De extrema relevância para o agronegócio, a produção de cana-de-açúcar do Brasil sustenta diversos setores a nível mundial, com especial importância no de combustíveis, devido à atual urgência da transição energética. A participação brasileira no mercado sucroenergético global poderia ser ainda mais proeminente, não fossem alguns fatores limitantes na produtividade agrícola, como as pragas da cana-de-açúcar.
A região Centro-Sul foi responsável por mais de 90,16% das 610.131.400 toneladas de cana-de-açúcar colhidas na safra 2021/22, conforme registrado na Série Histórica da Conab. Para a safra 2023/24, a estimativa é de que a produtividade da região aumente, ampliando também a produção nacional, que já é a maior do mundo. No entanto, as condições edafoclimáticas brasileiras favorecem a ocorrência de pragas da cana-de-açúcar, cuja incidência tem sido maior a cada ano.
Quando não há um manejo efetivo dessas ameaças, os prejuízos gerados dificilmente são recuperáveis, pois as perdas podem acontecer em larga escala, tanto em produtividade quanto na qualidade da matéria-prima para a indústria. Assim, o controle de pragas da cana-de-açúcar se torna decisivo quando o assunto é produtividade no canavial.
Há a necessidade de resultados de controle rápidos, a fim de mitigar os danos e evitar a propagação das pragas antes de o potencial produtivo ser afetado. Para isso ser possível, é indispensável que o produtor conheça as diferentes espécies e suas características. Monitorando a área periodicamente e identificando a praga logo no início da infestação, tem-se a oportunidade de definir qual manejo adotar e aplicá-lo em tempo de evitar perdas.
Leia também:
A agroindústria e a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar
Safra de cana-de-açúcar 2023/24 começa com cenário positivo
Maturadores: extraia o máximo potencial do seu canavial
Conhecendo as principais pragas da cana-de-açúcar
Entre as diversas pragas que atacam as lavouras de cana, algumas se destacam pela gravidade dos danos que causam, como: a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata), o bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) e a broca-da-cana (Diatraea saccharalis). As características de cada uma delas e as práticas de manejo serão apresentadas a seguir.
Cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata)
A cigarrinha-das-raízes é considerada uma das pragas mais importantes da cana-de-açúcar, especialmente no Estado de São Paulo e na região Nordeste. É um inseto hemimetábolo, visto que, durante o seu desenvolvimento, passa por três estágios biológicos: ovo, ninfa e adulto.
A umidade no solo favorece o desenvolvimento da praga e, com o início das chuvas, a cigarrinha-das-raízes passa a ser uma grande preocupação ao produtor, pois as ninfas começam a eclodir devido ao fim da diapausa, condição em que os ovos permanecem na época seca.
A partir da eclosão, as ninfas passam a se alimentar das raízes da cana. Quando alcançam a fase adulta, vivem na parte aérea da planta, sugando a seiva de folhas e colmos, onde injetam toxinas que provocam o aparecimento de pequenas manchas foliares que reduzem a capacidade da planta de realizar fotossíntese e o seu potencial produtivo.
Monitoramento e controle das cigarrinha-das-raízes
No verão, quando as condições climáticas se tornam favoráveis à eclosão das ninfas, o monitoramento da praga é o ponto-chave para o manejo. Ele pode ser realizado por meio da captura de adultos em armadilha luminosa, armadilha de coloração amarela ou pela contagem direta de adultos e ninfas nas folhas e no solo. A contagem de ninfas e adultos é o método mais frequentemente adotado. As ninfas, por outro lado, podem ser observadas pela presença de espuma sob a palhada.
Vale destacar que, muitas vezes, por ser formada por poucos indivíduos, a primeira geração da cigarrinha-das-raízes pode passar despercebida. Por isso, a adoção de medidas de controle no início da infestação é fundamental para alcançar boa performance de controle. Isso mostra a importância do monitoramento na época ideal.
O controle químico também é indicado para o manejo da cigarrinha-das-raízes. As primeiras aplicações são fundamentais, devendo ser implementadas logo após o início do período chuvoso, para quebrar o ciclo da praga, impedindo o desenvolvimento de insetos adultos que causam danos adicionais e contribuem para o estabelecimento de uma segunda geração, aumentando a população e dificultando o controle.
Bicudo-da-cana-de-açúcar (Sphenophorus levis)
Essa praga se adapta facilmente às condições climáticas das regiões produtoras de cana e tem um grande potencial de causar danos à cultura. Quando não compromete toda a planta, o bicudo-da-cana compromete seu desenvolvimento, reduzindo o número de cortes, o que obriga o produtor a reformar o seu canavial mais cedo. Essa ação envolve altos custos de produção e reduz a rentabilidade.
Ao se alimentarem, esses insetos perfuram galerias, o que danifica os tecidos no interior dos rizomas nas bases dos colmos da cana, podendo causar morte das plantas, irregularidade nas brotações das soqueiras e redução da longevidade dos canaviais.
Monitoramento e controle do bicudo-da-cana
Para o manejo de Sphenophorus levis, é preciso realizar um levantamento populacional, que pode ser feito por meio da avaliação da presença das larvas e dos danos causados. Para isso, recomenda-se realizar, nas linhas do canavial, a abertura de trincheiras de 50 cm de largura por 50 cm de comprimento e 30 cm de profundidade.
A amostragem deve ser feita na época mais seca do ano, entre os meses de abril e setembro, logo após a colheita ou antes do replantio. Em cada ponto de amostragem deve ser retirada a touceira em 50 cm da linha de cana. Esse material será examinado para verificar os danos e a presença de larvas e pupas.
Os adultos do bicudo-da-cana também podem ser monitorados por meio da instalação de iscas tóxicas dispostas na base das touceiras. Essas iscas são confeccionadas com toletes de cana de 30 cm rachados ao meio e imersos em solução inseticida misturada com melaço.
Um dos métodos de controle mais recomendados é o cultural, feito por meio da destruição antecipada das soqueiras nas áreas infestadas, destinadas à reforma. Além dos métodos culturais, que envolvem também medidas de preparo da área para o plantio, o método químico se mostra muito eficaz no controle de Sphenophorus levis, por meio da utilização de produtos eficientes que tenham, de preferência, bom residual, para ser utilizados nas épocas secas, a fim de se obter um controle eficiente das larvas, e com efeito de choque, para melhor controle de adultos.
Broca-da-cana (Diatraea saccharalis)
O ataque da broca-da-cana ocorre durante todo o ciclo da cana-de-açúcar, causando danos diretos e indiretos. O dano direto se deve ao ataque da praga ao colmo, formando galerias longitudinais e transversais. Essa ação impede o fluxo da seiva, reduzindo o peso dos colmos e a produtividade do canavial.
A formação de galerias transversais também favorece a quebra de colmos submetidos ao vento. Ainda pode ocorrer enraizamento aéreo e surgimento de brotações laterais nas plantas. Em plantas mais novas, o ataque da praga na cana causa secamento dos ponteiros, sintoma conhecido como “coração morto”.
Já o dano indireto é causado por microrganismos que ocupam o entrenó, por meio do furo aberto na casca pela lagarta. Esses microrganismos, majoritariamente fungos (Fusarium moniliforme e/ou Colletotrichum falcatum), invertem a sacarose armazenada na planta, acarretando perdas pelo consumo de energia no metabolismo de inversão, pois os açúcares resultantes desse desdobramento não se cristalizam no processo industrial, de maneira a reduzir as possibilidades de manipulação do produto final da colheita.
O adulto é uma mariposa de coloração amarelo-palha, com manchas escuras nas asas anteriores, sendo a fêmea maior do que o macho. A oviposição é feita nas folhas e, ocasionalmente, na bainha.
Após a eclosão, as lagartas migram para a região do cartucho da planta, iniciando a perfuração da casca do colmo, abrindo galerias no sentido crescente na região do palmito da planta. Às vezes, a galeria é aberta de forma circular, o que reduz a resistência do colmo à ação de ventos.
Monitoramento e controle da broca-da-cana
O controle das lagartas Diatraea saccharalis é mais um exemplo de que o monitoramento se faz necessário, como uma medida eficiente para a melhor tomada de decisão no controle inicial das pragas da cana-de-açúcar.
No caso da broca, coleta-se os colmos e conta-se os entrenós danificados, fazendo-se um cálculo da intensidade de infestação, que irá determinar a necessidade de controle. O cálculo é expresso pela seguinte equação: I. I. % = (entrenós danificados ÷ entrenós totais) × 100.
O produtor também pode usar armadilhas, tendo como objetivo identificar o pico de adultos e a presença de ovos no canavial. As armadilhas são à base de feromônio, por meio da utilização de fêmeas virgens presas a estruturas dispostas em meio à lavoura, pelas quais os machos são atraídos. A observação da quantidade de machos permite o monitoramento populacional da praga. As armadilhas devem ser colocadas a cada 50 hectares e avaliadas após três ou quatro dias.
O controle biológico é muito utilizado no manejo da broca-da-cana. Diversos inimigos naturais são eficientes em seu controle, como Trichogramma galloi, que é parasitoide de ovos, e Cotesia flavipes, uma vespinha que parasita as lagartas.
O controle biológico pode ser ainda mais eficiente quando integrado com outros métodos, por exemplo, o controle químico. Para isso, é necessário escolher soluções eficientes, com alto efeito residual e que sejam seletivas aos inimigos naturais.
Medidas para um manejo eficiente
Além do potencial para causar perdas irreparáveis, as pragas da cana-de-açúcar podem elevar o custo de produção – pela necessidade de um programa de manejo mais robusto, em casos de altas infestações – e reduzir significativamente a qualidade de matéria-prima nas usinas de etanol e açúcar.
O monitoramento das lavouras é fundamental na tomada de decisão sobre o momento ideal e o tipo de controle de pragas a ser adotado. Lembrando que a prática deve ser realizada durante todo o ciclo da cultura. Assim, com a definição de um manejo adequado, o canavicultor pode agir de forma preventiva, protegendo a cultura de infestações, e ainda elevar a qualidade da sua produção.
Além das medidas citadas para o controle de pragas específicas, é importante realizar práticas que integram o MIP (Manejo Integrado de Pragas). Algumas dessas medidas de manejo de pragas da cana-de-açúcar são:
- utilizar mudas de alta qualidade e boa procedência;
- fazer a limpeza de máquinas e equipamentos agrícolas com frequência;
- dar preferência à utilização de cultivares de cana resistentes ou tolerantes às pragas;
- fazer o controle biológico com inimigos naturais;
- realizar o controle químico com inseticidas que tenham as características adequadas ao contexto da infestação e ao momento da aplicação (estádio da cultura).
Vale lembrar também a importância de o produtor ter o auxílio de um profissional qualificado, que o oriente nas tomadas de decisão e nas melhores escolhas para extrair o máximo potencial produtivo da lavoura.
Assim, é possível estruturar um manejo consciente contras as pragas da cana-de-açúcar, mantendo a propriedade produtiva, evitando manutenções precoces da lavoura, protegendo a rentabilidade do agricultor e oportunizando aumentar a participação brasileira no mercado internacional.
A Syngenta está ao lado do produtor rural em todos os momentos, oferecendo as soluções necessárias para construirmos, juntos, um agro cada vez mais inovador, rentável e sustentável.
Acesse o portal Syngenta e confira a central de conteúdos Mais Agro para ficar por dentro de tudo o que está acontecendo no campo.
Deixe um comentário