aritmética dos preços do algodão em pluma para oito dias até o pagamento, considerando os produtos que atendem aos critérios de qualidade da Instrução Normativa 63/2002, do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A divulgação dos resultados do cálculo é feita em centavos de reais por libra-peso, em que uma libra-peso equivale a 0,453597 kg.
Como é calculado o preço do algodão no mercado externo?
Os índices Cotlook A e Cotlook B são de responsabilidade da Cotton Outlook. O primeiro corresponde a um preço médio de mercado para algodão cuja origem é de alta qualidade, enquanto o segundo considera a média dos preços do algodão cuja origem é de baixa qualidade. Assim, tais indicadores internacionais servem ainda como um termômetro para avaliar a qualidade da fibra produzida no Brasil.
Já as cotações do Mercado Futuro da Bolsa de Nova Iorque seguem a lógica das commodities, definindo toda a dinâmica dos preços do algodão – com base no comportamento do mercado e dos fundos financeiros – e permitindo a realização de negociações a partir de contratos futuros – com base em especulações que seguem essa dinâmica.
Com essas análises, é possível perceber que a formação do preço do algodão em pluma no Brasil segue a lógica do livre mercado, em que prevalece a relação entre oferta e demanda. Além disso, há as especulações do Mercado Futuro, ambiente em que são definidas negociações de entrega, de retirada e previsões de estoque. Em ambos os casos, três agentes são fundamentais para avaliar e definir preços e indicadores do mercado de algodão:
- especuladores;
- a bolsa de valores;
- investidores Hedger (cotonicultores, cooperativas, indústrias, exportadores etc.).
Nessa dinâmica, é importante considerar também os produtos concorrentes no mercado – principalmente as fibras sintéticas, como poliéster e viscose – quanto a seus preços, oferta e demanda. Ademais, há um fator essencial que o cotonicultor não pode deixar de considerar: os custos de produção.
Não é o preço do algodão no mercado que importa diretamente ao produtor, mas sim sua margem de lucro, por isso é preciso muita atenção ao quanto se gasta para produzir e beneficiar determinado volume da fibra e qual valor é possível agregar à produção por meio de estratégias de valorização e aproveitamento de resíduos.
Valorizando o algodão brasileiro: os subprodutos e os critérios de qualidade
O cotonicultor tem a chance de negociar tanto no mercado nacional quanto no internacional, com isso, é importante avaliar quem está pagando mais no período, aumentando a margem de lucro. Por isso, analisar os indicadores do algodão, tendo como referência índices como os aqui discutidos, é essencial para saber como e quando negociar.
Além disso, é interessante olhar para as oportunidades para além da pluma, pois a venda do algodão pode ser realizada em diferentes setores, com diferentes fins industriais. Assim, é possível obter mais flexibilidade de acordo com a qualidade do produto que está sendo ofertado.
O fator qualidade valoriza o algodão, mas também o deprecia, uma vez que nem sempre é possível entregar a qualidade que foi negociada. Por isso, a escolha de com qual comprador se relacionar é essencial para criar uma estratégia segura de escoamento da produção.
Entenda as perspectivas da safra de algodão 2023/24, a partir da análise da central de conteúdos Mais Agro sobre condição das lavouras, clima, infraestrutura de armazenamento, entre outros assuntos: Andamento da safra de algodão, clima, mercado e mais!
Vendas do algodão em caroço VS vendas do algodão em pluma
Por muito tempo no Brasil, especialmente na região Nordeste, as vendas de algodão eram feitas sem o beneficiamento, ou seja, era vendido o algodão em caroço. Assim, o modelo tradicional de negociação era a partir de um intermediário (usinas ou algodoeiras), que seria o responsável por separar o caroço da pluma e, então, destinar os dois produtos para a indústria.
Nessa modalidade, o produtor perde parte da possibilidade de agregar valor ao seu produto por meio do beneficiamento. Isso significa que vender o algodão em caroço já não é mais tão interessante, cabendo ao cotonicultor que quer alcançar mais rentabilidade se responsabilizar pelo beneficiamento, a fim de negociar tanto a pluma quanto o caroço separadamente, o que confere uma maior margem de lucro.
A seguir, estão disponíveis dois gráficos de evolução do preço do algodão em 2022, um para a pluma, outro para o caroço, a fim de ilustrar as oscilações do mercado e a diferença de valorização dos dois produtos:
Evolução dos preços do algodão em caroço VS algodão em pluma. Fonte: Cepea/Esalq, 2023.
Observando os dados, é possível notar que o algodão em pluma apresenta uma oscilação mensal muito forte, devido às variáveis do mercado já mencionadas em seções anteriores deste artigo. No período, o maior preço para a pluma foi de R$ 799,81 (à vista por libra-peso), em 06/01/2022, e o menor preço, R$ 597,67 (à vista por libra-peso), em 20/09/2022.
Já para o caroço do algodão, com dados apresentados por região brasileira e em reais por tonelada, percebe-se um mercado interno mais estável, com valores máximos na faixa dos R$ 2000 por tonelada de caroço e os mínimos em R$ 1850 por tonelada.
Assim, o cotonicultor pode lucrar com os dois produtos, altamente valorizados – desde que sempre atento aos movimentos do mercado –, mas tem também a chance de negociar sementes e resíduos destinados à ração com outros agricultores ou pecuaristas, aumentando ainda mais a flexibilidade e a competitividade comercial do seu negócio. Dessa forma, a cadeia produtiva do algodão na fazenda, com o beneficiamento após o cultivo, segue o seguinte esquema:
Fonte: Agroindústria familiar: algodão em pluma. Embrapa.
A qualidade do algodão e o mercado
A qualidade da fibra do algodão pode ser medida por meio do HIV (High Volume Instrument), um mecanismo que permite valorizar – ou não – o produto frente aos compradores. Essa análise das características intrínsecas ao produto é realizada em ambiente controlado a partir de amostras do lote fornecido. Os critérios de avaliação são:
- resistência;
- comprimento;
- micronaire/finura;
- quantidade de fibras curtas;
- alongamento;
- maturidade;
- brilho/cor;
- grau de amarelamento;
- grau de impureza.
Todos são fatores relevantes para a indústria e definem a qualidade e a usabilidade da fibra de algodão.
Como saber qual a melhor oportunidade para vender algodão?
Em meio a tantas tarefas relacionadas ao campo e à gestão da fazenda, acompanhar o mercado e criar estratégias de negociações mais rentáveis e no momento certo pode ser uma sobrecarga imensa para o cotonicultor. Todavia, vender o algodão, seja beneficiado ou em caroço, na oportunidade certa é o que possibilita manter o negócio em crescimento e cada vez mais rentável.
Felizmente, há soluções financeiras que apoiam o produtor rural nessa empreitada comercial, com modelos de negociação do tipo Barter via Nutrade. Barter é uma maneira de vender o algodão antes mesmo de ser colhido, garantindo o escoamento do produto e travando os custos de produção. Nutrade é uma plataforma de negociações da Syngenta, que entrega o algodão aos melhores players do mercado internacional, pelos melhores preços.
Com a Nutrade, o cotonicultor tem muito mais facilidade de acesso a importadores do algodão brasileiro, pois a plataforma está sempre abrindo espaço de negociação ao firmar parcerias com importantes e recorrentes compradores. A opção Barter via Nutrade promove ainda mais tranquilidade financeira ao agricultor, pois, além de garantir a venda, diminuindo o tempo de armazenamento do algodão na fazenda, também favorece o equilíbrio dos custos de produção, ao negociar insumos antecipadamente.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos juntos um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
Acesse o portal Syngenta e acompanhe a central de conteúdos Mais Agro para ficar por dentro de tudo que está acontecendo no campo.
Muito bom