O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Essa cadeia produtiva é  responsável por empregar milhares de pessoas no território brasileiro. 

No entanto, a cultura do café enfrenta diversos desafios, sendo a cigarra-do-cafeeiro uma das principais pragas que ameaça a sanidade das plantações e impacta a produtividade.

A cigarra-do-cafeeiro é uma praga significativa para a cultura do café no Brasil, sendo uma das principais ameaças às plantações devido ao seu impacto direto no sistema radicular das plantas. A incidência desse inseto pode resultar em grandes perdas econômicas para os produtores, especialmente em regiões onde as condições climáticas são favoráveis para sua proliferação. 

Neste artigo, vamos detalhar as características da cigarra-do-cafeeiro, os danos que ela causa e as principais estratégias de manejo adotadas pelos produtores para seu controle, com ênfase no Manejo Integrado de Pragas (MIP).

O cenário da cigarra-do-cafeeiro no Brasil

O Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por aproximadamente 30% da produção global. No entanto, a cigarra-do-cafeeiro tem se tornado uma ameaça crescente para as plantações, principalmente na região Sudeste, onde as condições climáticas e a abundância de alimento favorecem o desenvolvimento dessa praga.

A cigarra-do-cafeeiro possui um ciclo de vida que se estabelece em quatro principais fases: ovo, ninfa móvel, ninfa imóvel e adulto. As fases mais críticas para a cultura ocorrem quando as ninfas estão no solo, alimentando-se das raízes do cafeeiro.

Embora o impacto da praga varie conforme a densidade populacional e as condições do solo, é comum observar plantas com sintomas de murcha e enfraquecimento, comprometendo a produtividade do cafezal.

A incidência de cigarras é mais pronunciada em áreas nas quais o manejo cultural é deficiente, e a falta de monitoramento adequado agrava o problema, pois a praga, muitas vezes, passa despercebida até que os danos sejam severos.

Principais características da cigarra-do-cafeeiro para sua identificação

Identificar corretamente a cigarra-do-cafeeiro é essencial para que as medidas de controle sejam tomadas com eficácia. 

Os adultos da espécie Quesada gigas são relativamente grandes, medindo entre 5 e 7 cm de comprimento. Apresentam asas transparentes com nervuras escuras e seus corpos possuem uma coloração que varia entre o verde e o marrom, dependendo da fase de maturidade.

Uma das características mais marcantes dessa cigarra é o som estridente produzido pelos machos durante o período reprodutivo. Normalmente, os machos se espalham entre os cultivos nos meses de agosto, setembro e outubro. 

Esse canto é particularmente notável em áreas infestadas e serve como um indicativo da presença do inseto, embora a fase mais destrutiva ocorra enquanto as ninfas estão no solo, alimentando-se das raízes das plantas.

Os ovos esbranquiçados são depositados pelas fêmeas sob os ramos das árvores do cafeeiro. As ninfas, ao eclodirem, descem até o solo ao encontro das raízes.

Por passarem a maior parte do seu ciclo de vida no subsolo, são chamadas de ninfas móveis. Possuem um corpo de coloração clara, com aparência robusta, e são dificilmente visíveis a campo, a menos que se faça escavações no solo. 

Essa fase subterrânea é a mais prejudicial, pois as ninfas sugam a seiva das raízes do cafeeiro (floema), enfraquecendo a planta. Esse período pode durar até dois anos, resultando em severos danos à planta.

Após o período de alimentação, as fêmeas saem do solo e se fixam no tronco das árvores até a emergência dos adultos e, por isso, chamadas de ninfas imóveis.

Danos causados pela cigarra-do-cafeeiro no cafezal

Os danos causados pela cigarra-do-cafeeiro são significativos e podem resultar em perdas expressivas na produção de café, especialmente em áreas com altas infestações. 

O principal impacto ocorre nas raízes das plantas, onde as ninfas se alimentam da seiva, comprometendo o sistema radicular e, consequentemente, a saúde geral da planta.

Entre os principais sintomas da infestação, destacam-se:

  • amarelecimento e queda precoce das folhas: as folhas das plantas atacadas tendem a amarelar e apresentar regiões cloróticas, um sinal claro de deficiência nutricional. Além disso, as folhas acabam caindo antecipadamente.
  • redução no crescimento: a planta afetada cresce mais lentamente e observam-se sintomas de definhamento progressivo na parte aérea, ainda mais acentuados em momento de seca.
  • queda de produtividade: com raízes enfraquecidas, a planta não consegue sustentar a produção de frutos em níveis normais, levando à redução do rendimento do cultivo, ao comprometimento na granação dos frutos e à diminuição da vida útil do cafeeiro.

Esses sintomas, quando não detectados e tratados a tempo, podem levar à morte das plantas, o que representa um prejuízo ainda maior para o produtor, que terá de investir no replantio e no tempo necessário para que as novas mudas alcancem a idade produtiva.

Dessa forma, é extremamente importante que se faça um bom controle da praga, a fim de evitar danos que comprometam a qualidade e a produtividade das plantas.

Estratégias de controle da cigarra-do-cafeeiro

O controle da cigarra-do-cafeeiro exige uma estratégia integrada, combinando diferentes métodos para reduzir a população da praga de forma eficaz e sustentável. 

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é amplamente utilizado como a melhor estratégia para controlar a cigarra-do-cafeeiro, priorizando o monitoramento constante e o uso de métodos de controle que minimizem impactos econômicos e sejam eficazes em diminuir a presença da praga.

Monitoramento e identificação

O monitoramento é a base para qualquer estratégia de controle eficiente. Para a cigarra-do-cafeeiro, isso significa acompanhar as áreas de plantio regularmente, principalmente durante os períodos mais críticos do ciclo da praga. 

Para um monitoramento eficiente das ninfas da cigarra, é importante que se abram trincheiras no solo próximas à raiz principal da planta, local que costuma estar a maior concentração de ninfas.

Uma vez identificada a praga, é importante avaliar o nível de infestação para determinar quais medidas de controle são necessárias. O manejo adequado só pode ser implementado após um diagnóstico preciso da situação.

A seguir, apresentaremos os diferentes tipos de controle disponíveis ao produtor.

Controle cultural

O controle cultural é uma estratégia de manejo que envolve práticas agrícolas para tornar o ambiente menos favorável ao desenvolvimento e à sobrevivência das pragas. 

No caso da cigarra-do-cafeeiro, o controle cultural busca interromper o ciclo de vida do inseto por meio de ações que dificultam o acesso a fontes de alimento e reduzem a população na área de maneira natural.

Um exemplo eficaz desse tipo de controle é o arranquio das plantas fortemente atacadas. Ao remover essas plantas, elimina-se a principal fonte de alimento das ninfas que estão no solo, causando sua morte por inanição. Essa prática também evita que a praga se espalhe para plantas saudáveis, ajudando a conter a infestação. 

Essas ações simples, mas eficazes, auxiliam no controle da população de cigarras como mais uma ferramenta a disposição do produtor, favorecendo um manejo sustentável das plantações.

Controle biológico

O controle biológico é uma opção sustentável que busca utilizar predadores naturais da cigarra para manter sua população sob controle. Embora ainda em fase de experimentação, os fungos entomopatogênicos podem ser uma boa opção no controle de ninfas, pois infectam e matam os insetos ainda na fase subterrânea.

Além disso, o controle biológico pode ser integrado a outras práticas de manejo, potencializando a redução da população de cigarras de maneira natural, garantindo maior sustentabilidade ao cultivo do café.

Controle químico

O controle químico é uma ferramenta importante dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e pode ser utilizado conjuntamente com as outras estratégias para manter a população da cigarra-do-cafeeiro sob controle. 

No entanto, para que essa prática seja eficaz e sustentável, é essencial seguir as recomendações técnicas referentes às doses corretas, aos momentos ideais de aplicação e aos intervalos entre as aplicações.

Aplicar os inseticidas no momento certo, especialmente quando as ninfas estão mais vulneráveis no solo, é crucial para maximizar a eficiência e reduzir os danos causados ao cafeeiro. 

Além disso, a rotação de moléculas é uma prática fundamental para evitar a seleção de cigarras resistentes aos produtos utilizados, mantendo a eficácia das tecnologias de controle químico por mais tempo.

Quando usado de maneira criteriosa e em conjunto com outras práticas do MIP, o controle químico se torna uma ferramenta valiosa para proteger a produção sem comprometer a sustentabilidade do cultivo.

Manejo integrado como solução para o controle da cigarra-do-cafeeiro

A cigarra-do-cafeeiro, embora invisível na maior parte do seu ciclo de vida, representa uma ameaça séria à produtividade do café no Brasil. O impacto causado pelas ninfas que se alimentam das raízes compromete a saúde das plantas e pode levar a perdas consideráveis na produção. 

Identificar a presença da praga nos momentos iniciais de infestação e implementar estratégias de controle adequadas é essencial para minimizar os danos e garantir a longevidade das plantações.

O sucesso no manejo da cigarra-do-cafeeiro depende da combinação de diferentes métodos, dentro de uma técnica integrada. O monitoramento regular, aliado a práticas de controle cultural, biológico e químico, oferece uma solução mais sustentável e eficiente para os cafeicultores. 

Assim, a adoção do Manejo Integrado de Pragas é fundamental para garantir uma produção mais equilibrada e economicamente viável. Seguir as orientações técnicas, investir em práticas de controle que respeitem o meio ambiente e estar sempre atento às condições climáticas são medidas que contribuem para o controle eficaz da cigarra-do-cafeeiro, preservando a rentabilidade e a sustentabilidade da cultura do café no Brasil.