A mancha-alvo no algodão, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, vem se tornando uma preocupação crescente entre os cotonicultores do Brasil. A expansão dessa doença, favorecida por condições climáticas específicas e por práticas agrícolas oportunas para o patógeno, pode comprometer significativamente o rendimento e a qualidade das lavouras de algodão. 

Nos últimos anos, a doença tem sido observada com maior frequência nas principais regiões produtoras do país, como Mato Grosso e Bahia, Estados responsáveis pela maior parte da produção nacional.

Com o Brasil alcançando a posição de maior exportador de algodão do mundo na safra 2023/24, as perdas causadas pela mancha-alvo se traduzem em sérios prejuízos econômicos. 

Nesse contexto, torna-se imprescindível compreender a dinâmica dessa doença, identificar seus principais sintomas e conhecer as estratégias de controle disponíveis. Além disso, é essencial entender o papel do monitoramento contínuo e do Manejo Integrado de Doenças como ferramentas-chave para a mitigação dos danos causados pela mancha-alvo e para garantir a sustentabilidade da cultura do algodão no Brasil.

Contexto da mancha-alvo no algodão no Brasil

Nos últimos anos, o Brasil tem se firmado como um dos maiores produtores de algodão do mundo, com destaque para os Estados de Mato Grosso e Bahia, responsáveis pela grande maioria da produção nacional. Contudo, o aumento na intensidade de cultivos trouxe consigo um maior risco de incidência de doenças, como a mancha-alvo.

A doença, que já havia sido identificada em outras culturas, passou a ser um desafio recorrente para os cotonicultores. A sua expansão está fortemente relacionada às condições climáticas favoráveis e à alta densidade de plantio. 

Os prejuízos causados pela mancha-alvo podem ser bastante comprometedores em áreas severamente afetadas, resultando em perdas econômicas significativas e colocando em risco a competitividade do algodão brasileiro no mercado internacional.

Diante desse cenário, é extremamente importante que se conheça os principais sintomas e os danos gerados pelo patógeno causador da mancha-alvo.

Principais sintomas da mancha-alvo no algodão

O diagnóstico precoce da mancha-alvo é essencial para que os produtores possam implementar as medidas adequadas de controle. Os primeiros sintomas geralmente aparecem nas folhas, com o surgimento de pequenas lesões de coloração marrom

À medida que a doença avança, essas lesões aumentam de tamanho, assumindo uma forma circular com bordas bem definidas e uma região central mais clara, que se assemelha a um “alvo” — característica que dá nome à doença.

As regiões infectadas acabam por necrosar, o que resulta na queda precoce das folhas. Isso compromete a fotossíntese da planta e, consequentemente, seu desenvolvimento. Plantas severamente infectadas apresentam desfolha intensa, o que as deixa mais sensíveis ao estresse ambiental, além de comprometer a maturação das fibras.

Características do patógeno: ciclo de vida, formas de contaminação e dispersão

O fungo Corynespora cassiicola tem um ciclo de vida adaptável a diferentes culturas agrícolas, como soja e feijão, o que dificulta seu controle efetivo. Ele pode sobreviver nos restos culturais presentes no solo e em plantas hospedeiras, sendo facilmente disperso por meio do vento, da água e de implementos agrícolas contaminados.

A infecção geralmente ocorre em condições de longo período de molhamento foliar e em temperaturas elevadas, comuns nas principais regiões produtoras de algodão no Brasil. O patógeno libera esporos levados pelo vento a longas distâncias, contaminando outras plantas. 

A chuva, ou até mesmo a irrigação por aspersão, podem favorecer a germinação dos esporos, acelerando o ciclo da doença. Uma vez que a planta é infectada, o fungo pode produzir novos esporos que se espalham, intensificando a infecção na lavoura.

Em termos de condições climáticas, a mancha-alvo encontra um ambiente propício para seu desenvolvimento em regiões com temperaturas entre 25 °C e 30 °C e alta umidade relativa do ar. Temperaturas abaixo de 20 °C desfavorecem o desenvolvimento e a propagação do agente causal da mancha-alvo.

A alta densidade de plantio característica das lavouras modernas de algodão também facilita a propagação da doença, devido à menor circulação de ar e ao aumento da umidade entre as plantas.

O entendimento das características do fungo responsável pela mancha-alvo é fundamental para a definição de estratégias de controle eficazes. As características de fácil adaptabilidade e dispersão tornam o patógeno uma ameaça persistente nas lavouras de algodão. 

Diante dessa complexidade, o controle isolado, seja por práticas culturais ou químicas, pode não ser suficiente para conter a doença de forma sustentável. 

É nesse contexto que o Manejo Integrado de Doenças (MID) se destaca, combinando diferentes métodos de controle — culturais, biológicos e químicos — para minimizar os impactos da mancha-alvo. 

A importância do Manejo Integrado de Doenças (MID)

O MID é a estratégia mais recomendada para o controle eficaz da mancha-alvo no algodão, que combina diferentes métodos de controle — cultural, biológico e químico — para minimizar os danos causados pela doença e garantir a sustentabilidade da produção.

A adoção de um manejo integrado permite que o produtor controle a doença de maneira mais eficiente, ao mesmo tempo em que otimiza a aplicação dos fungicidas. Além disso, o MID promove a conservação de organismos benéficos no campo, que podem auxiliar no controle natural do patógeno.

Para alcançar um MID eficiente no controle da mancha-alvo, é fortemente recomendado que o produtor ou técnico sempre priorize o monitoramento da lavoura. 

Monitoramento e identificação da mancha-alvo

Para garantir o controle eficaz da mancha-alvo, o monitoramento contínuo da lavoura é essencial. Dessa forma é possível que o produtor tome as medidas preventivas antes que a doença se espalhe, minimizando os danos à cultura.

O monitoramento deve ser realizado com visitas regulares à lavoura, especialmente em períodos de maior risco, como após chuvas intensas ou durante períodos prolongados de alta umidade. A utilização de ferramentas tecnológicas, como drones equipados com câmeras de alta resolução, pode facilitar a identificação de áreas afetadas e otimizar o processo de tomada de decisão. 

Além disso, é importante que o produtor esteja atento à correta identificação do patógeno, já que lesões foliares podem ser causadas por diferentes agentes, e um diagnóstico equivocado pode levar ao uso de tratamentos inadequados.

Métodos de controle da mancha-alvo

Diante do impacto econômico causado pela mancha-alvo, o controle dessa doença se torna uma prioridade. No Brasil, os produtores vêm adotando diferentes métodos, que podem ser divididos em estratégias culturais, biológicas e químicas. A seguir, detalharemos as principais formas de controle disponíveis.

  • Controle cultural:

Envolve práticas agrícolas que reduzem a incidência da doença e diminuem as condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo. Entre as medidas mais eficazes, estão a rotação de culturas e o espaçamento entre plantas. 

Ao evitar o plantio contínuo de algodão na mesma área, o produtor consegue reduzir a carga de inóculo presente no solo, limitando a dispersão do fungo.

Além disso, a adoção de espaçamentos adequados entre as plantas facilita a circulação do ar na lavoura, reduzindo a umidade e dificultando a proliferação do patógeno. Outra medida importante é buscar cultivares com características no material genético que tornem a planta mais tolerante à mancha-alvo.

  • Controle biológico:

O controle biológico é uma alternativa sustentável e promissora para o manejo da mancha-alvo. Ele envolve o uso de microrganismos benéficos, como fungos e bactérias, que competem com o Corynespora cassiicola ou inibem seu crescimento. 

Esses agentes biológicos, quando aplicados diretamente na lavoura ou no solo, ajudam a reduzir a população do patógeno de maneira natural e com baixo impacto ambiental.

No entanto, o controle biológico por si só ainda não é suficiente para garantir o controle total da mancha-alvo, sendo recomendado como parte de um manejo integrado de doenças.

  • Controle químico:

O controle químico da mancha-alvo no algodão é uma das principais ferramentas utilizadas pelos produtores para reduzir a disseminação do fungo Corynespora cassiicola. Para que essa estratégia seja eficaz, é crucial adotar um manejo preventivo, com aplicações iniciadas antes que a doença se instale de forma severa na lavoura. 

O controle preventivo é especialmente importante em regiões com histórico de incidência da doença ou em condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do patógeno, como períodos de alta umidade e temperaturas elevadas.

A rotação de moléculas com diferentes modos de ação é outro ponto essencial para evitar a seleção de populações de fungos resistentes aos fungicidas. A aplicação repetida de produtos com o mesmo princípio ativo pode reduzir a eficácia dos tratamentos ao longo do tempo. Por isso, os produtores devem planejar o uso de fungicidas de diferentes grupos químicos ao longo do ciclo da cultura. 

Fungicidas de variados princípios ativos têm mostrado bons resultados no manejo da mancha-alvo, desde que utilizados de forma estratégica, alternando as moléculas para prolongar a vida útil dos produtos.

Além da escolha correta do fungicida, é fundamental seguir rigorosamente as doses recomendadas pelos fabricantes e pelos engenheiros-agrônomos. Subdosagens podem não ser suficientes para controlar a doença, enquanto superdosagens, além de representar um desperdício de produto, podem favorecer o surgimento de resistência e aumentar os custos de produção.

As épocas de aplicação também são muito importantes no sucesso do controle químico. As primeiras pulverizações devem ser feitas preventivamente, principalmente no início do ciclo da planta, antes do fechamento das entrelinhas, pois após esse período, a umidade aumenta entre as plantas e a circulação de ar nesse microclima diminui. Em áreas de maior risco, pode ser necessário repetir as aplicações em intervalos regulares, conforme as condições climáticas e o nível de pressão da doença.

Para maximizar a eficácia dos fungicidas, as tecnologias de aplicação também devem ser utilizadas. Pulverizadores com sistemas de alta precisão, que ajustam o volume de calda e o tamanho das gotas conforme a densidade foliar e o estágio de desenvolvimento da planta, são essenciais para garantir que o produto atinja adequadamente todas as partes do algodoeiro, especialmente nas áreas internas da folhagem. 

Além disso, o uso de adjuvantes, que melhoram a adesão dos fungicidas nas folhas, pode aumentar ainda mais a eficiência das aplicações, reduzindo a perda de produto por deriva ou evaporação.

Em resumo, o controle químico da mancha-alvo no algodão exige uma visão cuidadosa e estratégica, que combina prevenção, rotação de moléculas, doses adequadas e tecnologias de aplicação avançadas. 

Quando feito corretamente, o controle químico pode ser uma ferramenta eficaz em um plano de MID, ajudando a preservar a produtividade da lavoura e a sustentabilidade do cultivo.

Caminhos para o controle eficiente da mancha-alvo 

A mancha-alvo no algodão representa um desafio crescente para os produtores brasileiros, principalmente em virtude dos prejuízos que pode causar à produtividade e à qualidade da fibra. 

O controle eficaz dessa doença exige uma estratégia integrada, que combine medidas culturais, biológicas e químicas. O monitoramento contínuo da lavoura, associado ao uso correto de fungicidas e à adoção de práticas culturais adequadas, é fundamental para minimizar os impactos da doença e garantir a sustentabilidade da produção de algodão no Brasil. 

Ao seguir essas orientações, os produtores podem manter suas lavouras protegidas, alcançar produtividade e rentabilidade satisfatórias, produzir uma fibra de qualidade e assegurar sua competitividade no mercado global.