O Brasil é o maior produtor mundial de laranja e derivados cítricos, sendo responsável pela maioria do suco de laranja exportado globalmente. Essa posição de destaque no mercado internacional é sustentada por uma citricultura robusta, principalmente em Estados como São Paulo e Minas Gerais. 

No entanto, um dos maiores desafios enfrentados pelos citricultores brasileiros é o manejo eficiente das plantas daninhas, que podem comprometer significativamente a produção e a rentabilidade dos pomares.

As plantas daninhas representam um dos maiores desafios no manejo de pomares de citros no Brasil. Elas competem diretamente com as laranjeiras por nutrientes, água, luz e espaço, afetando negativamente o desenvolvimento das plantas cítricas e a produção dos frutos. 

Esse problema impacta pequenos e grandes produtores, tornando o controle dessas espécies uma questão essencial para a viabilidade econômica do cultivo de citros. 

Neste artigo, falaremos dos principais problemas causados pelas plantas daninhas nos pomares cítricos, as espécies mais comuns e suas classificações, além dos métodos de controle disponíveis no manejo integrado.

O impacto das plantas daninhas nos pomares de citros no Brasil

No Brasil, a citricultura é uma atividade de grande relevância econômica, representando uma das maiores exportações agrícolas do país. Contudo, o controle de plantas daninhas nos pomares é uma preocupação constante para os produtores, visto que essas espécies competem com os citros pelos recursos do solo, dificultando o desenvolvimento das plantas e impactando diretamente na qualidade e quantidade dos frutos. 

Além dos prejuízos econômicos diretos, a presença de plantas daninhas em pomares cítricos também pode desencadear uma série de problemas secundários

A competição intensa por água e nutrientes, por exemplo, pode deixar as plantas cítricas mais vulneráveis a pragas e doenças. Com menor vigor, as laranjeiras tornam-se suscetíveis a infestações de insetos e patógenos, exigindo um controle mais rigoroso de pragas e doenças, o que pode aumentar os custos de manejo. 

A presença de plantas daninhas também dificulta a circulação de máquinas e trabalhadores nos pomares, tornando a colheita e outros procedimentos operacionais mais complicados e demorados.

No Brasil, as condições climáticas em regiões produtoras de citros, como o clima tropical e subtropical, favorecem o crescimento vigoroso das plantas daninhas. A combinação de altas temperaturas, solos férteis e chuvas bem distribuídas ao longo do ano cria um ambiente propício para o desenvolvimento dessas espécies indesejadas. 

O problema se agrava durante as estações chuvosas, quando a umidade elevada estimula a germinação de sementes de plantas daninhas que estavam latentes no solo, intensificando a infestação.

O impacto das plantas daninhas na citricultura brasileira é, portanto, um problema multifacetado que afeta diretamente a produtividade, a sanidade das plantas e a viabilidade econômica dos pomares. 

Para minimizar esses impactos, é fundamental que os citricultores compreendam a dinâmica de crescimento dessas plantas, as suas interações com o ambiente e as culturas cítricas, além de adotarem uma estratégia integrada de controle que considere não apenas métodos químicos, mas também estratégias culturais e mecânicas.

Classificação das plantas daninhas: folha larga e folha estreita

As plantas daninhas que afetam os pomares de citros podem ser classificadas em dois grandes grupos: as de folha larga e as de folha estreita. Essa distinção é importante porque cada grupo exige diferentes estratégias de controle e manejo.

Plantas de folha larga

As plantas de folha larga, ou dicotiledôneas, como o próprio nome sugere, possuem folhas mais largas, que tendem a captar mais luz solar e se espalhar rapidamente pelo solo. Elas costumam ser mais agressivas em termos de competição por nutrientes e água, representando uma grande ameaça ao desenvolvimento das árvores cítricas. 

Entre as espécies de folha larga mais comuns em pomares de citros estão:

  • corda-de-viola (Ipomoea spp.): espécie trepadeira que se enrosca nos troncos e nos galhos das laranjeiras, dificultando o manejo e a colheita. Além de competir por recursos, pode causar sombreamento excessivo nas plantas, principalmente em pomares mais jovens. 

Mesmo quando removida mecanicamente ou com o uso de herbicidas, a planta possui uma notável capacidade de rebrotar a partir de partes que ficam no solo, como fragmentos de raízes ou caules.

  • buva (Conyza spp.): altamente resistente a herbicidas, principalmente ao glifosato, essa planta daninha se prolifera rapidamente e pode atingir grandes proporções, afetando tanto áreas cultivadas quanto áreas de manejo entre os pomares. 

É uma planta de ciclo anual, que se espalha facilmente por meio de suas sementes extremamente leves, transportadas pelo vento a longas distâncias. Essa característica facilita a infestação de novas áreas, inclusive em pomares de citros que antes não apresentavam problemas com essa espécie. 

  • trapoeraba (Commelina spp.): possui grande capacidade de regeneração vegetativa de fragmentos de caules e raízes, além da sua reprodução por sementes, o que a torna uma das espécies mais difíceis de controlar. Suas folhas possuem uma cutícula cerosa que ajudam a reduzir a perda de água em dias mais quentes, e, além disso, pode dificultar a absorção de herbicidas.

Em pomares de citros, sua presença prejudica o desenvolvimento das plantas, especialmente em períodos de maior umidade. É extremamente adaptável, tolerando solos encharcados e áreas sombreadas, o que facilita sua proliferação em diferentes tipos de pomares. 

  • caruru (Amaranthus spp.): essa planta tem alta capacidade de produção de sementes que possuem alta viabilidade e podem permanecer no solo por vários anos, tornando-se um problema generalizado. 

As espécies desse gênero são extremamente competitivas, especialmente em solos férteis, onde seu crescimento é rápido e agressivo. Suas raízes profundas e sistema de ramificação denso permitem que ela absorva grandes quantidades de água e nutrientes, muitas vezes em detrimento das laranjeiras.

  • picão-preto (Bidens pilosa): outra espécie bastante disseminada e de difícil controle, o picão-preto possui alta resistência a herbicidas e é uma planta de ciclo rápido, o que facilita sua proliferação nos pomares. 

A planta é extremamente prolífica em termos de produção de sementes, podendo gerar milhares de sementes por indivíduo, que são facilmente dispersas pelo vento, pela água, pelos animais e até mesmo por máquinas agrícolas.

Plantas de folha estreita

As plantas de folha estreita, por outro lado, apresentam folhas mais finas, com nervuras paralelas à nervura central, e geralmente pertencem ao grupo das gramíneas. Embora pareçam menos agressivas visualmente, são igualmente prejudiciais aos pomares de citros. 

Suas raízes profundas e capacidade de competir por água em camadas mais inferiores do solo são características que dificultam o manejo. Entre as espécies de folha estreita, destacam-se:

  • capim-pé-de-galinha (Eleusine indica): uma das gramíneas mais comuns em pomares, e também é facilmente encontrada em lavouras de soja, milho e algodão. Possui grande capacidade de competição por nutrientes e se adapta bem a diferentes tipos de solo

É especialmente prevalente em regiões tropicais e subtropicais, onde as condições de temperatura e umidade favorecem seu crescimento vigoroso. No entanto, em períodos de seca ou em solos mais compactados, o capim-pé-de-galinha se adapta bem, mantendo-se verde e competitivo, enquanto as plantas cítricas sofrem com a escassez de água.

  • capim-colonião (Panicum maximum): originalmente utilizado como pastagem para o gado devido ao seu crescimento robusto e rápido, pode se tornar uma planta daninha agressiva quando se espalha para pomares de citros, causando sérios problemas de manejo.

Essa gramínea, de sistema radicular profundo e extenso, pode atingir grandes alturas, prejudicando o acesso à luz solar pelas laranjeiras, que interfere diretamente na fotossíntese das plantas cítricas. É uma planta de difícil controle devido à sua alta produção de sementes.

  • capim-amargoso (Digitaria insularis): com vários relatos de resistência ao controle químico, especialmente ao glifosato, o capim-amargoso está presente em várias regiões de cultivo de citros, representando um desafio para os produtores.

É uma planta perene, com capacidade de formar grandes touceiras e pode dificultar o trânsito de máquinas e trabalhadores nos pomares, aumentando os custos operacionais e dificultando a colheita e outras atividades de manejo. Essa espécie pode se espalhar rapidamente em áreas onde o controle não é feito de maneira eficiente, principalmente por sua excelente disseminação de sementes.

Banco de sementes no solo e condições climáticas

Um dos fatores que contribuem para a proliferação constante de plantas daninhas em pomares de citros é o banco de sementes no solo. 

O banco de sementes é o conjunto de sementes viáveis presentes no solo, que podem germinar sob condições favoráveis. No caso das plantas daninhas, muitas delas produzem uma grande quantidade de sementes, que permanecem dormentes no solo por anos, aguardando condições ideais de umidade, temperatura e luz para germinar.

O clima tropical e subtropical brasileiro, com temperaturas amenas a altas e elevada incidência de chuvas em muitas regiões, proporciona um ambiente perfeito para o desenvolvimento dessas plantas. 

Durante a estação chuvosa, há uma explosão no crescimento das plantas daninhas, enquanto no período seco, muitas espécies entram em dormência, mas permanecem viáveis no banco de sementes.

Com o conhecimento dos hábitos de crescimento e características próprias de cada espécie, o produtor deve adotar um manejo que englobe diferentes frentes de controle.

MIPD: estratégias de controle de plantas daninhas nos citros

Diante do impacto significativo das plantas daninhas sobre a produção de citros, os produtores devem adotar o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), que visa utilizar diferentes estratégias de controle para obter o máximo de eficiência e reduzir os custos do produtor. 

Entre os diversos tipos de controle podemos classificá-los em cultural, mecânico e químico, sempre atuando em conjunto com o monitoramento das áreas.

Monitoramento e identificação

Um dos pontos-chave para o manejo eficaz das plantas daninhas nos pomares de citros é o monitoramento constante. A identificação precoce de novas espécies invasoras ou de pequenos focos de infestação pode evitar que o problema se agrave e exija intervenções mais intensivas. 

O uso de ferramentas tecnológicas, como drones e imagens de satélite, tem sido cada vez mais adotado para auxiliar os produtores no monitoramento das áreas de cultivo.

Além disso, o conhecimento sobre as características biológicas das plantas daninhas e sua capacidade de resistência a diferentes métodos de controle é essencial para a tomada de decisões. A correta identificação das espécies presentes no pomar permite que o produtor escolha as estratégias mais adequadas e assertivas.

Controle cultural

É uma das principais estratégias sustentáveis e preventivas no manejo de plantas daninhas em pomares de citros. O controle cultural se concentra em práticas de manejo do solo e do ambiente para impedir o desenvolvimento e a proliferação dessas espécies indesejadas. 

Esse controle visa criar condições desfavoráveis ao crescimento das plantas daninhas, reduzindo a necessidade de intervenções mais intensivas e contribuindo para a sustentabilidade do manejo agrícola. 

Algumas das práticas do controle cultural incluem a cobertura vegetal e a palhada no solo, a adubação verde e o manejo de densidade e espaçamento entre as árvores no momento de implantação do pomar.

Controle mecânico

É uma técnica tradicional e eficaz que consiste na remoção física das espécies indesejadas, utilizando ferramentas manuais ou máquinas agrícolas em atividades como roçada, capina e desbastes. 

No contexto da citricultura, o controle mecânico desempenha um papel importante no manejo integrado de plantas daninhas, especialmente em áreas onde o uso de herbicidas é limitado ou indesejável. 

Esse método é particularmente útil em pomares jovens, onde as árvores estão em fase de crescimento e podem ser mais sensíveis a danos químicos, ou em áreas com a presença de plantas daninhas com resistência a herbicidas.

Embora o controle mecânico ofereça diversas vantagens, é importante considerar algumas limitações. Essa prática também requer mão de obra intensiva, equipamentos específicos e uma frequência maior de intervenções, o que pode aumentar os custos operacionais para o produtor.

Controle químico 

É uma das ferramentas mais utilizadas pelos produtores de citros no Brasil devido à sua eficácia e rapidez no manejo de espécies indesejadas. 

Ele envolve o uso de herbicidas para eliminar ou suprimir o crescimento de plantas daninhas. Embora o controle químico seja uma solução eficiente, ele exige planejamento cuidadoso para evitar problemas como a resistência de plantas daninhas.

Os herbicidas utilizados na citricultura podem ser divididos em várias categorias, dependendo de seu modo de ação e da forma como são aplicados. Para garantir o sucesso no manejo de plantas daninhas, é fundamental que os citricultores escolham os herbicidas adequados para cada situação, respeitem as dosagens recomendadas e adotem estratégias integradas.

Tipos de herbicidas usados no controle químico

Os herbicidas podem ser classificados de acordo com diferentes critérios, como o mecanismo de ação, a seletividade e o momento de aplicação. Esses fatores são importantes na escolha do produto ideal para cada pomar.

  1. Herbicidas seletivos e não seletivos
    • Herbicidas seletivos: são aqueles que controlam plantas daninhas específicas, sem causar danos significativos às culturas desejadas. No caso da citricultura, herbicidas seletivos são escolhidos para eliminar, por exemplo, plantas daninhas de folha larga ou estreita. 
    • Herbicidas não seletivos: também conhecidos como herbicidas de “amplo espectro“, eliminam qualquer tipo de planta com a qual entram em contato, tanto plantas daninhas quanto outras espécies. 
  2. Herbicidas pré-emergentes e pós-emergentes
    • Herbicidas pré-emergentes: são aplicados antes da germinação das plantas daninhas, formando uma barreira química no solo que impede o desenvolvimento de novas plântulas. São particularmente úteis para prevenir a proliferação de espécies que têm alta capacidade de reprodução por sementes. Sua eficácia depende da aplicação correta, geralmente logo após o preparo do solo ou a limpeza das áreas de manejo.
    • Herbicidas pós-emergentes: são aplicados sobre as plantas daninhas já estabelecidas, eliminando ou controlando seu crescimento. Eles podem ser utilizados para controle de plantas daninhas perenes e anuais.
  3. Herbicidas sistêmicos e de contato
    • Herbicidas sistêmicos: são absorvidos pelas folhas ou pelas raízes das plantas e transportados por todo o organismo vegetal, atingindo inclusive as raízes e ps rizomas. A ação sistêmica é ideal para plantas daninhas com raízes profundas, que precisam ser completamente eliminadas para evitar sua regeneração.
    • Herbicidas de contato: atuam diretamente nas partes da planta com as quais entram em contato, geralmente nas folhas. Eles são eficazes para o controle de plantas anuais ou em estádios iniciais de crescimento, mas não penetram nas raízes ou estruturas subterrâneas, o que significa que podem não ser suficientes para plantas daninhas perenes que tendem a rebrotar após a aplicação.

Benefícios do controle químico

A seguir, listamos algumas das grandes vantagens do uso do controle químico no manejo de plantas daninhas.

  • Eficácia e rapidez: o controle químico é rápido e eficiente, especialmente em grandes áreas infestadas por plantas daninhas agressivas. Ele pode eliminar rapidamente grandes populações de plantas daninhas, facilitando o manejo e melhorando a produtividade do pomar.
  • Custo-benefício: em muitos casos, o uso de herbicidas pode ser mais econômico a curto prazo do que outras técnicas, como o controle mecânico, que exige mais mão de obra e maquinário.
  • Flexibilidade no manejo: o controle químico pode ser ajustado para diferentes estádios de desenvolvimento das plantas daninhas, permitindo uma ação direcionada em momentos específicos do ciclo de crescimento das espécies indesejadas.

Estratégias para o bom uso do manejo químico

A rotação de mecanismos de ação é uma prática crucial para evitar a seleção de plantas daninhas com resistência, especialmente em cultivos que utilizam herbicidas de forma intensiva. Alternar o uso de herbicidas com diferentes modos de ação interrompe o ciclo de adaptação das plantas daninhas a um único tipo de produto químico, preservando a eficácia dos herbicidas. 

Além da rotação, é fundamental seguir rigorosamente as recomendações técnicas de doses e intervalos de aplicação fornecidas pelos fabricantes de herbicidas. O uso de doses abaixo do recomendado pode não ser eficaz no controle das plantas daninhas, favorecendo a permanência dessas plantas na área. Por outro lado, a aplicação de doses excessivas aumenta o risco de fitotoxicidade nas culturas, além de gerar custos desnecessários. 

Respeitar os intervalos de aplicação é igualmente importante, já que reaplicações fora do prazo adequado podem reduzir a eficiência do produto ou intensificar o desenvolvimento de resistência. Ao seguir essas orientações, os citricultores permitem a máxima eficácia do manejo químico e a sustentabilidade de longo prazo do controle de plantas daninhas.

Um manejo eficaz para alcançar a produtividade dos citros

O controle de plantas daninhas em pomares de citros é um desafio constante, que exige a adoção de práticas integradas e um monitoramento contínuo. Espécies como a corda-de-viola, buva, trapoeraba e capim-pé-de-galinha são apenas algumas das plantas que podem comprometer o desenvolvimento das laranjeiras, afetando diretamente a produtividade e a qualidade dos frutos.

Para viabilizar a atividade econômica da citricultura, é essencial que os produtores adotem uma estratégia proativa no manejo das plantas daninhas, combinando métodos de controle químico, mecânico e cultural com o monitoramento contínuo das áreas de cultivo. 

Dessa forma, é possível minimizar os impactos negativos dessas espécies e obter a saúde dos pomares a longo prazo.