O Brasil é o maior produtor mundial de citros, especialmente de laranja, limão e tangerina, com grande destaque na produção de suco de laranja. A citricultura tem uma relevância econômica significativa, principalmente nos Estados do Sudeste, gerando emprego e renda tanto no mercado interno quanto no externo. 

No entanto, para manter a produtividade alta e atender à demanda global, é essencial o controle de pragas, pois podem comprometer a qualidade e o rendimento da produção. 

As pragas dos citros representam uma ameaça constante, exigindo técnicas de manejo eficiente para evitar perdas expressivas. Existem diversas espécies que podem reduzir a lucratividade do produtor e é preciso estar atento a cada uma delas.

Este texto falará das principais pragas encontradas nos citros no Brasil, suas principais características e danos, e as estratégias de controle baseadas no Manejo Integrado de Pragas (MIP).

O cultivo dos citros no Brasil e a incidência de pragas

O cultivo de citros no Brasil é vasto e diversificado, abrangendo várias espécies como laranjas, limões, tangerinas, limas e pomelos. Cada uma dessas espécies tem sua relevância no mercado interno e externo, com a laranja se destacando pela produção de suco para exportação. 

Para alcançar uma produção de alta qualidade e manter o Brasil como referência global no setor, é fundamental o manejo adequado das pragas, que são uma das principais ameaças à produtividade e à sanidade dos pomares.

O primeiro passo para alcançar o sucesso no controle de pragas é o conhecimento profundo das pragas presentes no campo e dos danos que elas podem causar. 

A presença de pragas afeta diretamente o crescimento, a sanidade e a produção das plantas. Cada uma dessas pragas possui um ciclo de vida e um tipo de dano específicos que, se não forem identificados e controlados adequadamente, podem causar grandes prejuízos à cultura.

Mosca-das-frutas: um risco à produção de citros

A mosca-das-frutas é uma das pragas mais destrutivas que afetam as frutas cítricas, podendo causar danos severos nas lavouras. As espécies mais comuns no Brasil são a Ceratitis capitata (comumente chamada de mosca-do-mediterrâneo) e a Anastrepha fraterculus (conhecida como mosca-das-frutas-sul-americana). Ambas têm um ciclo de vida curto e alta capacidade reprodutiva, o que facilita a rápida infestação dos pomares.

Cada espécie possui características morfológicas distintas. O inseto adulto da A. fraterculus é uma mosca de aproximadamente 7 mm, de coloração predominante amarelo-alaranjado com algumas listras no abdômen. A C. capitata costuma ser um pouco menor (5 mm) com um tórax com coloração geral mais escura.

Essas moscas depositam seus ovos diretamente nas frutas, e as larvas, ao eclodirem, alimentam-se da polpa escavando galerias que desestruturam o tecido interno da fruta, tornando-a imprópria para consumo e mercados. Esse dano interno é muitas vezes invisível até o ponto em que o fruto apodrece e cai prematuramente, levando a perdas consideráveis para os produtores. 

Os danos causados pela mosca-das-frutas também incluem a queda prematura dos frutos e a redução na qualidade por resultar em frutos deformados e apodrecidos, impactando diretamente a comercialização tanto para o consumo fresco quanto para a indústria de sucos. 

Larva-minadora: uma ameaça ao desenvolvimento das plantas cítricas 

A larva-minadora, causada pelo inseto Phyllocnistis citrella, também é uma das pragas mais prejudiciais à citricultura. Ela afeta principalmente os brotos jovens das plantas, prejudicando diretamente o crescimento vegetativo e comprometendo a capacidade das árvores em produção e quantidade. 

O ataque dessa praga é especialmente perigoso para mudas e plantas em fase inicial de desenvolvimento, mas também afeta pomares em produção, especialmente durante os períodos de maior crescimento vegetativo.

A larva-minadora é uma mariposa de pequeno porte, cujas larvas causam os maiores danos à planta. A fêmea deposita seus ovos nas folhas novas e, ao eclodirem, as larvas se instalam no interior da folha, escavando galerias serpenteantes logo abaixo da epiderme. Esses túneis são visíveis a olho nu e apresentam uma coloração prateada, sendo um sinal característico do ataque da praga.

À medida que as larvas se alimentam, as folhas tornam-se retorcidas e deformadas, perdendo sua capacidade fotossintética. Isso resulta em uma redução no crescimento da planta, enfraquecendo sua estrutura e comprometendo sua capacidade de produzir flores e frutos de forma satisfatória.

Além dos danos diretos às folhas, o ataque da larva-minadora pode gerar consequências indiretas, como a facilitação de infecções secundárias. As galerias criadas pela larva deixam as folhas mais suscetíveis a doenças, que podem penetrar mais facilmente nas feridas deixadas pela praga. 

A larva-minadora tem um ciclo de vida curto, variando entre 12 e 30 dias aproximadamente, dependendo das condições climáticas. Ela é mais ativa durante períodos de clima quente e úmido, como o verão e o início do outono. Durante esses meses, a atividade vegetativa das plantas cítricas é mais intensa, fornecendo uma abundância de brotos novos, o principal alvo das larvas.

Psilídeo: principal vetor do greening

O psilídeo (Diaphorina citri) é uma das pragas mais perigosas para a citricultura mundial, especialmente no Brasil, por ser o principal vetor da bactéria responsável pelo greening, também conhecida como Huanglongbing (HLB). 

O HLB é a doença mais devastadora para os citros, sem cura conhecida até o momento, e tem levado à erradicação de milhões de árvores cítricas em várias regiões produtoras do mundo. A disseminação rápida do psilídeo e sua capacidade de transmitir a bactéria torna o controle dessa praga uma prioridade absoluta para citricultores.

O ciclo de vida do psilídeo é relativamente curto, passando pelas fases de ovo, ninfa e adulto. As fêmeas depositam seus ovos nos brotos novos e, em condições favoráveis, a praga pode completar seu ciclo de vida em menos de 20 dias nos meses mais quentes do ano. As ninfas são amarelo-alaranjadas e de formato achatado e assim como os adultos, alimentam-se da seiva da planta.

O psilídeo adulto é um inseto pequeno, de 2 a 3 mm de comprimento, com cor variando entre marrom e cinza. Ao se alimentar, prefere brotos jovens e tenros, órgãos nos quais suga os nutrientes essenciais para o crescimento da planta. No entanto, o maior problema não é o dano direto causado pelo ato de sugar, mas a transmissão da bactéria Candidatus Liberibacter spp., que causa o greening.

Quando infectado pelo greening, o inseto carrega a bactéria e pode transferi-la para qualquer planta cítrica que infeste. O greening ataca o sistema vascular da planta, interrompendo o transporte de nutrientes, o que causa uma série de sintomas que comprometem a produção de frutos.

As condições climáticas quentes e úmidas, comuns nas principais regiões produtoras de citros do Brasil, favorecem a rápida multiplicação do psilídeo. Dessa forma, os pomares precisam ser monitorados continuamente, especialmente durante os períodos de maior crescimento vegetativo, quando há abundância de novos brotos, os quais atraem as fêmeas para oviposição.

O psilídeo pode dispersar-se facilmente com a ajuda do vento, além de ser transportado por meio de mudas infectadas ou equipamentos agrícolas. A rápida capacidade de movimentação da praga e seu ciclo reprodutivo curto tornam o controle ainda mais desafiador.

Cigarrinhas: outro importante vetor de doenças

As principais espécies de cigarrinhas que preocupam os citricultores no Brasil são:

  • Dilobopterus costalimai;
  • Oncometopia facialis
  • Acrogonia spp. 

A disseminação dessa praga é um grande desafio para os produtores, pois afeta a qualidade e o rendimento das frutas, comprometendo a produção e a comercialização.

As cigarrinhas são insetos sugadores que causam danos significativos à citricultura, sendo especialmente preocupantes por atuarem como vetores da Clorose Variegada dos Citros (CVC), uma doença também conhecida como amarelinho

As cigarrinhas adultas e ninfas alimentam-se da seiva das plantas, sugando o floema das folhas e brotos, o que pode enfraquecer as plantas, especialmente quando há alta infestação. No processo de alimentação, algumas espécies podem transmitir a bactéria Xylella fastidiosa, responsável pela CVC. 

Essa doença afeta folhas, frutos e brotos, e impacta negativamente o desenvolvimento da planta, resultando em uma redução expressiva da produtividade e da qualidade dos frutos, o que acarreta prejuízos econômicos significativos. Os sintomas característicos incluem manchas amareladas desuniformes nas folhas em forma de clorose variegada, além de frutos duros, pequenos e com maturação precoce.

As cigarrinhas possuem um ciclo de vida curto e, por isso, se reproduzem de forma rápida, especialmente em condições de clima quente e úmido, comuns nas principais regiões citrícolas do Brasil. 

Em anos chuvosos, as cigarrinhas surgem na primavera, enquanto em períodos secos, sua ocorrência é mais comum no verão. Com o início da seca, por volta do meio do ano, elas gradualmente desaparecem dos pomares.

Outras pragas 

Além das espécies citadas, os pomares também podem ser comprometidos por outros insetos causadores de danos:

  • cochonilha-ortézia (Orthezia praelonga);
  • ácaro-da-falsa-ferrugem-dos-citros (Phyllocoptruta oleivora);
  • ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus);
  • ácaro-da-leprose-dos-citros (Brevipalpus yothersi); 
  • pulgão-preto (Toxoptera citricida);
  • bicho-furão (Gymnandrosoma aurantianum);
  • escama-farinha (Unaspis citri).

A diversidade de espécies potencialmente causadora de danos nos citros exige do produtor, além dos conhecimentos específicos de cada praga, adotar um manejo eficiente e integrado, capaz de controlar de forma adequada as populações dos insetos presentes nos pomares.

Manejo Integrado de Pragas (MIP) na citricultura

O MIP é uma estratégia essencial para o controle sustentável das pragas que afetam os citros. Essa ferramenta integra diferentes métodos de controle, buscando reduzir os danos causados pelas diferentes espécies e promover um equilíbrio no ecossistema agrícola.

Uma das bases do MIP é o monitoramento constante das pragas e a utilização de níveis de dano econômico, nível de controle e nível de equilíbrio como parâmetros para a tomada de decisão sobre o momento ideal de intervenção.

Nível de Dano Econômico (NDE)

Refere-se à densidade populacional da praga em que o custo dos danos causados por ela se iguala ou supera o custo do controle. Em outras palavras, é o ponto em que a ação de controle passa a ser economicamente justificável.

No caso das pragas dos citros, como a mosca-das-frutas ou o psilídeo, o NDE varia conforme a região, o clima e o manejo adotado pelo produtor. As ações de controle devem ser implementadas quando a população da praga atingir ou ultrapassar esse nível, possibilitando intervenções mais eficientes e promovendo uma agricultura mais sustentável.

Nível de controle (NC)

O nível de controle é o ponto em que a ação de controle deve ser realizada para evitar que a praga alcance o nível de dano econômico. Esse conceito é fundamental no MIP, pois permite a adoção de medidas preventivas antes que os danos se tornem irreversíveis ou onerosos.

Por exemplo, para o controle do psilídeo, a aplicação de inseticidas e o uso de controle biológico, como predadores naturais, podem ser adotados quando a população do inseto atinge o nível de controle, minimizando a disseminação do greening.

Nível de equilíbrio (NE)

Corresponde à densidade populacional da praga que pode ser tolerada sem que haja prejuízo econômico significativo. Esse nível varia conforme o tipo de praga e a cultura em questão. 

Na citricultura, o nível de equilíbrio busca manter a população de pragas sob controle, mas sem erradicar completamente os insetos benéficos ou os predadores naturais, que auxiliam no controle biológico.

O manejo integrado de pragas na citricultura deve considerar a preservação do ecossistema agrícola, promovendo um equilíbrio entre as pragas e seus inimigos naturais. Dessa forma, a necessidade de intervenção é realizada sempre com base no monitoramento, contribuindo para uma produção mais sustentável e ambientalmente responsável.

A importância do monitoramento no MIP

O monitoramento é uma etapa essencial no MIP, sendo o primeiro passo para a tomada de decisões assertivas e a implementação de ações de controle eficientes. Por meio do monitoramento, é possível acompanhar a presença e a evolução das pragas nos pomares de citros, identificando o momento exato em que as populações atingem o NDE.

O objetivo principal do monitoramento é assegurar que as medidas de controle sejam aplicadas de forma precisa, apenas quando necessário, evitando intervenções desnecessárias e contribuindo para a sustentabilidade do sistema produtivo. 

Além disso, essa prática ajuda a identificar os períodos críticos de infestação, permitindo que o produtor antecipe ações preventivas e evite danos mais graves à cultura.

Técnicas de monitoramento

O monitoramento pode ser feito de várias maneiras, utilizando diferentes técnicas.

  • Armadilhas: são dispositivos que atraem pragas, permitindo a captura e contagem dos indivíduos. As armadilhas mais comuns são as adesivas (como as amarelas para cigarrinhas e psilídeos) e as de feromônio (usadas para monitorar mosca-das-frutas, por exemplo).
  • Inspeção visual: envolve a observação direta das plantas para verificar sinais de infestação, como a presença de ovos, larvas, ninfas ou adultos. É especialmente importante nas fases iniciais de desenvolvimento das pragas, quando a ação rápida pode evitar a disseminação.
  • Amostragem sistemática: consiste na análise de um número representativo de plantas em diferentes áreas do pomar, coletando dados sobre a presença de pragas e seus danos. Esse método ajuda a entender a distribuição da praga e sua densidade populacional.

Benefícios do monitoramento no MIP

  • Precisão no controle: o monitoramento contínuo possibilita ações de controle mais direcionadas, aplicadas no momento certo, evitando intervenções generalizadas e desnecessárias.
  • Redução de custos: com a detecção precoce e o controle localizado, os custos com medidas de manejo são reduzidos, evitando perdas na produtividade e minimizando o impacto econômico.
  • Sustentabilidade: o monitoramento frequente permite uma ação mais equilibrada e sustentável, auxiliando na preservação dos inimigos naturais e no uso racional de recursos.
  • Prevenção de resistência: ao aplicar intervenções no momento adequado, o risco de seleção de pragas resistentes às medidas de controle é diminuído, possibilitando maior eficácia a longo prazo.

Uma vez realizado corretamente o monitoramento, o produtor tem a disposição diferentes métodos de controle.

Tipos de controle no MIP

Controle cultural

O controle cultural envolve práticas agrícolas que modificam o ambiente para torná-lo menos favorável ao desenvolvimento de pragas. Essas práticas são preventivas e buscam reduzir as condições que favorecem a infestação, promovendo o fortalecimento das plantas e a redução da pressão de pragas.

Entre as principais práticas de controle cultural, podemos citar:

  1. poda e desbaste;
  2. limpeza do pomar;
  3. adubação e irrigação adequadas.

Controle biológico

Esse controle utiliza organismos naturais, como predadores, parasitoides e patógenos, para reduzir as populações de pragas de forma natural e sustentável. Essa técnica é uma ferramenta essencial no MIP, pois promove o equilíbrio ecológico.

Os principais métodos de controle biológico incluem:

  1. predadores naturais;
  2. parasitoides;
  3. organismos patogênicos das pragas;
  4. conservação de inimigos naturais.

Controle químico

O controle químico no MIP é utilizado de forma estratégica e quando necessário, baseado no monitoramento e nos níveis de infestação da praga. O uso de inseticidas é uma das ferramentas mais comuns, mas sua aplicação deve ser bem planejada para evitar a seleção de pragas resistentes aos mecanismos de ação. 

As principais práticas de controle químico são:

  1. aplicação seletiva de inseticidas;
  2. uso de iscas tóxicas;
  3. rotação de princípios ativos;
  4. aplicação localizada.

A integração dessas estratégias possibilita o equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade, permitindo que as pragas sejam mantidas sob controle, enquanto se preserva o ambiente e a viabilidade econômica da citricultura a longo prazo.

Sanidade e sustentabilidade na citricultura

O sucesso da citricultura depende diretamente da capacidade de manejar de forma eficaz as pragas que ameaçam a produção. A adoção do MIP se mostra como uma ferramenta estratégica, sustentável e eficiente para proteger os pomares, minimizando os impactos ambientais e maximizando a produtividade. 

A integração dos métodos de controle cultural, biológico e químico, aliada ao monitoramento constante, garante que as ações de controle sejam aplicadas no momento correto, evitando danos econômicos e promovendo o equilíbrio no ecossistema agrícola.

O manejo integrado não só protege a produção atual, mas também contribui para a longevidade e viabilidade da citricultura no Brasil, permitindo que os pomares possam continuar a gerar frutos de qualidade e fortalecer o setor no mercado global.