Na sequência da nossa série Da colheita ao mercado: desafios na comercialização de HF, seguimos abordando os obstáculos e as oportunidades observadas pelos produtores brasileiros de hortifrúti na comercialização de seus produtos.
Depois de uma conversa detalhada sobre o tomate, agora é a vez de mergulharmos no universo da batata, explorando os fatores críticos que influenciam seu valor no mercado e os desafios que os produtores precisam superar para agregar valor a esse produto tão consumido no Brasil.
Assim como o tomate, a batata enfrenta desafios próprios na etapa pós-colheita, especialmente por ser um produto que o mercado considera essencial e cuja demanda é inelástica. Para entender melhor essas particularidades, conversamos novamente com o João Paulo Deleo, pesquisador do CEPEA na área de hortaliças, que compartilhou suas percepções sobre as nuances da comercialização da batata no mercado nacional. Confira os principais pontos e recomendações!
1. Quais principais fatores afetam a comercialização da batata logo após a colheita?
A batata, assim que colhida, necessita de um fluxo ágil e bem estruturado até os pontos de venda, pois é altamente suscetível a perdas de qualidade. O que será que influencia o valor e a demanda desse alimento básico na mesa dos brasileiros?
resposta João Deleo: “O principal fator que influencia o preço da batata, assim como qualquer outra cultura de mercado doméstico com demanda inelástica, é a oferta. Outros fatores, como o início e final de mês, feriados, férias escolares, injeção de capital na economia (como na pandemia), e renda, podem ter impacto na demanda. Logística e qualidade são fatores que influenciam nos valores de comercialização.
Essas variáveis, aparentemente externas, têm um papel essencial nas oscilações de preço da batata. Isso porque, ao contrário de outros produtos menos consumidos, o brasileiro considera a batata um alimento básico, mantendo seu consumo regular. Logo, entender como a demanda responde em diferentes momentos e eventos do ano permite ao produtor melhor antecipar picos e quedas, otimizando sua comercialização.
2. Como a variação da qualidade da batata colhida influencia o preço no mercado?
O mercado de batatas tem especificidades visuais e de tamanho que determinam sua aceitação e valor. A uniformidade dos tubérculos, por exemplo, pode garantir ao produtor um valor de venda mais competitivo.
resposta João Deleo: “A comercialização é efetuada logo após a colheita, e, no caso da batata, é desejado tubérculos de tamanho mediano (especial), com pele clara e lisa.”
Esses critérios refletem uma forte preferência do mercado por batatas que atendam a tais requisitos estéticos e de tamanho, o que exige planejamento e cuidados desde o plantio até o pós-colheita. Além disso, para se destacar em um mercado competitivo, manter a uniformidade dos tubérculos é essencial, permitindo ao produtor alcançar melhores preços e margens de lucro.
3. Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores na agregação de valor à batata?
A agregação de valor na comercialização de batatas é um desafio contínuo. A venda a granel e a falta de diferenciação entre variedades são alguns dos principais obstáculos a serem superados.
resposta João Deleo: “O maior problema está na estrutura de comercialização, pois os produtos são vendidos a granel, sem especificação sobre a aptidão culinária da variedade.”
Em vez de aproveitar a diversidade de usos da batata (culinária ou industrial), o mercado brasileiro tende a padronizar a batata de mesa, limitando as possibilidades de diversificação e elevação de preços. Criar uma estrutura de venda que explore a diferenciação das variedades poderia gerar novas oportunidades, mas isso exige investimentos em marketing, embalagens e relacionamento direto com o varejo.
4. Por fim, uma mensagem final para o produtor de batata: planejamento e visão a longo prazo
O planejamento contínuo e uma visão de longo prazo têm sido fatores decisivos para o sucesso de muitos produtores de batata.
resposta João Deleo: “É importante que qualquer produtor tenha sempre um bom planejamento da sua produção e do seu negócio, para que não seja pego de forma desprevenida em momentos negativos. A batata vem, desde 2019, com um cenário positivo de preços, mas é bom lembrar que nos anos de 2017 e 2018 o setor viveu seu pior momento da história em termos de preços e rentabilidade (para o mercado de mesa in-natura), com dois anos seguidos de preços abaixo dos custos de produção.
Quem foi resiliente, com uma gestão mais eficiente naquele momento, certamente vem colhendo bons frutos desde 2019. Assim, além de uma eficiente gestão da produção, com o uso racional dos recursos visando uma alta produtividade de boa qualidade e alto valor de comercialização, o produtor tem também que se preocupar com o seu modelo de comercialização e sua gestão econômica. Mais importante do que uma produtividade alta, é ter o menor custo unitário e a maior receita líquida. Mas, para se chegar a esse resultado, tudo tem que ser muito bem planejado antes. Outra forma que o produtor tem de mitigar riscos, é destinar parte da sua produção para a indústria, com venda sob contrato, reduzindo assim os riscos de preço.”
Essa mensagem enfatiza que, para quem já vivenciou períodos difíceis, manter uma gestão de risco eficiente, com provisionamento financeiro e uma estratégia de diversificação (incluindo venda para a indústria sob contrato), são formas inteligentes de reduzir riscos. Afinal, o foco não está apenas em aumentar a produção, mas em maximizar a receita líquida, com um modelo de negócio bem planejado.
Continue nos acompanhando para não perder o próximo conteúdo da série, em que vamos abordar os desafios da comercialização da cebola.
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