Para se ter uma noção do prejuízo que os nematoides causam, em 2017 eles provocaram perdas econômicas estimadas em mais de R$ 35 bilhões no Brasil, de acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Nematologia, sendo R$ 16 bilhões somente na cultura da soja. Mas, por que esses intrusos continuam se alastrando cada vez mais pelas diversas regiões agrícolas do país?

Diferentemente de doenças, pragas ou plantas daninhas, cuja presença é facilmente visualizada, os nematoides têm tamanho microscópico, agem longe dos olhos humanos e, por isso, não são claramente percebidos. Os nematoides alimentam-se através da retirada de substâncias nutritivas das plantas enquanto também injetam toxinas. Embora existam espécies de nematoides que parasitam a parte aérea das plantas, a grande maioria tem o sistema radicular como alvo principal do parasitismo.

Pelo fato de serem de difícil visualização ao olho humano, e por estarem abaixo do nível do solo parasitando as raízes, muitos produtores e assistências técnicas têm dificuldade no diagnóstico do problema e, consequentemente, na adoção de práticas assertivas de manejo. É comum que os sintomas de nematoides nas plantas sejam confundidos com outras causas, como compactação de solo, deficiência nutricional, manchas de depósito de calcário, entre outras, induzindo produtores e assistências técnicas a negligenciarem a gravidade do problema.

No Brasil, as espécies que causam maiores danos são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Heterodera glycines e Pratylenchus.

Em áreas de cultivo de soja, milho e algodão que possuem a presença de nematoides, é comum encontrar reboleiras com plantas atrofiadas e cloróticas (amareladas), indicando alguma anormalidade no desenvolvimento destas plantas. Já que parasitam raízes, a redução de produtividade na cultura é inevitável, em decorrência da dificuldade na absorção de água e nutrientes pelas plantas. Nas áreas de populações muito elevadas, pode até haver a morte de plantas atacadas por uma das espécies da praga.

Para espécies do gênero Meloidogyne, é comum a formação de galhas no sistema radicular da soja. Em áreas com a presença de nematoide de cisto (Heterodera glycines), as raízes e a nodulação são reduzidas e é possível observar a presença de fêmeas (cistos) de coloração amarelada nestas raízes. As plantas parasitadas pelos nematoide das lesões (Pratylenchus brachyurus) possuem lesões escuras em suas raízes, sendo comum a associação desse nematoide com fungos de solo, principalmente do gênero Fusarium.

Uma vez presente na lavoura, a eliminação do nematoide é inviável e, por isso, o seu manejo baseia-se na convivência com a praga. Todas as estratégias de manejo são voltadas para reduzir a população do nematoide de forma que essa não atinja níveis populacionais que possam ocasionar prejuízos às culturas.

Embora o cenário venha mudando, ainda é preciso melhorar o conhecimento a respeito de nematoides e suas formas de controle. Pode parecer complicado, porém existem algumas maneiras de detectar a presença desses parasitas indesejados. Entre elas:

– Procure identificar a presença de reboleiras durante o ciclo da cultura; se estiver na dúvida, colete uma amostra de solo e raízes das reboleiras e mande analisar em um laboratório de nematologia para confirmação da causa.

– Durante o ciclo, observe áreas do talhão com baixo desenvolvimento das plantas e compare com plantas normais. Converse sobre os sintomas com a assistência técnica.

– Mesmo que não haja características aparentes, é recomendável se atentar também aos talhões de baixa produtividade.

– Nematoides podem ser transportados facilmente por máquinas e equipamentos. Se possível, realize a limpeza destes maquinários oriundos de áreas infestadas por eles.

Para manejá-los, é recomendável a adoção de várias medidas em conjunto, tais como o uso de cultivares resistentes (se disponíveis), rotação e/ou sucessão de culturas com plantas não hospedeiras e, principalmente, a utilização de nematicidas químicos e biológicos no tratamento de sementes.

Como vimos, nematoides são pragas microscópicas e de ampla distribuição nas lavouras e, apesar do elevado prejuízo que trazem aos sojicultores, atualmente ainda passam despercebidos por muitos deles, sendo necessária uma mudança na forma de se identificar e combater o problema.