Os fungos são microrganismos de alto interesse econômico, tanto positivamente, ao serem explorados por diferentes setores industriais por sua atividade de biodegradação natural, quanto negativamente, quando causam doenças em plantas, animais e pessoas. Outra característica que merece atenção é a capacidade que alguns fitopatógenos têm de produzir micotoxinas nocivas à saúde.
Essas substâncias provêm de fungos toxigênicos que acometem os grãos, por isso, estão presentes nas lavouras principalmente nos estágios reprodutivos da cultura. Podem também agir sobre grãos armazenados, inviabilizando seu consumo após a colheita. Quanto aos riscos e danos, são diversos os fatores que tornam o manejo de patógenos indispensável quando se trata de espécies de fungos que geram micotoxinas nos produtos agrícolas:
- o patógeno, por si só, já causa doenças com potencial para afetar a produtividade da cultura e a qualidade dos grãos, mas a produção de micotoxinas é um agravante no que tange à qualidade;
- as micotoxinas não são eliminadas junto com o fungo, o que exige um controle preventivo porque, mesmo manejando a doença, a substância tóxica permanece;
- elas também permanecem nos produtos agrícolas após o beneficiamento, por serem termoestáveis (resistentes a baixas e altas temperaturas);
- a principal característica das micotoxinas é o fato de serem bioacumulativas ao longo da cadeia alimentar, ou seja, da planta é transferida para o grão, do grão para o subproduto, do subproduto para quem o consome.
Tudo isso torna a presença de fungos ainda mais indesejável nas lavouras. Em revisão de literatura, pode-se estimar a identificação de cerca de duzentas espécies de patógenos que produzem micotoxinas, e três gêneros ganham destaque na produção de alimentos: Aspergillus, Penicillium e Fusarium.
Diante da gravidade dos danos que essas substâncias causam à saúde de animais e humanos que consomem alimentos contaminados, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determina limites de tolerância de micotoxinas em produtos agrícolas.
A inconformidade com a legislação resulta na perda de toda a produção, enquanto lotes comprometidos tendem a ser desvalorizados, mesmo estando dentro dos limites, com possibilidade de perdas de oportunidades de exportação – uma modalidade de negociação de grãos que tem alta rigidez no que se refere à presença de micotoxinas.
O que são micotoxinas?
As micotoxinas são metabólitos secundários de fungos, naturalmente presentes no ambiente, tais como as substâncias exploradas economicamente para a produção de fármacos. No entanto, sua atividade na biologia de plantas, animais e seres humanos é potencialmente maléfica, com danos diretos e indiretos à saúde dos diferentes organismos em contato com elas.
O conhecimento acerca desses danos é antigo, mas com o avanço tecnológico e científico verificou-se consequências mais graves em cereais e grãos destinados à nutrição humana e animal, como milho, cevada e trigo, por seu alto teor de carboidratos. Por isso, há cada vez mais preocupação em relação à qualidade dos produtos agrícolas e às maneiras de se evitar prejuízos aos produtores.
A contaminação por micotoxinas pode ocorrer em diversos momentos da cadeia produtiva – se houver condições adequadas de temperatura, umidade e oxigênio para a proliferação dos patógenos –, tais como:
- durante o desenvolvimento das plantas, pela ação de fungos presentes na lavoura;
- nas operações de colheita;
- no momento do transporte;
- durante o armazenamento de grãos.
Há cinco tipos de micotoxinas mais comuns em produtos agrícolas brasileiros, embora outros também gerem perdas econômicas, mesmo sendo encontrados com menos frequência. O quadro a seguir mostra quais são essas substâncias e a quais fungos e culturas estão relacionadas:
Danos causados nas culturas por fungos produtores de micotoxinas
Além dos danos comuns que os fitopatógenos causam às plantas por meio das doenças agrícolas, as micotoxinas produzidas também significam prejuízos nesse sistema, principalmente durante a fase reprodutiva da cultura, desvalorizando o produto a ser comercializado no mercado ou mesmo tornando-o impróprio para consumo.
Milho
Na cultura do milho, o manejo na pré-colheita é uma fase muito delicada quando se trata de evitar os danos causados por fungos produtores de micotoxinas. Os principais fungos de interesse são:
- Fusarium spp.;
- Diplodia maydis;
- Diplodia macrospora;
- Gibberella zeae;
- Penicillium oxalicum;
- Aspergillus spp.
Eles são responsáveis por causar o que é conhecido como grãos ardidos, cujo principal sintoma é a descoloração e a perda de massa fresca (peso) como sinais da infecção, levando a fermentação, modificações na fisiologia dos grãos e produção de micotoxinas.
Trigo
A principal doença relacionada às micotoxinas no trigo é a giberela, que afeta diretamente as espigas, causando perdas muito elevadas na fase reprodutiva da cultura e tornando os grãos impróprios para consumo, pelo alto risco sanitário proveniente da contaminação desse produto majoritariamente destinado à indústria de alimentos.
Cevada
Como um cereal de inverno altamente consumido no mundo todo a partir de subprodutos, a cevada exige grande atenção quando o assunto é fungos que produzem micotoxinas, sendo deoxinivalenol e zearalenona as mais comuns. O excesso de umidade durante o armazenamento é a principal preocupação, assim como as práticas de controle na pré-colheita.
Como eliminar micotoxinas e proteger a qualidade dos grãos?
Não é novidade que a sanidade das culturas é essencial para melhorar a produtividade e para alcançar alta qualidade, e isso deve ser feito com o devido manejo de doenças ao longo do cultivo, com um posicionamento adequado de defensivos agrícolas capazes de controlar os patógenos.
Por outro lado, as micotoxinas não contaminam os produtos somente na fase de cultivo, podendo ocorrer a entrada de fungos em outros momentos da cadeia produtiva. Na pós-colheita, cabe ao produtor rural realizar a secagem dos grãos, mantendo o teor de água abaixo das condições ideais para o desenvolvimento de patógenos.
Além disso, é importante que maquinários e equipamentos estejam devidamente higienizados, para evitar a contaminação de grãos já colhidos ou em processo de colheita. O controle de pragas também entra como medida fundamental, pois grãos danificados estão mais suscetíveis ao ataque de fungos e, por consequência, à contaminação por micotoxinas.
Riscos das micotoxinas à saúde humana e animal
As micotoxinas podem estar presentes nos produtos provenientes de matérias-primas agrícolas, mesmo que não se verifique visualmente a ocorrência de fungos. Isso porque as etapas de processamento dão conta dos patógenos, mas não eliminam as substâncias tóxicas que eles produziram, por conta de estas serem termoestáveis, como já comentado anteriormente.
De acordo com estudos da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nation), 25% dos grãos produzidos no mundo apresentam algum grau de contaminação por micotoxinas. Elas podem ser prejudiciais à saúde humana de maneira direta – ao consumir diretamente o grão ou derivado contaminado – ou indireta – ao consumir produtos pecuários provenientes de animais que se alimentaram de ração contaminada por micotoxinas.
Assim, os danos da micotoxicose – nome da doença que se desenvolve pela ingestão de alimentos contaminados – podem ser mais graves, a depender da toxicidade e da quantidade de micotoxina ingerida, ou mais leves, a depender da idade e da resistência do indivíduo. Tanto em animais quanto em humanos, as micotoxinas atingem, principalmente, o sistema nervoso, os rins e o fígado, embora cada tipo tenha seu próprio modo de ação no organismo.
Entre as consequências da intoxicação em animais, podem ser destacadas:
- lesões no fígado;
- deficiência do sistema imunológico;
- alterações na função renal;
- reações alérgicas;
- ineficiência dos sistemas nervoso, reprodutor, circulatório e respiratório;
- redução da qualidade dos ovos;
- problemas na produção de leite;
- risco de morte.
Em humanos, as micotoxinas podem causar:
- câncer no esôfago e no fígado, principalmente,
- hemorragias;
- imunossupressão;
- maior suscetibilidade à hepatite B;
- náuseas, vômitos e diarreia;
- dermatites diversas;
- síndrome de Reye;
- risco de morte.
Diante disso, além de causarem prejuízos financeiros a agricultores e pecuaristas, as micotoxinas são também altamente nocivas a humanos e animais domésticos, mesmo em pequenas quantidades, podendo causar danos não apenas por ingestão, mas também por inalação (por terem baixo peso molecular), ainda que menos severos.
A legislação de limite de teor de micotoxinas em produtos agrícolas
Por todos os motivos descritos ao longo deste artigo, a Anvisa determina, por meio da Instrução Normativa nº 160, de 6 de julho de 2022, os LMT (Limites Máximos Toleráveis) para micotoxinas e outras substâncias em alimentos, como medida para proteção da saúde humana e animal.
Os principais produtos apresentados na norma são cereais e seus derivados, assim como alimentos de origem animal, entre eles: trigo, arroz, milho, cevada, amendoim, feijões, cacau, uva – e diversas outras culturas do hortifrúti –, café e leite. Com a atualização periódica do LMT para micotoxinas, a legislação regula os produtos entregues pela indústria que, por sua vez, já optam pela compra de matérias-primas de qualidade superior diretamente da mão dos produtores.
Tanto no mercado doméstico quanto para exportação, o teor de micotoxinas nos grãos é um dos fatores para valorizar ou não o produto, reforçando a importância do MID (Manejo Integrado de Doenças), com ações preventivas para impedir que os fungos sequer comecem a produzir toxinas e contaminar a cultura.
Assim, é importante que informação e inovação caminhem juntas, entregando soluções completas e de qualidade para que o agricultor não só tenha consciência sobre o tema das micotoxinas, mas também tenha as ferramentas para controlar os fungos que as produzem, seja qual for a situação de sua lavoura.
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