A produção de trigo no Brasil tem ganhado relevância ao longo dos anos. Com uma área cultivada distribuída principalmente nas regiões Sul e Sudeste, o trigo é uma cultura de grande importância econômica e estratégica para o agronegócio brasileiro. 

A sua produção enfrenta desafios constantes, como as variações climáticas, que podem impactar diretamente no desenvolvimento da planta, bem como na incidência de doenças. Nesse cenário, é fundamental o uso de técnicas e práticas de manejo adequadas para garantir uma produção de alta qualidade e economicamente viável.

Entre os principais desafios para a cultura do trigo, destacam-se as doenças que podem comprometer desde a fase de emergência das plantas até a colheita. Para minimizar os prejuízos causados por essas doenças, o Manejo Integrado de Doenças (MID) se apresenta como uma ferramenta essencial, que promove o uso de diferentes estratégias. 

Este texto explorará as principais doenças, seus impactos na produção e as melhores formas de manejo.

Por que controlar as doenças no trigo?

O controle de doenças no trigo é essencial para atingir a sustentabilidade e a viabilidade econômica da produção. As doenças afetam diretamente a produtividade e a qualidade dos grãos, comprometendo não apenas a rentabilidade do produtor, mas também a competitividade do Brasil no mercado global de trigo. 

Com a crescente demanda por alimentos e a necessidade de manter a oferta de produtos de qualidade, o controle eficiente de doenças torna-se uma prioridade.

Impacto na produtividade e na qualidade dos grãos

As doenças podem causar perdas significativas na produtividade da lavoura, afetando o rendimento final. Além disso, muitos desses patógenos afetam diretamente a qualidade dos grãos, resultando em grãos malformados, contaminados por micotoxinas ou com peso reduzido. 

Isso compromete o valor de mercado do produto e pode inviabilizar a venda para indústrias que demandam padrões elevados de qualidade, como as de panificação e ração animal.

Segurança alimentar e mercado internacional

A segurança alimentar é um tema de crescente relevância mundial, e a presença de micotoxinas nos grãos de trigo, como as produzidas pela giberela, representa um sério risco à saúde humana e animal. 

Mercados internacionais têm normas rígidas quanto à qualidade e segurança dos alimentos importados. Assim, controlar as doenças que afetam o trigo é essencial para que o Brasil consiga expandir sua participação no mercado global, fornecendo um produto seguro e competitivo.

Sustentabilidade da produção

O controle de doenças no trigo também está diretamente ligado à sustentabilidade da produção. Ao adotar práticas de manejo integrado, como a rotação de culturas e o controle biológico, o produtor contribui para a preservação dos recursos naturais, possibilitando a continuidade da produção de forma mais equilibrada e responsável.

O controle eficiente das doenças, portanto, não apenas preserva a produtividade e a qualidade do trigo, mas também protege os interesses econômicos e ambientais a longo prazo, fortalecendo a sustentabilidade da agricultura e a segurança alimentar.

A seguir, será apresentado as principais doenças do trigo, suas características e danos à produção.

Giberela

A giberela, causada pelo fungo Fusarium graminearum, é uma das doenças mais devastadoras para a cultura do trigo. 

O patógeno ataca principalmente as espigas, resultando em grãos chochos e contaminados por micotoxinas, como o desoxinivalenol (DON), que pode representar um sério risco à saúde animal e humana. 

A doença é favorecida por condições de clima úmido e temperaturas moderadas, principalmente durante o florescimento da planta, tornando algumas regiões do Brasil mais suscetíveis a surtos de giberela, especialmente o Sul.

Sintomas e danos

Os principais sintomas da giberela incluem descoloração da espiga, que adquire uma tonalidade rosa ou avermelhada, e a presença de grãos com desenvolvimento inadequado. 

A contaminação por micotoxinas, além de reduzir o valor comercial dos grãos, pode inviabilizar a venda para a indústria de alimentos. Em anos de epidemia severa, as perdas de produtividade podem ser significativas, tornando essa uma das doenças mais temidas pelos produtores.

Ferrugem

A ferrugem, tem o fungo Puccinia triticina como seu agente causal, e é outra doença de grande importância na cultura do trigo. Ela afeta principalmente as folhas, mas em casos mais graves pode se espalhar para outras partes da planta. 

Esta doença é amplamente favorecida por temperaturas amenas e alta umidade relativa, o que ocorre frequentemente em áreas produtoras de trigo no Brasil.

Sintomas e danos

Os sintomas mais evidentes da ferrugem são as pústulas alaranjadas que aparecem nas folhas, geralmente na parte inferior. Essas lesões causam a morte prematura do tecido foliar, comprometendo o processo de fotossíntese e, consequentemente, a formação de grãos. 

As perdas de produtividade podem chegar a mais da metade da produção em condições de alta severidade da doença, especialmente em lavouras onde o manejo é insuficiente.

Mancha-amarela 

A mancha-amarela, ocasionada pelo fungo Drechslera tritici-repentis, é uma doença que atinge principalmente as folhas do trigo, causando lesões necróticas e cloróticas que afetam diretamente o rendimento da planta. 

Ela é comum em diversas regiões produtoras, especialmente em áreas de monocultura, onde o inóculo do patógeno pode se acumular no solo e nos restos culturais.

Sintomas e danos

Os primeiros sintomas da mancha amarela aparecem como pequenas manchas cloróticas e amareladas nas folhas, que posteriormente evoluem para lesões necróticas.

Em casos severos, a doença pode levar à morte precoce das folhas, reduzindo a área foliar disponível para a fotossíntese e, consequentemente, afetando a formação dos grãos. As perdas de produtividade podem ser variáveis conforme as condições climáticas, a quantidade de inóculo na lavoura e as práticas de manejo adotado. 

Mancha-marrom

A mancha-marrom, causada pelo fungo Bipolaris sorokiniana, é outra relevante doença que afeta a cultura do trigo. Ela é favorecida por condições de alta umidade e pode causar perdas significativas de produtividade, principalmente em áreas onde o controle cultural e químico não é realizado de forma adequada.

Sintomas e danos

Os sintomas da mancha marrom incluem lesões escuras nas folhas, que podem evoluir para áreas necróticas maiores, resultando em desfolha precoce

A doença afeta principalmente o desenvolvimento das plantas jovens, mas também pode causar prejuízos em plantas adultas, comprometendo a produção de grãos.

Outras doenças 

Diversos outros patógenos podem ser motivo de preocupação para os produtores, como:

  • oídio (Blumeria graminis);
  • brusone (Pyricularia grisea);
  • mosaico-comum-do-trigo (Soil-borne wheat mosaic virus – SBWMV);
  • podridão-comum-das-raízes (Fusarium graminearum);
  • estria bacteriana (Xanthomonas campestris).

Para evitar que essas doenças comprometam a qualidade e a lucratividade da lavoura, o manejo integrado se apresenta como a melhor ferramenta, uma vez que abrange diferentes frentes de controle.

Manejo Integrado de Doenças (MID)

O MID é uma estratégia que busca reduzir a incidência e severidade de doenças por meio da combinação de diferentes métodos, para minimizar os danos na lavoura e promover uma produção agrícola mais sustentável. 

No caso da cultura do trigo, o MID é fundamental para o controle eficaz de doenças como giberela, ferrugem, mancha amarela e mancha marrom. O MID envolve práticas como o monitoramento constante das lavouras, e o uso de controles cultural, biológico e químico de maneira equilibrada.

Monitoramento

O monitoramento das lavouras é uma das etapas mais importantes dentro do MID. Por meio dele, é possível identificar precocemente a presença de doenças e realizar as intervenções no momento adequado, reduzindo o risco de disseminação e o impacto nas plantas. 

Técnicas de amostragem e a utilização de ferramentas tecnológicas, como drones e sensores, têm se mostrado aliadas na detecção rápida e precisa de focos de infecção.

Controle cultural

O controle cultural engloba uma série de práticas que visam reduzir a favorabilidade do ambiente para o desenvolvimento de patógenos. 

A rotação de culturas é uma das principais estratégias, pois impede o acúmulo de inóculo de patógenos no solo. Além disso, a escolha de cultivares mais tolerantes aos patógenos comumente presentes na área também auxilia na redução da pressão de doenças. 

Outro aspecto importante é a adubação balanceada, que promove plantas mais saudáveis e resistentes a ataques de fungos.

Controle biológico

O controle biológico, embora ainda em fase de expansão no Brasil, é uma alternativa promissora para o manejo de doenças do trigo. Ele se baseia no uso de organismos vivos que competem ou predam patógenos, reduzindo sua população. 

Fungos e bactérias antagonistas ao Fusarium e à Puccinia, por exemplo, têm sido estudados e estão sendo testados como opções viáveis para o controle biológico dessas doenças.

Controle químico

O controle químico é uma ferramenta importante no manejo de doenças do trigo, mas deve ser utilizado de maneira criteriosa e integrada com outras práticas. 

A escolha dos defensivos, geralmente fungicidas por se tratar de doenças fúngicas, deve ser feita com base em diagnósticos precisos, respeitando as doses recomendadas e o momento adequado para aplicação. 

No controle químico de doenças é essencial que se faça uso dos produtos de maneira preventiva, possibilitando melhor controle dos patógenos e evitando contaminações mais sérias em momentos posteriores do ciclo da cultura. 

Além disso, é fundamental a rotação de princípios ativos para evitar a seleção de organismos resistentes aos produtos utilizados.

Por que utilizar diferentes métodos de controle no MID?

A utilização de múltiplos métodos é essencial para assegurar que a produção agrícola seja tanto produtiva quanto ecologicamente sustentável. A seguir apresentaremos alguns importantes motivos para integrar os diferentes tipos de controle.

Manejo sustentável

O uso de diversas práticas dentro do MID promove uma agricultura mais sustentável. O controle cultural, como a rotação de culturas e a escolha de cultivares resistentes ou tolerantes, reduz naturalmente a presença de patógenos no solo, otimizando as intervenções químicas. 

O controle biológico, com a utilização de agentes naturais que combatem os patógenos, também contribui para a manutenção de um equilíbrio ecológico no campo.

Melhoria na eficiência do controle

A combinação de diferentes métodos permite um controle mais eficiente das doenças. O monitoramento contínuo da lavoura possibilita identificar precocemente a presença de doenças, permitindo intervenções no momento certo

O controle cultural previne a proliferação de patógenos, enquanto o controle biológico age como uma barreira natural contra a disseminação das doenças. 

A aplicação de fungicidas, por sua vez, é feita de forma mais estratégica, potencializando sua eficácia e reduzindo a quantidade de insumos necessários.

Redução de custos a longo prazo

Embora o uso de diferentes métodos possa, inicialmente, parecer mais complexo e custoso, a longo prazo, o MID resulta em uma economia significativa. Ao prevenir o surgimento de surtos de doenças severas, os produtores podem diminuir os custos com mão de obra e horas de trabalho, por exemplo. 

Além disso, ao preservar a qualidade do solo e promover uma produção mais equilibrada, o MID contribui para a sustentabilidade financeira da lavoura a longo prazo.

A integração como chave para o sucesso

Cada método de controle dentro do MID tem suas vantagens e limitações, mas é a integração desses diferentes métodos que possibilitam o sucesso no controle de doenças. 

O uso isolado de qualquer uma dessas técnicas pode não ser suficiente para combater de maneira eficaz as doenças. Quando usados em conjunto, esses métodos se complementam, oferecendo uma solução mais robusta e duradoura para os desafios fitossanitários.Dessa forma, a aplicação do MID, com a integração de diversas estratégias de controle, é uma prática fundamental para uma agricultura mais eficiente, sustentável e resiliente, capaz de enfrentar os desafios cada vez maiores das doenças nas culturas agrícolas.