A mancha-aureolada no café, causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae, é uma doença que vem preocupando cada vez mais os cafeicultores brasileiros. Conhecida por causar danos significativos às lavouras, essa doença pode comprometer a produtividade e a qualidade dos grãos de café, levando a prejuízos econômicos consideráveis. 

Embora não seja nova, sua incidência tem aumentado nos últimos anos, exigindo maior atenção e adoção de estratégias de controle por parte dos produtores.

Neste artigo, exploraremos os principais sintomas da mancha-aureolada, as condições favoráveis ao seu desenvolvimento e as medidas de manejo adotadas pelos cafeicultores para mitigar seus impactos.

Além disso, falaremos dos métodos de controle disponíveis e da importância de um manejo integrado para o sucesso no combate a essa doença.

O cenário da mancha-aureolada no Brasil

A cafeicultura é uma das principais atividades agrícolas do Brasil, país que se destaca como maior produtor e exportador mundial de café. No entanto, o setor enfrenta desafios constantes, como pragas e doenças que afetam a produtividade dos cultivos.

A mancha-aureolada, apesar de já conhecida, tem ganhado destaque nos últimos anos devido ao aumento da sua incidência, especialmente em regiões de clima mais favorável ao desenvolvimento da bactéria.

Essa doença bacteriana foi registrada pela primeira vez no Brasil na década de 1950 e, desde então, tem sido uma preocupação recorrente. Os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, grandes produtores de café, têm apresentado surtos mais frequentes, exigindo uma maior atenção dos produtores.

Sintomas da mancha-aureolada nas plantas de café

Os sintomas da mancha-aureolada podem ser observados nas folhas, nos ramos e nos frutos da planta de café. 

Nas folhas, o sintoma característico é a presença de manchas escuras cercadas por uma auréola amarelada, que dá nome à doença. No entanto, nem sempre esse halo amarelado está presente. Normalmente, essas manchas escuras costumam aparecer nas margens do limbo foliar. 

Essas manchas podem coalescer, levando à necrose de grandes áreas foliares, o que resulta na queda prematura das folhas e na redução da capacidade fotossintética da planta.

Nos ramos, observa-se o escurecimento dos tecidos, com o surgimento de lesões que podem levar à seca de galhos inteiros. Além disso, a doença causa queda dos botões florais e dos frutos chumbinhos, reduzindo a produtividade. 

A queda prematura das folhas e a morte de ramos são fatores que impactam diretamente na produtividade, reduzindo o potencial de colheita. 

Isso se traduz em perdas significativas para os cafeicultores que, além de verem sua produção reduzida, enfrentam dificuldades na comercialização do produto devido à queda na qualidade dos grãos.

Características da Pseudomonas syringae pv. garcae

A Pseudomonas syringae pv. garcae é uma bactéria que se adapta bem a condições de clima ameno e úmido, características comuns em várias regiões produtoras de café no Brasil. 

Seu ciclo de vida é fortemente influenciado por fatores climáticos, com períodos de maior atividade em estações chuvosas ou com alta umidade relativa do ar.

Durante períodos de chuva ou com o aumento da umidade, a bactéria pode ser disseminada por respingos de água, pelo vento e até mesmo por práticas culturais, como a poda e o manejo inadequado das plantas.

Após o contato com tecidos vegetais suscetíveis, a bactéria entra na planta por ferimentos naturais ou provocados por fatores externos, como a poda, chuva de granizo ou danos causados por insetos. Uma vez dentro do tecido vegetal, ela se multiplica rapidamente, bloqueando o transporte de nutrientes e provocando os sintomas característicos da doença.

Essas características e informações são essenciais para que não se confunda a mancha-aureolada com outras doenças foliares similares, como a cercosporiose.

Diferenças entre a mancha-aureolada e a cercosporiose

A cercosporiose, também conhecida como mancha-de-olho-pardo, é causada pelo fungo Cercospora coffeicola

Para diferenciar os sintomas da cercosporiose e da mancha-aureolada, é essencial observar os ramos e as características das manchas nas folhas. A mancha-aureolada afeta os ramos, causando a seca, enquanto a cercosporiose se manifesta principalmente nas folhas e nos frutos.

Embora ambas as doenças apresentem manchas com um halo amarelado ao redor, o que pode gerar confusão, há uma distinção clara entre elas. Na cercosporiose, as manchas possuem uma coloração marrom-escura com o centro da lesão em tom cinza-claro, enquanto a mancha-aureolada exibe manchas mais escuras, sem essa característica central cinza.

A simples diferenciação entre as doenças é o primeiro passo para a adoção de medidas de controle adequadas e, nesse contexto, o Manejo Integrado de Doenças (MID) torna-se fundamental para o controle da mancha-aureolada. 

Estratégias de controle da mancha-aureolada

Diante dos desafios impostos pela mancha-aureolada, os produtores de café têm adotado um conjunto de estratégias para controlar a doença e minimizar seus impactos. O MID é uma técnica que combina diferentes métodos de controle, buscando reduzir a incidência da bactéria e os danos causados por ela.

Monitoramento e identificação

Um dos pilares do MID é o monitoramento constante das plantações. Identificar precocemente os primeiros sintomas da mancha-aureolada é essencial para que medidas de controle sejam adotadas antes que a doença se espalhe e cause danos irreversíveis à plantação.

Os cafeicultores devem inspecionar suas áreas regularmente, especialmente em períodos de maior umidade e durante a estação chuvosa. A identificação correta da doença, diferenciando-a de outros problemas fitossanitários, é crucial para a adoção das estratégias de manejo adequadas. 

Controle cultural

O controle cultural é uma das primeiras linhas de defesa contra a mancha-aureolada. Esse método envolve a adoção de práticas agrícolas que visam reduzir a incidência da bactéria e criar um ambiente menos favorável ao seu desenvolvimento. Entre as principais práticas culturais, destacam-se:

  • poda sanitária: a remoção de ramos e folhas infectadas reduz a quantidade de inóculo presente na área, diminuindo as chances de disseminação da bactéria. A poda deve ser feita em períodos secos para evitar a entrada da bactéria em ferimentos recentes.
  • espaçamento adequado: a manutenção de um espaçamento adequado entre as plantas permite uma melhor circulação de ar, o que ajuda a reduzir a umidade nas folhas e dificulta o desenvolvimento da bactéria.
  • uso de variedades tolerantes: a adoção de cultivares de café mais resistentes à mancha-aureolada é uma estratégia importante para reduzir a incidência da doença. Embora nenhuma variedade seja completamente imune, algumas possuem maior tolerância à infecção.

Controle biológico

O controle biológico, embora ainda seja uma área em desenvolvimento para o combate da mancha-aureolada, tem mostrado potencial em alguns estudos. Ele envolve o uso de microrganismos benéficos que competem com a Pseudomonas syringae ou que produzem substâncias capazes de inibir seu crescimento.

Diferentes bactérias têm sido testadas em várias culturas com resultados promissores. O uso de agentes biológicos oferece uma alternativa sustentável e de baixo impacto ambiental. 

No entanto, sua adoção em condições de campo e em larga escala ainda requer mais pesquisas e validação de campo para garantir sua eficácia no controle da mancha-aureolada.

Controle químico

O controle químico continua sendo uma ferramenta fundamental para o manejo da mancha-aureolada, especialmente em áreas onde a doença já está estabelecida e em condições climáticas favoráveis à sua disseminação.

Controle preventivo

A aplicação de defensivos de forma preventiva, ou seja, antes do surgimento dos sintomas, é uma estratégia eficaz para manter a população bacteriana sob controle. 

O controle preventivo é especialmente importante em períodos de maior umidade, como a primavera e o verão, quando as condições para a disseminação da doença são mais favoráveis. Aplicações regulares, seguindo as recomendações técnicas e respeitando os intervalos de segurança, garantem maior eficácia no controle.

Rotação de moléculas

Uma prática importante no manejo químico é a rotação de moléculas. O uso contínuo de um único princípio ativo pode levar à seleção de populações bacterianas resistentes, reduzindo a eficácia dos tratamentos. A rotação de diferentes grupos químicos ajuda a prevenir o surgimento de resistência e garante uma proteção mais duradoura.

É recomendável que os produtores alternem os produtos com outros princípios ativos, sempre respeitando as doses e os intervalos de aplicação recomendados pelos fabricantes e órgãos de controle fitossanitário.

Controle sustentável da mancha-aureolada

A mancha-aureolada no café é uma doença que exige atenção redobrada dos produtores, especialmente em regiões onde as condições climáticas favorecem seu desenvolvimento. 

O Manejo Integrado de Doenças, que combina controle cultural, biológico e químico, é a melhor estratégia para mitigar os impactos dessa doença e garantir a saúde e a produtividade dos cafezais.

O monitoramento constante, a identificação precoce e a aplicação de medidas preventivas são ações essenciais para o sucesso no combate à Pseudomonas syringae pv. garcae

Com uma estratégia equilibrada e integrada, os cafeicultores podem minimizar os danos causados pela mancha-aureolada e assegurar a sustentabilidade de suas lavouras.